Últimas apresentações do espetáculo Vista

A atriz Julia Lund em cena no monólogo Vista. Foto - Renato Mangolin

Em cartaz no Sesc Avenida Paulista o monólogo, dirigido por Luiz Felipe Reis, fica em cartaz até 02 de julho. A peça foi construída a partir de relato real contido no livro Vista Chinesa, de Tatiana Salem Levy

Espetáculo multidisciplinar que reúne cinema, música e teatro, Vista leva ao palco a adaptação do romance Vista Chinesa (2021), de Tatiana Salem Levy, e trata dos desdobramentos de um caso de estupro ocorrido às vésperas da Olímpiada de 2016, no Rio de Janeiro, em plena luz do dia, em um dos principais cartões-postais da cidade. A partir deste ponto, a montagem da Polifônica, de Luiz Felipe Reis e Julia Lund, contempla as possibilidades de regeneração sensível e humana da personagem.

O solo, com Julia em cena, que faz suas últimas apresentações em São Paulo, gira em torno de um contundente relato, em primeira pessoa, desta experiência absurda de violência sexual e, sobretudo, do processo de metamorfose existencial vivido pela personagem após este acontecimento, com dramaturgia assinada por Luiz Felipe, Julia e por Catharina Wrede.

Julia Lund conta a história de uma mulher que, antes de ir ao trabalho, ao fazer sua corrida matinal na Floresta da Tijuca, tem seu destino atravessado pela agressão sexual. Ela é violentada, estuprada e abandonada sozinha na mata. “É um trabalho que se abre a múltiplas dimensões e questões. A peça é construída como uma jornada de reflexão e de elaboração sobre os desdobramentos deste caso de estupro”, diz a atriz.

"Júlia, a personagem, é uma mulher que vive e compartilha conosco a necessidade e a coragem de lidar com o trauma sem desvios, acreditando que só assim, lidando com o real e evitando sua negação, é possível voltar a viver e a ter prazer na sua relação com a vida, com o outro e com o seu próprio corpo", comenta Julia Lund.

Atravessar o trauma

Foto - Renato Mangolin

Vista é a perspectiva particular desta mulher de se relacionar com o trauma, elaborar suas marcas e fissuras - o que inclui processos de recordação e esquecimento, ressignificação e transformação de acontecimentos e sentidos -, mostrando que é possível atravessar esse ciclo infernal de sensações e experiências, sabendo que esse ciclo de sofrimento também se transforma e torna possível, de outra forma, viver e aproveitar a vida de novo.

Viva e morta ao mesmo tempo, com a consciência de que nada será como antes, Júlia tem sua existência transfigurada. O passado é um assombro. O presente é um abismo. O futuro, desconhecido. Com as roupas rasgadas, sem telefone e descalça, ela se arrasta como pode para encontrar um caminho de volta até a estrada enquanto a luz se dissipa por entre as árvores. Horas mais tarde, após uma infernal e solitária jornada com os pés no asfalto, ela enfim chega em casa, onde o namorado e alguns familiares a esperam.

A protagonista da obra é uma mulher que viveu o inferno e viu, como ela mesma diz, o diabo de frente - ou pior, o diabo e o inferno invadindo o seu próprio corpo a fim de aniquilar sua vitalidade, sua autoestima e sua vontade de viver. O que vemos em cena é, de alguma forma, a resposta de Júlia ao horror. Cada cena é um fragmento da travessia que a personagem empreende não apenas a fim de sobreviver, mas a fim de afirmar a sua vontade de viver, de poder fruir e desfrutar da vida novamente.

Todo percurso dramatúrgico da obra é, então, uma troca de pele, um processo de metamorfose subjetiva, uma jornada de elaboração e de ressignificação dos acontecimentos vividos pela personagem.

"Vista é uma história e uma encenação marcadas pelo trágico e pelo trauma, mas com foco, sobretudo, nas capacidades humanas de resiliência e de regeneração, nas forças de metamorfose, na afirmação da pulsão de vida e das forças de ligação à vida, em contraponto às forças de destruição e de morte, de desligamento e de desistência da vida", comenta o diretor Luiz Felipe Reis.

