Dois Patrões - A comédia das comédias ganha versão brasileira

Foto - Priscila Prade

A nova versão, d
irigida por Neyde Veneziano e Giovani Tozi, é ambientada em uma festa de noivado organizada por um bicheiro poderoso

O ano de 2006 marcou o encontro de dois artistas de forma definitiva. Neyde Veneziano abria testes para seu novo espetáculo Arlequim e Seus Dois Patrões, e um jovem chamado Giovani Tozi, então bailarino e estudante de teatro, tentava o primeiro trabalho no teatro profissional. O teste deu certo. A estreia aconteceu pelas mãos de uma das diretoras mais importantes quando o assunto é teatro popular e, em especial, a Commedia Dell’Arte.

Para celebrar vinte anos desde esse primeiro encontro, Tozi e Veneziano retornam ao título que os aproximou. Dividem a direção e a nova montagem de Il servitore di due padroni, de Carlo Goldoni, estreia no dia 16 de janeiro de 2026, no Teatro Itália, com tradução de Neyde Veneziano e adaptação de Giovani Tozi. A dramaturgia mantém o enredo central e os arquétipos fundamentais, como Pantaleão, Doutor e Arlequim, mas desloca tudo para uma atmosfera contemporânea, brasileira e urbana.

Segundo Tozi, o ponto de partida da adaptação foi o conceito das máscaras da Commedia Dell’Arte: “elas não representam animais ao pé da letra, mas carregam traços animalizados que indicam instinto, energia e função social. A partir dessa lógica, surgiu a associação com algo profundamente brasileiro, popular e simbólico: o jogo do bicho. Essa aproximação me abriu portas para uma leitura atualizada das figuras clássicas”.

Foto - Priscila Prade

“A adaptação do Giovani ficou genial, maravilhosa”, pontua Neyde, que acolheu a sugestão de Tozi para dirigirem a quatro mãos. “Com texto extenso, elenco de 10 atores e várias cenas, a dinâmica de dois encenadores resolveu a questão de aproveitar melhor o pouco tempo disponível dos ensaios até a estreia”, conta.

Na divisão de tarefas, Neyde procura ambientar o elenco no cenário e dá atenção à composição física das personagens, especialmente na transposição da dramaturgia para a atualidade, já que o espetáculo se passa em 2025. Tozi cuida de deixar o elenco pronto em aquecimentos e leituras, além de dar foco nas intenções, em como eles devem se expressar.

Versão brasileira tem bicheiro e social media

Foto - Priscila Prade

Nesta versão, Pantaleão é um bicheiro que deseja casar a filha para estabilizar (e lucrar) a divisão de territórios vizinhos. O Doutor segue advogando, mas agora presta serviço para os bicheiros que aumentam sua fortuna. A história inteira acontece dentro de uma festa de noivado que nunca termina, um ambiente onde todos parecem ser inimigos do fim.

O clima mistura o absurdo de Buñuel em O Anjo Exterminador com a lógica caótica e sedutora de Vale o Escrito. O resultado é uma comédia de ritmo acelerado, com linguagem de 2025, que respeita a tradição da Commedia Dell’Arte ao mesmo tempo em que a reinventa dentro da realidade social brasileira vibrante, contraditória, perigosa e irresistivelmente cômica.

Na versão que estreia em janeiro no Teatro Itália, a trama ganha novos contornos e personagens inseridos no universo brasileiro de 2025. O Arlequim de Goldoni se transforma em Tico Sorriso, vivido por Felipe Hintze. Além de carnavalesco de uma escola de samba de quarta divisão, Tico é um PJ que acumula empregos para conseguir pagar as contas no fim do mês.

Esmeraldina, interpretada por Mila Ribeiro, torna-se assessora e social media de Clarice Lombardi, personagem de Camilla Camargo, que está decidida a assumir os negócios da família assim que se casar com Silvio Salvatti. Silvio, interpretado por Marcus Veríssimo, é um playboy que vive à sombra do pai, o Doutor Salvatti, papel de Jonathas Joba, um advogado influente que, sempre que bebe, passa a falar em latim. Como ninguém para de beber na festa, suas conversas com Pantaleão Lombardi, vivido por Marcelo Lazzaratto, tornam-se cada vez mais confusas.

