Sampa ganha a Casa Farofa e mais uma edição da Farofa do Processo

Foto - Divulgação

Evento de artes cênicas, que acontece 
no Complexo Cultural Funarte, reúne mais de 60 trabalhos artísticos até o dia 23 de março

A Casa Farofa foi inaugurada durante a Farofa do Processo, que ocorre até o dia 23 de março e nasce de um desejo de expansão da produtora Corpo Rastreado, de ter um local físico para ensaiar e testar espetáculos antes de suas estreias. A inauguração é fruto de um trabalho contínuo ao longo de 20 anos, comemorados em 2025 pela Corpo Rastreado, em constante diálogo com artistas, espaços, agentes e instituições.

Ao mesmo tempo, a Farofa do Processo chega à 9ª edição com uma novidade: a mostra agora ocupa o Complexo Cultural Funarte SP, que inclui quatro salas, um pátio interno e o Teatro de Arena Eugênio Kusnet. O evento gratuito acontece em paralelo à MITsp - Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, ambas ocorrem até dia 23 de março.

Este ano, o público poderá acompanhar na Farofa do Processo uma programação intensa e diversa, com mais de 60 processos artísticos, incluindo criações recentes e trabalhos em desenvolvimento. As sessões acontecem ao longo de todo o dia, distribuídas entre manhã, tarde e noite, das 11h às 22h. No total, são mais de 100 horas de atividades voltadas especialmente para o público adulto, oferecendo uma imersão extensa de diferentes linguagens e experimentações da cena artística contemporânea.

O evento foca sua atenção no que há de mais pulsante nos processos artísticos contemporâneos, incentivando o surgimento de novas formas de criação. Desde sua criação, a Farofa mantém uma programação dinâmica, sujeita a mudanças ao longo dos dias de atividades. Acompanhe todo o movimento dessa Farofa pelo Instagram (@faroffasp) e pelo site oficial (clique aqui).

Nesta edição da mostra, estão reunidos trabalhos de artistas como Yasmin Gomes (CE), Fábio Osório (BA), Hilton Cobra (RJ), Grupo Carmin (RN), HBLynda Morais (PE), Alexandre Américo (RN) e Wellington Gadelha (CE) e de Dudu Melo Pigmentar companhia (MG), além de Pepo & Tom, da Argentina. Para ampliar a experiência dos espectadores, ainda estão previstas rodas de conversa, bate-papos, encontros com programadores e mais. A ideia é aproveitar a oportunidade para debater questões relacionadas à criação, à distribuição, à circulação e à mediação das artes.

Espetáculos da Farofa do Processo

Cena do espetáculo Amores Q_______. Foto - Kalú Kariú

Dos cinco espetáculos que fazem parte da Farofa deste ano, quatro participaram da edição anterior, como processo. A exceção é Bola de Fogo, performance de Fábio Osório, estreada em 2017. Em Serra Pelada (estreia em 2025), de Alexandre Dal Farra, quatro caras viajam à Serra Pelada para entender o garimpo e acabam presos em um quarto de hotel.

Monga, de 2024, é o mais recente trabalho de Jéssica Teixeira. A atriz ocupa um cenário inspirado em um estúdio de fotografia, com luzes em movimento e banda ao vivo. Durante a performance, ela interage diretamente com o público, dançando, cantando e fazendo perguntas provocativas, gerando um desconforto psicológico com pitadas de humor nervoso.

Marina Esteves mostra ao público o espetáculo Magnólia, uma estreia de 2024 livremente inspirada no álbum A Tábua de Esmeralda de Jorge Ben Jor. Na história, a personagem-título é uma deusa astronauta que vive na dimensão azul e rosa por entre estrelas e cometas até encontrar um cavaleiro negro, São Jorge. Ele propõe a ela uma missão: descer para a Terra e experimentar o que é ser humana.

Cena de Magnólia. Foto - Noelia Najera

Amores Q_______, de 2025, é o espetáculo de dança da Núclea de PesquiZa Tranzborde selecionado para o evento. Entre fluxos de subjetividades e imaginários comuns à sociedade, os corpos deslizam em estados de sonho, delírio, prazer e sofrimento. Os espectros do amor exigem um mergulho mais profundo, mas também há a possibilidade de recriar onde se deseja mergulhar a partir de agora. A sociedade nos ensina a perseguir o amor, mas na ausência de suas definições mais concretas, seguimos insistindo nas possibilidades.

Fábio Osório Monteiro divide com o público a performance Bola de Fogo, na qual ele se veste como uma baiana, monta um tabuleiro de acarajé e cozinha enquanto conta uma história que mescla sua vida com os mitos e itãs de matrizes africanas.

Alguns dos processos artísticos na Farofa de 2025

Serra Pelada. Foto - Mayra Azzi

Livremente inspirado em A Gaivota, de Anton Tchekhov, Horizonte de Eventos, do Coletivo Inominável, fundado em 2015 com o intuito de pesquisar e borrar os limites entre palco e plateia, leva os espectadores a uma grande festa. Durante 40 minutos, todos são convidados a dançar sem parar. Mas, afinal, as pessoas estão felizes ou apenas têm medo de parar e ouvir o silêncio? Trata-se de uma comédia sobre amor, teatro e morte.

Em Alegre mas Cansada, o Grupo Claricena - fundado em 2013, na Universidade Federal de Alagoas - decidiu investigar procedimentos de teatro a partir da vida e da obra de Clarice Lispector. O coletivo se debruçou sobre a entrevista que a escritora concedeu para o programa Panorama, da TV Cultura.