Camadas de realidade e de ficção

Foto - Renato Mangolin

Ao ser levado aos palcos como um solo teatral e audiovisual, a peça ganha novas camadas e planos de realidade e de ficção. Nesse sentido, a montagem dá continuidade às investigações estéticas e temáticas da Cia. sobre a polifonia cênica, sobre a tênue linha que aproxima e dilui as fronteiras entre autobiografia e autoficção, assim como sobre as relações entre o trágico e o trauma, a violência e a resiliência, a metamorfose, a regeneração e afirmação das pulsões de vida - todos estes elementos também foram investigados e tensionados em seus projetos anteriores, como Estamos indo embora..., Amor em dois atos (2016), Galáxias (2018) e o solo audiovisual Tudo que brilha no escuro (2020). Vista expõe em cena um processo em que a memória é uma capacidade humana sempre lacunar, incompleta, seletiva, mas ainda assim fundamental a todo processo de recomposição da vida.

A equipe criativa do espetáculo conta ainda com a performance musical ao vivo de Pedro Sodré, criação e manipulação de vídeo ao vivo de Isis Passos e Helô Duran, criação cinematográfica de Dani Wierman e Mari Cobra, cenografia de Dina Salem Levy, luz de Alessandro Boschini, direção de movimento de Laura Samy e figurino de Thais Delgado.


Ficha técnica
Vista
A partir da obra Vista Chinesa, de Tatiana Salem Levy
Direção, Concepção Geral e Câmera ao Vivo - Luiz Felipe Reis
Atuação - Julia Lund
Adaptação Dramatúrgica - Luiz Felipe Reis, Julia Lund e Catharina Wrede
Trilha Sonora Original e Performance Musical ao Vivo - Pedro Sodré
Pesquisa Musical e Sonora - Luiz Felipe Reis e Pedro Sodré
Direção de Tecnologia, Criação, Efeitos em Vídeos e Operação de Vídeo - Isis Passos (Miwí)
Cenário - Dina Salem Levy
Assistente de Cenografia - Tuca Benvenutti
Luz - Alessandro Boschini
Figurino - Thais Delgado
Criação e Produção de Vídeos, Direção de Fotografia e Montagem - Dani Wierman e Mari Cobra com Felipe Ovelha (operação de câmera em vídeo)
Direção de Movimento - Laura Samy
Interlocução Artística - Fernanda Bond
Confecção de Máscara - Alexandre Guimarães
Fotografia de Cena - Renato Mangolin
Cinematografia - Chamon Audiovisual
Design Gráfico - Clarisse Sá Earp | umastudio
Fotografia Estúdio - Renato Pagliacci
Make - Sabrina Sanm
Mídias Sociais - Luli Fru
Assessoria de Comunicação - Márcia Marques, Daniele Valério e Flávia Fontes | Canal Aberto
Direção de Produção - Gabriela Gonçalves, Ludmilla Picosque e Rodrigo Fidelis | Corpo Rastreado
Idealização e Coprodução - Cia Polifônica
Participação em off das atrizes Carolina Virguez, Camila Lucciolla, Cris Larin, Fernanda Nobre, Helena Varvaki, Lisa Eiras e Valentina Herszage a partir de trechos das obras Abuso, de Ana Paula Araújo, e A vida nunca mais será a mesma, de Adriana Negreiros

Serviço
Vista
Temporada - até 02 de julho
Horário - quinta, sexta e sábado, às 20h e domingo, às 18h
Duração - 80 minutos
Sessão extra - dia 28 de junho - quarta-feira
Horário - 20h
Local - Sesc Avenida Paulista - Arte II - 13° andar.
Endereço - Avenida Paulista, 119 - Bela Vista - São Paulo
Capacidade - 50 lugares.
Ingressos - R$ 30,00 (inteira), R$ 15,00 (meia)e R$ 10,00 (Credencial Plena)
Vendas pelo Portal Sesc SP (clique aqui) e nas bilheterias das unidades do Sesc. Limitado a 2 ingressos por pessoa
Horário de funcionamento da bilheteria - terça a sexta, das 10h às 21h30, sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h30
Classificação - 16 anos.
Mais informações 11 3170-0800

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