A obra, que chega às livrarias pela editora Âyiné, é a importante contribuição de Peter Trawny ao pensamento sobre a revolução. Com este livro, o leitor brasileiro pode conhecer o filósofo alemão para além de sua produção crítica sobre a obra de Martin Heidegger, de que é o editor em seu país.
Em diálogo com autores como Hölderlin, Novalis, Marx, Hannah Arendt e Carl Schmitt, Trawny se inscreve na longa tradição de reflexão sobre a fagulha que é o evento revolucionário, em tudo que essa própria tentativa de aproximação tem de impossibilidade. Trawny pensa a constituição de uma sociedade, real ou não, que poderia tornar uma revolução possível.
A pergunta que move o texto de Trawny também pode ser entendida como uma provocação: “como o medium consegue ser um mundo que parece conhecer somente um objetivo, um valor; a saber, o objetivo de impedir a verdadeira revolução?”. Por medium devemos compreender o conceito de tradição alemã, diferente dos meios dos estudos de mídia americanos.
Como distingue a tradutora Soraya Guimarães Hoepfner, o medium pertence à esfera ontológica, possivelmente pela forte influência heideggeriana de alguns de seus pensadores, como Friedrich Kittler. Nessa acepção de meio da comunicação, “sentido e forma estão fundamentalmente imbricados, de modo que o medium diz respeito diretamente ao sentido geral e possível de ser”, diz Hoepfner.
No caso das teorias de mídia, pensa-se em uma ideia instrumentalista de meio, que se refere à portabilidade e transmissão de sentidos. Em “Medium e revolução”, medium diz respeito a “esse inoponível-irresistível que tudo intermedeia”: “É a própria globalização, ou melhor, o que governa a globalização”.
Esse cenário de intermediação total de tudo com todos, tão própria do nosso tempo, se mostra totalmente incompatível com a revolução, como elabora Trawny. “O medium não conhece mais nenhuma perda. Ele substitui e armazena para dela se defender”, enquanto a perda “é um passo para a revolução”, por exemplo. Uma simbiose de capital e técnica, única na história, forma o “mundo do medium”. Se “o medium busca intermediar a revolução, a revolução deve destruir o medium”.
Para Trawny, porém, a revolução se encontra hoje emudecida: “tudo o que é pensado e escrito na atualidade é conformista. As relações existentes parecem uma vaca sagrada. Toda crítica segue o mandamento de ser ‘construtiva’. A teoria ‘esquerdista’ silencia sobre sua origem revolucionária. Também as forças conservativas se integram. Tudo é ‘comunicado’. Impera uma profunda satisfação”.
Contudo, não haveria, para esse estado, qualquer motivo histórico. “A linguagem filosófica se depara com uma fronteira propiciada a partir do próprio evento”, afirma Trawny. “A tentativa (da revolução) é muda uma vez que é forçada a pensar atopicamente contra si mesma, contra sua impossibilidade”.
Comunidade, violência, corpo e produção são algumas das palavras evocadas pelo autor para se aproximar desse lugar impossível. O papel da filosofia, para Trawny, não estaria muito distante da prática revolucionária: se a “revolução é o destituir-se das forças de uma ordem, sua destruição”, “não há filosofia que já não se encontre na revolução. Uma filosofia revolucionária já se encontra em uma ordem à qual não quer pertencer. A cada vez, ela escreve a revolução como uma poesia para além do texto contínuo”.
Sobre o autor
Peter Trawny nasceu em Gelsenkirchen, Alemanha. Leciona filosofia na Universidade de Wuppertal, onde é diretor do Instituto Martin Heidegger. Também deu aulas nas universidades de Viena, Xangai e em Estocolmo. É o editor das Obras Completas de Heidegger em seu país, incluindo os Cadernos Negros, publicados em 2014 com grande repercussão. Além de “Medium e revolução” (2010), escreveu “Heidegger e o mito da conspiração judaica mundial”, “Heidegger: a critical introduction” e ”The authority of the witness. Ernst Jünger's political work”, dentre outros.
Ficha técnica
Medium e revolução
Autor - Peter Trawny
Tradução - Soraya Guimarães Hoepfner
Ilustração de capa - Julia Geiser
Editora Âyiné
Páginas - 89
Preço - R$ 27,90
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1 Comentários
A julgar pelo relato, um livro a se ignorar; uma espécie de malabarismo retórico com categorias abstratas: Kitsch filosófico.
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