Longa Encontro com o Ditador estreia nas telonas brasileiras


Com distribuição nacional da Pandora Filmes, o representante do Camboja ao Oscar de 2025 traz uma sombria história real

Novo longa-metragem do cineasta cambojano Rithy Panh, Encontro com o Ditador, traz uma abordagem impactante e visceral sobre um dos períodos mais sombrios da história recente: o regime do Khmer Vermelho no Camboja, liderado pelo infame ditador Pol Pot. Distribuído pela Pandora Filmes, o longa estreia nesta quinta-feira, dia 02 de janeiro, nas seguintes praças: Belo Horizonte, Brasília, Florianópolis, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro, Salvador, São José dos Campos e São Paulo.

Rithy Panh dedicou sua vida a contar a história de seu país, abordando, em cada um de seus filmes, diferentes aspectos do Camboja e de sua complexa trajetória. Além da indicação ao Oscar, Pahn recebeu o prêmio de Un Certain Regard em Cannes por A Imagem que Falta e, há dois anos, o Urso de Ouro de melhor contribuição artística por Everything will be ok.


Em Encontro com o Ditador o diretor mergulha nas profundezas da tragédia humana e apresenta um retrato íntimo e perturbador dos horrores vividos pela população cambojana entre 1975 e 1979, quando cerca de 1,7 milhão de pessoas foram exterminadas em um genocídio implacável. Baseado em uma história real, o filme acompanha três jornalistas franceses convidados a viajar para o Camboja em 1977 para um encontro com Pol Pot, o responsável por orquestrar um dos maiores crimes contra a humanidade do século XX.

O país parece em ordem mas, por trás da Aldeia Potemkin, o regime do Khmer Vermelho está em declínio e a guerra com o Vietnam ameaça invadir o país. O regime procura culpados, realizando secretamente um genocídio em grande escala. Sob os olhos dos jornalistas, a bela imagem se esvai, revelando um grande horror e transformando sua jornada progressivamente em um pesadelo.


O filme estreou no Festival de Cannes 2024, onde obteve ótima repercussão, destacando-se pela forma como explora a psique humana. Em vez de apenas rememorar fatos trágicos, o longa mergulha nas reações emocionais e psicológicas dos jornalistas, expondo a complexidade de conviver com a culpa, a negação e a barbárie. O filme é livremente inspirado no relato da jornalista Elizabeth Becker no livro When The War Was Over.

O que torna o filme uma experiência cinematográfica tão poderosa não é apenas o seu conteúdo histórico, mas a forma como o diretor consegue explorar a psique humana. Ao invés de apenas rememorar os fatos trágicos, o longa mergulha nas reações emocionais e psicológicas dos jornalistas, ao tentar entender não só o regime de Pol Pot, mas o próprio processo de convivência com a culpa, a negação e a barbárie.


A fotografia do filme contribui significativamente para a imersão do público na narrativa. As paisagens áridas e devastadas do Camboja servem como um reflexo visual do vazio deixado pelo genocídio, criando um contraste poderoso com os diálogos tensos entre os personagens. Cada cena é carregada de simbolismo, e a direção de arte utiliza os cenários para lembrar constantemente os espectadores das cicatrizes profundas deixadas pela guerra e pela violência.

O roteiro é uma obra de sensibilidade e profundidade, onde a moralidade não é simples e os sentimentos de justiça e vingança se entrelaçam com o medo e a curiosidade. A obra revela não apenas o quanto a tragédia cambojana impactou o país, mas também coloca os espectadores em uma posição desconfortável: como reagir diante de uma figura como Pol Pot, que não se arrepende de suas ações? É uma reflexão sobre o mal, a responsabilidade e a dificuldade de lidar com a história de um modo que não seja puramente punitivo.


O longa não oferece soluções fáceis ou respostas definitivas. Ao invés disso, o filme convida a refletir sobre a natureza do poder, da memória e da justiça. Ao explorar a face de um dos maiores monstros do século XX, a produção encara o mal em sua forma mais pura, sem aditivos ou ilusões. Mais do que uma história sobre o passado, é um lembrete urgente de que a luta contra as atrocidades não é apenas um desafio do passado, mas uma responsabilidade contínua, que deve ser lembrada para que não se repita.

Sinopse

1978. Durante três anos, o Camboja esteve sob o jugo do revolucionário Pol Pot e do seu Khmer Vermelho. O país está economicamente devastado e quase dois milhões de cambojanos morreram num genocídio que permanece silencioso. Três franceses aceitaram o convite do regime e esperam obter uma entrevista exclusiva com Pol Pot. Eles são uma jornalista familiarizada com o país, um repórter fotográfico e um intelectual simpatizante da ideologia revolucionária. Mas a realidade que percebem sob a propaganda e o tratamento que lhes é reservado mudarão gradativamente as certezas de todos.

Assista ao trailer:


Ficha técnica
Encontro com o Ditador
Camboja | 2024 | Drama | 110 min.
Título Original - Rendez-vous avec Pol Pot
Baseado no livro When The War Was Over, de Elizabeth Becker
Direção - Rithy Panh
Roteiro - Pierre Erwan Guillaume e Rithy Panh
Elenco - Irène Jacob, Grégoire Colin, Cyril Guei, Bunhok Lim e Somaline Mao
Direção de Fotografia - Aymerick Pilarski e Mesa Prum
Montagem - Rithy Panh, Matthieu Laclau
Técnico de Som - Nicolas Volte, Tu Duu-Chih, Eric Tisserand e Tu Tse-Kang
Cenografia - Mang Sareth, Sou Kimsan e Chanry Krauch
Figurino - Ariane Viallet
Direção de Produção - Sovichea Cheap
Trilha Sonora Original - Marc Marder
Trilha Sonora Co-Produzida e Gravada por: Mitch Lin, Shao-Ting Sun
Direção de Som - Yu-An Chang
Produção - CDP e Anupheap, TAICCA, Doha Film Institute, TRT Sinema, LHBx An attitude e Obala Centar
Apoio de: le Centre national de la Cinématographie et de l’image animée, Canal +, Ciné+, le Fonds Image de la Francophonie, La Banque Postale Image 16
Produtores: Catherine Dussart, Rithy Panh, Justine O., Roger Huang, Fatma Hassan Alremaihi, Hanaa Issa, Mehmet Zahid Sobaci, Muhammed Ziyad Varol, Mirsad Purivatra, Jovan Marjanović, Georges-Marc Benamou

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