Inspirado pelas reflexões do sociólogo Jessé de Souza sobre a classe média, o Grupo Carmin, de Natal, no Rio Grande do Norte, está construindo Gente de Classe. Na trama, uma família endividada, mas que mantém as aparências, vive em um condomínio onde todos os conflitos acontecem.

Luiz Fernando Marques divide com a plateia o processo de construção de Um Clássico: Matou a Família e Foi ao Cinema, que reflete sobre a questão da homoafetividade no Brasil a partir do longa Matou a Família e Foi ao Cinema (Júlio Bressane, 1969) e do curta-metragem Um Clássico, Dois em Casa e Nenhum Jogo (Djalma Limongi, 1968). O diretor pesquisa como a presença do público, tanto no teatro quanto no cinema, pode transformar a obra de arte.

Foto - Lubi Marques

Ronaldo Serruya apresenta o processo criativo para Chechênia, trabalho que aborda a homofobia institucional e dá continuidade à sua pesquisa sobre a linguagem de peça palestra. O artista parte de um substrato jornalístico, que é a existência de campos prisionais para homossexuais em pleno século 21, da República da Chechênia.

Silvana Marcondes e Urga Maira utilizam a linguagem do teatro de sombras para contar uma história indígena em Como Surgiu a Noite - Uma História Munduruku. Na narrativa, toda musical, um curumim vive uma aventura na floresta em busca da noite, já que na sua aldeia só tem sol e claridade.

Renata Carvalho dirige e assina a dramaturgia de dois trabalhos. Em Antígona Travesti, releitura do clássico de Sófocles, aborda o assassinato de Polinice, uma travesti de 23 anos, em uma Tebas autoritária. O texto, estreado em Roma, denuncia o conservadorismo e ataques aos direitos trans. Carvalho interpreta Antígona, acompanhada por um coro de sete travestis e mulheres trans. Já Diamba, inspirado na HQ de Daniel Paiva, retrata a chegada da cannabis ao Brasil e sua proibição ligada ao racismo estrutural. Com músicas originais, traz Luis Navarro, Danilo de Moura, Timm Arif e Wesley Guimarães no elenco. A estreia foi na Expo Cannabis Brasil.

Carcaça das Emas, escrito por Luiz Marfuz, é um processo artístico em desenvolvimento, dirigido por Onisajé, com quem Hilton Cobra já esteve em Traga-Me a Cabeça de Lima Barreto, também escrito por Marfuz. A obra coloca a personagem em uma encruzilhada, observando pássaros, até ser violentamente abordada pela polícia. Sobrevivendo, ela reflete sobre questões raciais, tensionando a arte de matriz africana e eurocêntrica. A estética se ancora na cultura contemporânea afrodiásporica, influenciando visagismo, vestuário e espaço. A performance será construída em microcenas, cada uma com uma abordagem diferente de corpo e voz. Basquiat e Baldwin são referências que alimentam a pesquisa feita pela equipe criativa.

O processo Elisa em Fuga dá continuidade a uma pesquisa iniciada pela Sociedade Arminda em 2023, com Ensaio Sobre o Terror, baseado no conto Pai Contra Mãe, de Machado de Assis. Agora, o coletivo se volta novamente para Assis, mas desta vez com foco em Virgínius, um conto que aborda a morte de uma menina negra. Neste novo trabalho, a ideia é explorar as possibilidades e as estratégias para a fuga - mas a fuga antes que a catástrofe se instaure. A grade de programação completa da programação da 9ª edição da Farofa do Processo, de 2025, está disponível em aqui.

Casa Farofa

Foto - Divulgação

Quem reacende e revigora o icônico endereço da Rua Treze de Maio, 240, Bixiga, é a produtora Gabi Gonçalves, à frente da Corpo Rastreado, que em 2025 completa 20 anos de atividades ininterruptas nas artes cênicas. Sobre o local, ela pontua sobre sua importância: “eu vi, naquele lugar, que a dança poderia ser muito mais acessível do que era a do balé clássico. Foi uma mudança de paradigma, um divisor de olhares. Um movimento muito importante para aquele momento da dança em São Paulo. Então, depois de 20 anos de trabalho continuado da Corpo Rastreado faz todo o sentido voltar para lá.”, explica Gabi Gonçalves, uma das idealizadoras do movimento Farofa e da Corpo Rastreado.

Gabi planeja que o local se transforme num centro de pesquisa de produção. Para se ter uma ideia, em números: em 2024, a Corpo Rastreado fez mais de 1240 atividades, para um público de quase 95.000 pessoas, dentro e fora do país. Os projetos ligados ao coletivo passaram por 12 países e mais de 60 cidades, com 44 artistas e grupos envolvidos. Foram 46 festivais e pelo menos 154 espaços culturais diferentes, tudo isso só no ano passado.

Serviço

Mostra Farofa do Processo
Período - até 23 de março de 2025
Horário - das 11h às 22h
Locais
Complexo Cultural Funarte SP
Endereço - Alameda Nothmann, 1058 - Campos Elíseos - São Paulo
Teatro de Arena Eugênio Kusnet
Endereço - Rua Dr. Teodoro Baima, 94 - Vila Buarque - São Paulo
Gratuito
Ingressos distribuídos uma hora antes das apresentações
Informações e programação completa no site aqui e no Instagram aqui

Casa Farofa
Endereço - Rua Treze de Maio, 240 - Bixiga - São Paulo

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