Hasankeyf - a história onde ninguém ganha

Colaboração - Fabiano de Abreu | MF Press Global | Portugal

Hasankeyf. Foto - Divulgação / MF Press Global 

Hasankeyf surge na margem do rio Tigre, na Turquia, como uma joia, um oásis. Quem vê este pedaço de terra ao longe pode não imaginar as riquezas que esconde. Esta cidade turca é um dos poucos locais do mundo que teve ocupação continua do território durante milênios, mais precisamente durante 12.000 anos datando da idade do bronze.

Hasankeyf. Foto - Divulgação / MF Press Global

O seu patrimônio material é vasto e valioso contando com centenas de caves com vestígios de ocupação, locais de culto e de sepultamento. Por outro lado, o patrimônio imaterial é incalculável. São milhares de anos de vivências, de ocupação, de tradições e cultura oral. Contudo todo este importante legado está prestes a desaparecer engolido pelas águas quando o projeto da barragem prevista para o local avançar. Mais de 80.000 pessoas serão deslocadas e parte da história da humanidade desaparecerá.

A arqueóloga portuguesa Joana Freitas. Foto - Divulgação / MF Press Global

Do ponto de vista arqueológico, apenas 10% do local foi estudado e escavado, quando for submerso tudo se perderá para sempre. O governo turco está prestes em gastar milhões para mover alguns dos monumentos do local para um outro onde implantarão a nova cidade, outras peças serão expostas em museus. No entanto a cópia não é o original e o seu valor está perdido.

A arqueóloga portuguesa Joana Freitas. Foto - Divulgação / MF Press Global

Como comenta a arqueóloga portuguesa Joana Freitas: " Quando Hasankeyf desaparecer não é apenas a história local que se perde, o passado das suas gentes. É a nossa também, a história da humanidade. Relocalizar monumentos e peças retira-lhes o valor, perdem o seu sentido original. O local de pertença faz parte da peça, confere-lhe valor e história. Este local pertenceu à antiga Mesopotâmia, ao império bizantino, árabe e otomano e acabará submerso em troca de uns tostões. Este raro legado deveria ser protegido a todo e qualquer custo. Por eles e por todos nós".

A arqueóloga portuguesa Joana Freitas. Foto - Divulgação / MF Press Global

Parece um pouco absurdo que um local tão importante como este, não esteja nas listas da UNESCO e sob a sua proteção. É o aspeto financeiro superando o valor histórico. Numa era de tantas opções, poderia se chegar a uma outra forma de gerar energia e proteger um local que não tem paralelo. É um desrespeito pela história da humanidade, pelos vivos e pelos mortos, e por toda uma cultura que se perderá para sempre. É obrigação da comunidade estrangeira se mover de verdade e fazer algo efetivo para interromper este projeto catastrófico. Porque ninguém ganhará se Hasankyef desaparecer. Na realidade, todos perderão.

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