Obra retrata a história real de uma paixão proibida entre um padre beneditino e uma jovem aristocrata


Escritora Lenah Oswaldo Cruz transforma em autobiografia manuscritos que encontrou do pai sobre o romance que chocou as sociedades paulista e carioca dos anos 1940

Pode até parecer o roteiro de uma novela de época, mas a história contada por Lenah Oswaldo Cruz no livro A Voz do Tempo é real, e as consequências são sentidas até hoje. A obra, autobiográfica, revela o relacionamento proibido do pai da autora, Luiz, um padre beneditino que chocou a sociedade dos anos 1940 ao deixar a batina após engravidar e casar com Dora, jovem da alta sociedade carioca.

Lenah e o irmão Victor, frutos desta paixão proibida, viveram a rejeição social por serem “filhos de padre”, e, posteriormente, pais desquitados - somente 23 anos depois, em 1977, o divórcio foi permitido no Brasil. O relacionamento não suportou as dificuldades sociais e a traição de Dora com um americano. Desprezada pelos progenitores, que pareciam se arrepender das escolhas da vida, Lenah conta como passou a infância e a juventude praticamente sozinha, entre o internato e a casa da avó Branca.

Com saltos cronológicos no enredo, a história começa nos idos de 1935, em São Paulo, passa pelos Estados Unidos, França e termina no Rio de Janeiro. Mas tudo só se conecta na década de 1980, após a morte de Luiz. A autora encontra o manuscrito do pai enquanto procurava a antiga batina de padre que, arrependido e amargurado pelos rumos que a vida tomou, desejava ser enterrado com ela.

Escrito em primeira pessoa, a obra mistura lembranças de Lenah às anotações do pai. Os relatos atravessam os mais diversos cenários do século 20 e se cruzam a acontecimentos importantes da história - como a Revolução Constitucionalista - e grandes personalidades do cenário nacional.

"- A senhorita me dá a honra dessa dança?
Foi assim que o primeiro homem com quem eu dancei na vida foi com o pai de minha amiga Susana, o querido poeta Vinicius de Moraes. A música era lenta, americana, e parecia não acabar nunca para mim que tentava prestar atenção a fim de não errar os passos", A Voz do Tempo, pág. 58.

Quase como numa catarse, Lenah Oswaldo Cruz mergulha no passado dos pais na tentativa de compreender a própria história e desvendar em que ponto a jovem estudante Dora e Luiz, o culto professor de Filosofia, preocupados com os menos favorecidos, se transformaram em pessoas que tiveram a coragem de agredir e abandonar os filhos.

Se o passado não pode ser apagado, em A voz do tempo o leitor perceberá que o futuro sempre pode reservar surpresas. Antes de morrer, Luiz relevou a traição da ex-esposa, lamentou pelo casamento e pediu perdão aos filhos. Assim, ódio e mágoas deram lugar à compreensão, e a história que antes machucava agora merecia ser eternizada.

Sobre a autora

Foto - Divulgação

Lenah Oswaldo Cruz tem três filhos, é formada em Biblioteconomia e atuou em bibliotecas pelo Rio de Janeiro, como o acervo particular do príncipe Pedro Gastão de Orleans e Bragança, membro da família imperial brasileira. Também foi sócia de uma empresa de cerâmica em Petrópolis. Formada pelo curso de turismo da Embratur, é guia credenciada no Brasil. Foi gerente do turismo receptivo de Petrópolis e durante dez anos trabalhou em agências de turismo. Na literatura assina dois títulos: Dias de Mil Horas, publicado em 1988, e a mais recente A Voz do Tempo, autobiografia que eterniza a própria história e a dos pais Dora e Luiz, um amor proibido que também causou muita dor.

Ficha técnica
A Voz do Tempo
Autora - Lenah Oswaldo Cruz
Editora - Migalhas
Páginas - 192
Preço - R$ 19,90
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