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| As vidas, 2025. Foto - Rafael Salim |
A Galatea apresenta a exposição Anísio O Couto, uma homenagem viva a um dos artistas mais autênticos e enigmáticos de sua geração. A mostra reúne em torno de 35 obras, entre pinturas inéditas e trabalhos emblemáticos da trajetória de Anísio O Couto, que desde sua infância na Bahia e juventude em Santa Teresa (RJ) construiu uma poética visual profundamente conectada à transformação, à cor e ao cotidiano.
A trajetória de Anísio O Couto começa nas ruas de Santa Teresa, onde o artista começou a pintar após trabalhar confeccionando chapéus e penas para o Carnaval. Autodidata, desenvolveu suas próprias técnicas, pincéis e misturas de tinta - substituindo o pincel por um cotonete artesanal, criado por ele mesmo. As primeiras imagens que pintou foram borboletas, símbolo de metamorfose e renascimento, temas recorrentes em sua obra e em sua vida.
“Anísio é um artista fora do tempo”, afirma Denise Milfont, que acompanha de perto sua trajetória. “Sua obra nasce de um gesto livre, quase intuitivo, mas profundamente técnico. Ele cria com o corpo todo, com o olhar e com o silêncio”.
A exposição conta com texto crítico de Renato Menezes, curador da Pinacoteca de São Paulo, e expografia de Dominique Gonzales-Foerster, artista de reconhecimento internacional e figura essencial na trajetória de Anísio - descrita por ele como sua “madrinha” e responsável por introduzi-lo a novos circuitos artísticos. O projeto curatorial, sob coordenação de Conrado Mesquita, reforça o diálogo entre a força expressiva de Anísio e o contexto contemporâneo da arte brasileira.
Histórico e reconhecimento
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| Os guarda chuvas, 2025. Foto - Rafael Salim |
Antes de chegar à Galatea, Anísio já havia exposto em Santa Teresa, no que Dominique descreve poeticamente como seu “mínimo museu” - um ateliê aberto, onde telas eram estendidas ao ar livre, como um varal de cores.
Sua mais recente exposição, no Tropigalpão, durante a Arte Rio, ocupou um andar inteiro dedicado ao artista, consagrando-o como uma das presenças mais marcantes do evento. Entre seus admiradores e colecionadores está Rafael Moraes, que também promove uma recepção em sua homenagem após a abertura. Rafael, inclusive, foi um dos primeiros a adquirir obras de Anísio ainda nas ruas e as doou posteriormente ao Museu Afro Brasil.
“Durante anos, eu olhava para as pinturas de Anísio na rua, sempre que passava pelo Largo dos Guimarães, em Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Adorava sua exibição diária, as telas semiabstratas com ovos, olhos e melancias, misturados a borboletas, gatos e tucanos. Eu nunca fui muito de colecionar arte, nem sou tão ligada à pintura, mas há algo nas obras dele que me intriga e encanta profundamente. De certa forma, isso abriu uma porta para o mundo da pintura para mim“, diz Dominique Gonzales-Foerster, que assina a expografia da mostra.
Sobre a exposição
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| As maçãs do amor, 2025. Foto - Rafael Salim |
Anísio O Couto” apresenta uma seleção potente de obras que transitam entre o gesto e o sagrado, entre o improviso e o rigor. A mostra inclui uma nova série inédita criada especialmente para 2025, além de trabalhos que marcaram sua passagem pelo Tropigalpão. A montagem busca criar um espaço imersivo, que convida o público a entrar no universo do artista - um portal simbólico, ou, como define Denise Milfont, “a porta do céu”.
Sobre o artista
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| As pipas coloridas, 2025. Foto - Rafael Salim |
Artista autodidata, Anísio O. Couto dedica-se à pintura, com uma produção que se destaca pela representação de imagens cotidianas oriundas tanto do seu imaginário quanto do ambiente pelo qual circula e vive. Nascido na Bahia, desenvolve a maior parte de suas pinturas após se estabelecer no Rio de Janeiro. A cidade, que geralmente ocupa o lugar de cartão postal do país, aparece reinventada em seus trabalhos, seja por fragmentos da paisagem, seja pela desconstrução de clichês imagéticos associados ao seu território.
Ainda que situadas no campo da figuração, as imagens, cenas e personagens de Couto ganham aspectos ficcionais. É como se suas telas passassem por uma espécie de lente pela qual todo um repertório familiar é subvertido em favor de um universo imaginado.
Desde o início, dedica-se à representação de animais, como borboletas, peixes, gatos e tucanos, mas também a objetos e situações do cotidiano, como utensílios de uma mesa de café da manhã. Nessas obras, embora salte aos olhos o diálogo com o gênero da natureza morta, as usuais paletas opacas e fechadas do gênero dão lugar à vibração de cores solares, como o amarelo, o laranja, o vermelho e o rosa, que realçam frutas tropicais e brinquedos.
O corpo de obra de Anísio O. Couto revela, assim, certo desejo de dialogar com uma noção de brasilidade a cada dia mais revisitada no campo da arte contemporânea, cujo ponto de partida se encontra no modernismo local. Nesse sentido, apresenta uma singular contemporaneidade e uma conexão com o tempo e o espaço no qual é realizada. Situada entre a figuração e a abstração, a pintura de Couto é fruto da sua capacidade de transformar o fazer pictórico em um canal de tradução de sua subjetividade e um poderoso meio de interligação com o mundo ao redor, que o atravessa e o sensibiliza.
Entre as exposições das quais participou, estão: Ensaio aberto (com Marcelo Conceição, curadoria de Victor Gorgulho), no TropiGalpão (Rio de Janeiro, 2025); Rio: a medida da terra, na Flexa (Rio de Janeiro, 2024); INCORPORAMA (curadoria de Pablo León de la Barra), no TropiGalpão (Rio de Janeiro, 2023); e a mostra da Coleção Labuta de Arte, no restaurante Braseiro Labuta (Rio de Janeiro, 2023). A convite da artista francesa Dominique Gonzalez-Foerster, figura na publicação Pacto visual V (Rio de Janeiro: Estúdio Cru, 2024), que reúne, ainda, Carlos Garaicoa & Marcelo Cidade; Isaac Julien & Plataforma ÀRÀKÁ, Juan Araujo & Mauro Restiffe.
Serviço
Exposição Anísio O Couto
Período - até 17 de janeiro de 2026
Horários - segunda a quinta, das 10h às 19h, sexta, das 10h às 18h e sábado, das 11h às 17h
Local - Galatea Oscar Freire
Endereço - Rua Oscar Freire, 379 - Loja 01 - Jardins - São Paulo
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