Com mais pessoas cozinhando e utilizando com frequência o álcool para higienização, número de acidentes por queimaduras tende a aumentar. Saiba como proceder nesses casos e quais os tratamentos disponíveis para esse tipo de ferimento
Como estamos passando mais tempo em casa devido ao isolamento social em meio à pandemia do Coronavírus, acabamos preparando nossas próprias refeições. Nesse período, até mesmo aqueles que não tem o costume de cozinhar estão se aventurando no fogão.
“Preparar refeições caseiras é uma ótima maneira de passar o tempo e ainda conquistar um estilo de vida saudável. O problema é que, com mais pessoas indo para a cozinha preparar suas refeições, maior é o número de casos de acidentes domésticos, como queimaduras. Para se ter uma ideia, nesse período de quarentena realizei mais atendimentos relacionados a acidentes domésticos do que o normal”, afirma a Dra. Beatriz Lassance, cirurgiã plástica e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).
Entre os acidentes domésticos mais comuns estão as queimaduras, que afetam um milhão de pessoas todos os anos. E o risco desse tipo de ferimento é ainda maior nesse período de pandemia de Coronavírus, pois utilizamos com mais frequência o álcool, tanto em gel quanto líquido, que é altamente inflamável. Dessa forma, para prevenir grandes sequelas, é fundamental entender o que são as queimaduras e o que fazer quando esse tipo de acidente ocorre.
Primeiro, é importante entender que nem toda queimadura é igual. Queimaduras de 1º grau, por exemplo, são mais superficiais, pois envolvem apenas a epiderme e caracterizam-se por vermelhidão e dor sem bolhas, sendo que geralmente não deixam sequelas.
“Já as queimaduras de 2º grau chegam até a derme, podendo até destruí-la completamente. Caso só atinjam a porção mais superficial da derme, os sintomas são os mesmos da queimadura de 1º grau, mas com o aparecimento de bolhas”, explica a dermatologista Dra. Claudia Marçal, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Porém, quando a queimadura de 2º grau é muito profunda, é preciso maior atenção, pois o caso é grave e se assemelha a queimadura de 3º grau, que, além de acometer toda a derme, atinge também os tecidos subcutâneos, destruindo nervos, pelos, glândulas sudoríparas e até mesmo músculos.
“Os resultados são lesões acinzentadas, indolores, secas e deformadas. Esses são os tipos mais graves de queimaduras e, dependendo de sua gravidade e extensão, podem causar até mesmo morte”, diz a especialista.
Então, para prevenir esse tipo de acidente, a primeira providência que você deve tomar é proibir o uso de álcool na cozinha. “A limpeza das mãos na cozinha pode ser feita com água e detergente. Já para limpar o ambiente prefira produtos desengordurantes específicos para a higienização do local”, ressalta a Dra. Beatriz Lassance.
Porém, caso você sofra com queimaduras, é importante que você coloque a região sob água corrente ou envolva com um pano limpo umedecido em água fria. “Com isso, além de diminuir a dor, você cortará o calor residual, que pode continuar a causar danos mesmo após a interrupção do contato com o agente causador”, explica. “Evite nesse momento qualquer tipo de receita caseira para amenizar a lesão, como aplicação de creme dental ou manteiga, pois essas substâncias não ajudam no tratamento e ainda podem dificultar a cicatrização e causar infecções”.
Em seguida, é fundamental que você entre em contato com seu médico. “Você pode ligar para seu cirurgião plástico de confiança, que, em muitos casos, pode te encaminhar para o hospital sem a necessidade de passar pelo pronto socorro, que está focado no combate ao Coronavirus”, recomenda a Dra. Beatriz. “A maioria dos pequenos acidentes podem ser resolvidos em consultório, mas é muito importante que nenhum tipo de remédio seja administrado até o momento do atendimento médico, já que apenas ele poderá indicar o tratamento correto de acordo com o grau e a gravidade da queimadura”.
Geralmente, o tratamento das queimaduras inicia-se com a limpeza do ferimento e a aplicação de um creme antibiótico para evitar infecções. “Em casos mais leves, o médico poderá aplicar também medicamentos tópicos calmantes e recomendar o uso de hidratantes para dar fim à desidratação que a queimadura causa no tecido”, destaca a Dra. Claudia Marçal.
Já em casos mais graves, cirurgias de enxertia de pele podem ser necessárias. “Esse procedimento consiste na cobertura da área lesionada com pele saudável retirada de outra parte do corpo, geralmente da coxa”, afirma o cirurgião plástico Dr. Paolo Rubez, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e mestre em Cirurgia Plástica pela UNIFESP. Após a cirurgia, o uso de malhas compressivas é recomendado para que a pele possa se regenerar com menos cicatrizes.
Porém, mesmo após o devido tratamento e cicatrização das queimaduras, o acompanhamento com o paciente deve continuar, pois as cicatrizes podem causar grande desconforto estético, além de comprometerem o movimento das articulações quando surgem em região de dobra.
“As cicatrizes variam de acordo com o grau da queimadura. Dessa forma, os tratamentos para as cicatrizes também podem variar. As alterações mais superficiais e que não causam grande comprometimento funcional, por exemplo, podem ser tratadas através de técnicas como microagulhamento, peeling e microdermoabrasão, que estimulam a pele a se regenerar novamente”, diz a Dra. Claudia Marçal.
Já em casos de queimaduras mais agressivas, como de 2º e 3º grau, a cirurgia plástica reparadora é a melhor alternativa. “Nesses casos, também utilizamos o enxerto de pele para melhorar a aparência das cicatrizes. Porém, é importante que o paciente tenha em mente que essa melhora é apenas parcial, principalmente nos casos de queimadura de 3º grau”, ressalta o Dr. Paolo Rubez.
Dessa forma, o mais importante é que o paciente com queimaduras continue a consultar o médico mesmo após o tratamento e cicatrização das queimaduras. “Apenas ele poderá avaliar o estado da pele e indicar os tratamentos, medicamentos e cuidados que podem melhorar sua aparência, podendo até mesmo recomendar acompanhamento estético para ajudar na superação do desconforto que as alterações causam”, finaliza o cirurgião.
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