DJ em cena

Foto - Priscila Prade

A história se embaralha de vez quando Beatriz Rasponi, interpretada por Larissa Ferrara, aparece vestida como o próprio irmão, Frederico Rasponi, para tentar recuperar o dinheiro que ele havia deixado escondido com Pantaleão. Como esse irmão tinha um casamento arranjado com Clarice, Frederico precisa sustentar a farsa e simular um interesse amoroso que nunca existiu.

O sedutor e esforçado Luca Aretusi, personagem de Gabriel Santana, casado com Beatriz, é o principal suspeito do assassinato do cunhado e surge em busca da esposa desaparecida. Para tentar ajudá-lo, ou complicar ainda mais a situação, entra em cena Briguela, interpretado por Gabriel Ferrara, dono do Hotel Goldoni Palace e responsável por receber todos e manter a festa funcionando. Essa celebração interminável é embalada pela música original, e ao vivo, de Nando Pradho, que dita o ritmo dessa comemoração que simplesmente se recusa a acabar.

O encontro de Veneziano-Tozi e o clássico

Foto - Priscila Prade

“Naquele ano em que fui chamada para dirigir um espetáculo no Hopi Hari, o parque temático estava em seu auge, vivia um período áureo de produções, além de estar localizado numa região próxima à Unicamp. Como eu ainda estava na universidade, convidei vários atores de lá para fazerem o teste, além de abrirmos a oportunidade para outros estudantes. De repente, Giovani me encantou: uma cara boa para viver um dos tipos, sensibilidade, um menino gentil, talentoso e disponível para trabalhar. Adaptei a peça e montei com máscaras para deixar o espetáculo mais leve e bonito. Foi assim: aquele ator coube muito bem no personagem escolhido para ele, o enamorado”.

Arlequim, Servidor de dois Amos, de Carlo Goldoni, estreou em 1745 em Milão. A peça marcou uma revolução estética no teatro europeu, pois transformou a Commedia Dell’Arte improvisada em uma comédia escrita, estruturada em texto dramático, sem perder o humor popular e a vitalidade dos tipos tradicionais.

Ficha técnica
Dois Patrões
Direção - Neyde Veneziano e Giovani Tozi
Texto - Carlo Goldoni
Tradução - Neyde Veneziano
Adaptação - Giovani Tozi
Elenco - Camilla Camargo, Felipe Hintze, Gabriel Ferrara, Gabriel Santana, Larissa Ferrara, Jonathas Joba, Marcelo Lazzaratto, Marcus Veríssimo, Mila Ribeiro e Nando Pradho
Cenógrafo e Diretor de Arte Gráfica - Giovani Tozi
Design de Luz - Cesar Pivetti
Figurinista - Gi Marcondes
Trilha Sonora Original - Nando Pradho
Direção de Produção - Giovani Tozi
Produção Executiva - Thomas Marcondes
Assistente de Produção - Pedro Sousa
Design Gráfico - Gigi Prade
Fotografia - Priscila Prade
Vídeo - Luz Audiovisual
Redes Socais - André Massa
Assessoria de Imprensa - M Fernanda Teixeira e Maurício Barreira | Arteplural
Administração Financeira - Carlos Gustavo Poggio
Realização - Corpos Sensores Produtores Culturais

Serviço
Dois Patrões
Temporada - de 16 de janeiro até 01 de março de 2026
Horário - sextas e sábados, às 20h, domingo, às 18h
Duração - 100 minutos
Local - Teatro Itália
Endereço - Av. Ipiranga, 344 - República - São Paulo
Ingressos - 80,00 (inteira) e 40,00 (meia)
Venda de ingressos na bilheteria do teatro e online aqui
Classificação - 16 anos
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