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Ensaio da peça Todos os filhos de Deus têm asas, com Ruth de Souza e Ilena Teixeira. Foto - José Medeiros |
O Ministério da Cultura, via Lei Federal de Incentivo à Cultura, e o Instituto Tomie Ohtake, com a correalização do Ipeafro - Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros apresentam a exposição Teatro Experimental do Negro nas fotografias de José Medeiros, que conta com patrocínio do Nubank, mantenedor do Instituto Tomie Ohtake.
Sob curadoria de Eugênio Lima, a mostra ficará em cartaz de até 03 de agosto de 2025, paralelamente às exposições Manfredo de Souzanetto - As montanhas, Manuel Messias - Sem limites e Casa Sueli Carneiro em residência no Instituto Tomie Ohtake.
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Ensaio do concurso de beleza Rainha das Mulatas, com Maria Aparecida Marques. Foto - José Medeiros |
Reunindo cerca de 110 itens, entre fotografias e documentos provenientes do acervo do Ipeafro, a mostra ilumina a histórica colaboração entre o Teatro Experimental do Negro (TEN) e o fotógrafo José Medeiros (1921-1991) ao longo de quase duas décadas. Mais do que documentar, a exposição busca evidenciar uma parceria artística que é, ao mesmo tempo, política e poética, ressaltando o papel fundamental do TEN tanto na evolução do teatro moderno no Brasil quanto na afirmação da identidade negra nas artes e na esfera pública.
A relação entre o TEN e Medeiros é de colaboração simbólica e prática: enquanto o grupo teatral lutava por representação e dignidade para pessoas negras no cenário artístico, o fotógrafo registrava e difundia essa luta com sensibilidade e respeito, contribuindo de forma decisiva para sua preservação na memória visual brasileira.
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Ensaio da peça Sortilégio, com Abdias Nascimento e Léa Garcia. Foto - José Medeiros |
Fundado em 1944 por Abdias do Nascimento, dramaturgo, ator, artista plástico, escritor, professor universitário, político e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras brasileiras, o TEN foi uma iniciativa pioneira no combate ao racismo e na promoção da cultura afro-brasileira por meio das artes cênicas. Nascimento tinha como objetivo criar um espaço onde artistas negros pudessem se expressar com autonomia e dignidade, enfrentando o preconceito que os limitava a papéis estereotipados na sociedade e no teatro da época.
Para Abdias Nascimento, o teatro era espelho e resumo da peripécia existencial humana - mas só poderia alcançá-la realmente ao incorporar a humanidade negro-africana em sua dimensão plena. A dignidade dos povos afrodescendentes e a dramaticidade de sua epopeia no Brasil, as quais Abdias e o TEN buscaram projetar, transparecem nas imagens criadas por José Medeiros. Amigo e participante do TEN, o olhar do fotógrafo abraçava e celebrava as pessoas e criações do grupo, tanto no palco como na cena cultural e política do país.
Sobre José Medeiros
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Ensaio da peça O imperador Jones, com Aguinaldo Camargo e o elenco masculino. Foto - José Medeiros |
José Medeiros foi um importante fotojornalista brasileiro entre as décadas de 1940 e 1960. Como colaborador da revista O Cruzeiro, um dos principais veículos de comunicação da época, o fotógrafo registrou momentos marcantes da vida social e cultural brasileira. Segundo o curador, foi provavelmente com restos de filmes utilizados na revista que o fotógrafo fazia seus registros sobre o TEN. A lente de Medeiros acompanhou ensaios, bastidores e apresentações da companhia, ajudando a consolidar uma memória visual daquele movimento artístico e político inovador.
As contribuições de Medeiros foram além do simples registro documental. Suas fotografias possuíam um olhar sensível e esteticamente apurado, valorizando a expressividade dos corpos negros em cena e o simbolismo presente nas encenações. Eugênio Lima aponta que o conjunto das imagens exibidas manifesta, “…de maneira inequívoca, que Medeiros tinha a intenção de transformar a documentação do TEN em uma obra de arte: as fotos, nitidamente dirigidas pelo fotógrafo, não são necessariamente o registro de um momento, mas, sim, uma produção feita com a intenção de tornar-se icônica”, afirma o curador.
Sobre o Ipeafro
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Peça Aruanda, com Renée Ferreira. Foto - José Medeiros |
Fundado em 1981 por Abdias Nascimento e Elisa Larkin Nascimento, o Ipeafro é uma associação sem fins lucrativos sediada no Rio de Janeiro. Sua missão é preservar e difundir o acervo de Abdias, que inclui obras de arte e documentos ligados ao Teatro Experimental do Negro e ao projeto Museu de Arte Negra. O acervo reúne manuscritos, correspondências, registros parlamentares e vasta iconografia, e centenas de obras artísticas. Com base nesse material, o Ipeafro realiza exposições, cursos, fóruns, oficinas e publicações. Também promove o acesso ao acervo por meio de seu site e canais digitais, ampliando o alcance educativo e cultural da instituição.
Sobre Abdias Nascimento
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Grupo do TEN em aula ou ensaio, com Léa Garcia. Foto - José Medeiros |
Abdias Nascimento (1914-2011), poeta, dramaturgo, artista visual e ativista panafricano, foi deputado federal, senador da República e Professor Emérito da Universidade do Estado de Nova York (EUA). Como parlamentar, ele foi autor das primeiras propostas ao Estado brasileiro de políticas públicas de combate ao racismo (1983). É autor do conceito político-cultural de Quilombismo. Organizou, em 1950, o 1º Congresso do Negro Brasileiro, que propôs a criação de um Museu de Arte Negra. Curador do projeto de 1950 até 1968, quando realizou sua exposição inaugural, ele continuou o trabalho no exílio (1968-1981), onde desenvolveu a própria pintura e a exibiu em museus, galerias e universidades dos Estados Unidos. Pelo conjunto da obra, foi indicado oficialmente ao prêmio Nobel da Paz.
Serviço
Mostra Teatro Experimental do Negro nas fotografias de José Medeiros
Período - até 03 de agosto
Visitação - de terça a domingo, das 11h às 19h (última entrada às 18h)
Local - Instituto Tomie Ohtake
Endereço - Av. Faria Lima 201 (entrada pela Rua Coropé, 88) - Pinheiros - São Paulo (próximo estação Faria Lima/Linha 4 - Amarela do Metrô)
Entrada Gratuita
Informações 11 2245-1900
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