Foto - Alessandra Nohvais |
O público tem a última chance para conferir a peça Dora, que narra a trajetória da guerrilheira Maria Auxiliadora Lara Barcelos, em duas sessões gratuitas no TUSP Butantã, nos dias 09 e 10 de dezembro. Escrita, dirigida e interpretada por Sara Antunes, a montagem mergulha na história de Dora, jovem que, aos 23 anos, se uniu à luta armada contra a ditadura militar, enfrentando prisão, tortura e exílio, até seu suicídio na Alemanha, em 1976. A peça, baseada nas cartas trocadas entre Dora e sua mãe, oferece uma reflexão profunda sobre opressão, utopia e as relações humanas.
“Dora foi uma figura feminina política no âmbito pessoal, porque o pessoal é político, como diz Simone de Beauvoir, e também na esfera pública. Ela entrou na faculdade de medicina em terceiro lugar, em uma época em que 90% dos alunos do curso eram homens. Envolveu-se politicamente nas organizações, foi presa, exilada e denunciou a ditadura. Foi muito amiga e parceira de casa de Dilma Rousseff. É uma figura que entregou o corpo inteiro à luta que acreditava e quero mais do que contar sua morte, desejo trazê-la para vida”, conta Sara Antunes.
Em um espaço que combina a sala de anatomia de uma estudante de medicina com o corpo de uma guerrilheira durante a ditadura, a obra explora os escritos autênticos de Maria Auxiliadora Lara Barcelos, estabelecendo um diálogo sensorial e íntimo entre Dora e sua mãe. O espetáculo ressoa a história do Brasil nos 1960 anos do golpe militar, criando um espaço de reflexão sobre a luta pela liberdade e a preservação da memória daqueles que resistiram à injustiça.
“O cenário tem aspectos singulares, porque resolvi reunir os papeis, as cartas e os documentos coletados nesses anos todos numa espécie de instalação. Sempre senti que os documentos da Dora, quando eu estive durante todos esses anos envolvida em outros projetos, ficavam me olhando, me indagando, numa espécie de quando você vai colocar enfim pra estrear? Chegou a hora e eu literalmente quero colocá-los em cena” explica Sara.
A peça propõe uma reflexão sobre a jornada que levou Dora à luta política, transformando o palco em um espaço dinâmico onde sua presença se faz viva, e explora resistência e memória. A trilha sonora inclui Tropicália, Violeta Parra e Torquato Neto, canções que marcaram a época e que Dora ouvia e até recomendava.
Trajetória da obra
Foto - Annelize Tozetto |
Em 2016, Sara Antunes começou sua pesquisa após ser convidada pelo diretor José Barahona para atuar no documentário Alma Clandestina. Ao conhecer a história de Dora, ela idealizou um espetáculo, inicialmente planejado para 2020. Com a pandemia, o projeto foi adaptado, resultando no curta De Dora por Sara lançado na Mostra de Cinema Tiradentes, em janeiro de 2021. Em seguida, Dora foi apresentado de forma online em plataformas digitais, e durante a pesquisa, quando os palcos se abriram, fez duas aberturas do processo no Theatro Municipal de São Paulo e na Mostra de Direitos Humanos de João Pessoa.
"Essa pesquisa conjuga palavras reais em um tempo poético, explorando tanto os processos que levaram o corpo de Dora à luta política quanto a construção de um campo cênico para que ela reviva, em uma espécie de cartografia do encarnar, fomentando aspectos de resistência e memória", explica Sara.
Sobre Dora
Maria Auxiliadora Lara Barcelos (1945-1976), nascida em 25 de março na cidade de Antônio Dias (MG), é uma figura rica em história, embora pouco conhecida. Estudante de medicina e integrante da VAR (Vanguarda Armada Revolucionária), Dora tinha 23 anos quando foi presa. Foi libertada no grupo dos 70 em troca do embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher e banida do Brasil. Viveu no Chile, Bélgica, França e, em 1974, estabeleceu-se na Alemanha, onde, em 1976, aos 31 anos, cometeu suicídio em Berlim, jogando-se na frente de um trem.
Durante seu tempo na prisão, Dora foi submetida a diversas formas de violações, principalmente de natureza desmoralizante por sua condição de mulher. Foi exposta como objeto de visitação para militares curiosos e sofreu degradação moral diante de seus companheiros. Dora denunciou essas violências durante seu julgamento na Justiça Militar.
No exílio, ela escreveu: "Sou boi marcado, fui aprendiz de feiticeira... Eu era criança e idealista. Hoje sou adulta e materialista, mas continuo sonhando. Dentro da minha represa, não há lei neste mundo que impeça o boi de voar.
Ficha técnica
Dora
Direção, Texto, Atuação e Figurino - Sara Antunes
Assistente de Direção - Renan Ferreira
Videografia - André Voulgaris e Vic von Poser
Captação e Montagem de Vídeos - André Voulgaris, Henrique Landulfo e Vic Von Poser
Cenário - Camila Landulfo e Sara Antunes
Assistência de Figurino - Camila Landulfo
Luz - Dimitri Luppi e Wagner Antônio
Desenho de Som - Edson Secco
Participação - Angela Bicalho
Vozes - Clélia Barcellos, Dilma Rousseff e Maria Auxiliadora Barcellos
Operação de Vídeo - André Voulgaris, Mayhara Ribeiro e Vic von Poser
Assessoria de Imprensa - Adriana Balsanelli
Produção - Gabi Gonçalves, Lud Picosque e Marô Zamaro | Corpo Rastreado
Serviço
Espetáculo Dora
Data - dias 09 e 10 de dezembro
Horário - segunda-feira, às 18h30 e terça-feira, às 20h
Duração - 60 minutos
Local - TUSP Butantã
Endereço - R. do Anfiteatro 109 Bloco C - Cidade Universitária - São Paulo
Capacidade - 60 lugares
Ingressos: Gratuitos (retirada uma hora antes na bilheteria)
Classificação - 14 anos
0 Comentários