Ancestralidade e resistência marcam o documentário Razões Africanas


Dirigido por Jefferson Mello, longa foi selecionado para Competição de Novos Diretores da 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Dos porões dos navios, na travessia transatlântica dos negros escravizados, o soturno som do sofrimento dos cânticos se traduziu em uma vibrante polirritmia. Que ecoou pelo mundo, como um legado cultural do continente africano. É o berço do Blues, do Mississipi, da Rumba, de Havana e do Jongo, do Rio. E é sobre isso, a partir da diáspora africana, que o documentário Razões Africanas nasce para abordar a grande herança africana que produziu esses 3 ritmos musicais, consolidados mundialmente.

O documentário, dirigido por Jefferson Mello, foi selecionado para a 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, onde fará exibição pela Competição de Novos Diretores. Depois de realizar seu primeiro longa, o premiado Samba & Jazz, sobre a sinergia entre estes dois ritmos e as cidades do Rio de Janeiro e Nova Orleans (considerada o berço do jazz), o diretor decidiu seguir rumo ao continente africano para se aprofundar e desbravar a ancestralidade presente na Rumba, no Jongo e no Blues. Nascido no subúrbio carioca, cresceu rodeado pela cultura do samba e da black music, e apaixonado pelo Jazz, alguns dos motivos que o levaram a se aprofundar ainda mais no tema nesse seu segundo longa-metragem.

O diretor realizou viagens de campo para o estado do Mississipi (EUA) e para a cidade de Havana (Cuba) em busca de seus personagens; e para o Jongo, o trabalho de Lazir Sinval já era conhecido por sua participação no longa Samba e Jazz. Para a produção, conversou com Eva Despaigne, do Obiní Batá, (Havana - Cuba), um grupo afro-cubano de 30 anos de existência composto apenas por mulheres rumbeiras, que possui uma luta de resistência contra o preconceito masculino com mulheres percussionistas; a jongueira Lazir Sinval, do grupo Jongo da Serrinha (Rio de Janeiro), que também carrega uma história de luta por manter o Jongo da Serrinha vivo; e Terry Harmonica Bean, (Clarksdale - Mississipi - EUA) um tradicional bluesman, que não se considera um músico comercial.

Jefferson Mello percorreu cinco países: Angola, República Democrática do Congo, Mali, Cuba e Estados Unidos. Na República Democrática do Congo, aprende-se mais sobre as raízes da Rumba. Em Angola, as visitas a Luanda e Lubango apresentam movimentos originários do Jongo. E em Mali, em uma das viagens mais difíceis, o diretor investiga o surgimento do Blues mais antigo e tradicional dos Estados Unidos. é um documentário road movie.

O longa traça um resgate da identidade destes gêneros musicais na valorização de suas culturas e reforça a importância de artistas que seguem mantendo essas tradições vivas, reafirmando, assim, um verdadeiro movimento de resistência sociopolítica e cultural do povo negro e de seus ancestrais.

"A música - concordando integralmente com Du Bois - é, sem sombra de dúvidas, o maior legado que a população negra deixa para a humanidade, não só pela sua questão rítmica, porque é bom ouvir, mas porque a música é também uma forma de fazer política", afirma no longa, Ynaê Lopes, professora de História, autora de História da África e do Brasil Afrodescendente.

Além da pesquisadora Ynaê Lopes, o documentário conta também com entrevistas com professores universitários, historiadores e pesquisadores dos outros cinco países: Dr. Brehima Touré (Mali), professor da Faculdade de Ciências Humanas e Ciências da Educação de Bamako, Patrício Batsikama (Angola), professor e escritor de Angola, Rolando Zulueta (Cuba), professor e pesquisador da Universidade de Havana e Charles K. Ross (EUA), professor de História e estudos afro-americanos na Universidade do Mississipi e Yoka Lye Mudaba (Congo), professor da Universidade de Kinshasa.

Assista ao trailer:


Ficha técnica
Razões Africanas
Brasil | 2022 | Documentário | 104 min.
Direção, Roteiro e Fotografia - Jefferson Mello
Edição - Juliana Nicolini
Assistente de Edição - Antonia Quintiliano
Produção - Jefferson Mello
Assistente de Produção - Yasmin Gonçalves
Produção Executiva - Tremè Produções
Mixagem - Luciano Stelzer
Cor - Bernardo Brik
Videografismo - Paulo Cesar Galvão
Montagem - Juliana Nicolini e Jefferson Mello
Tradução - Kerollyne Cubeiro Evans, Sadjo Sisse, Mauricio Tchinho Kaabunke, Yasmin Gonçalves, Antonia Quintiliano, Feldy Jodelph Espoir, Valentina Luz Mello, Mardochée Falanka e Iris Arazunu Vasconcel
Equipe Brasil - Paula Monte (Câmera), Ricardinho Benjamin (Câmera), Jefferson Mello (Câmera), Anne Carolina Melo dos Santos (Som), David Seminario Valcarcel (Som), Vinicius Brum (Câmera), Hanna Beatriz (Drone), Pam Nogueira (Assistente de Câmera) e PC Azevedo (Som)
Equipe Angola - Alexandre Buta (Produção), Jefferson Mello (Câmera), Dario Rocha (Câmera), Batutina Kimbundo (Câmera) e Job Manuel (Som)
Equipe Cuba - Alejandro Glez (Produção), Carla Franco (Câmera), Jefferson Mello (Câmera), Kalet Polo (Câmera), Vinicius Brun (Câmera), Alan Mairena (Som), Claudia Cepero (Som), Velia Diaz de Villavilla (Assistente de Câmera)
Equipe Congo - Peter Miyalu (Câmera), Jefferson Mello (Câmera), Samuel Mwani (Câmera), Nizar Saleh (Som), Mardochée Maluta Falanka (Intérprete) e Michel Maluta (Intérprete)
Equipe Mali - Foulématou Natalia Sylla (Produção), Jefferson Mello (Câmera), Aboubacar Bablé Draba (Câmera), Mamadou Diarra (Som), Sadjo Sissi (Intérprete) e André S Diarra (Produção)
Equipe Mississipi - Kerollyne Cubeiro Evans (Produção), Jefferson Mello (Câmera), Mailson Santana (Câmera), Greco de Bandeira Nogueira (Som) e Guilherme Garcia de Freitas (Câmera)

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