A atriz e poeta Luiza Romão. Foto - Sérgio Silva |
Para Luiza Romão, a fundação da literatura e do teatro ocidental aconteceu a partir de um massacre. Isso porque as obras consideradas os grandes marcos desse processo, Ilíada e Odisseia, ambas de Homero, evocam a Guerra de Troia sob uma ótica estritamente masculina.
A atriz e poeta subverteu o clássico e publicou o livro de poemas Também Guardamos Pedras Aqui” com o objetivo de amplificar narrativas e personagens femininas historicamente apagadas na história oficial . O trabalho ganhou os palcos e faz temporada no Sesc Vila Mariana até 18 de maio, com sessões às sextas e sábados, às 20h. Nos dias 11 e 18 de maio estão programadas apresentações extras, às 18h.
“Na minha visão, tudo o que é considerado saber e humano no Ocidente foi moldado a partir dessas narrativas violentas. E, num contexto de guerra, o corpo feminino também vira um campo de batalha. Assim, quando escolho recuperar essas figuras apagadas da historiografia oficial, como Cassandra, Ilíone, Ifigênia e Polixena, quero discutir os violentos estratagemas do patriarcado e diferentes formas de subjugação do sistema colonial”, comenta Luiza.
Publicado pela editora Nós em 2022, o livro foi uma sensação e venceu o Prêmio Jabuti nas categorias Poesia e Livro do Ano. Seu primeiro desdobramento, ainda no mesmo ano, foi uma vídeo-poesia que teve Menção Honrosa no International Videopoetry Festival (Grécia) e foi exibido no Weimar Poetry Film (Alemanha).
Agora, a obra também se transformou em espetáculo - e sob a direção de Eugênio Lima. “Sentimos que o mais importante para a encenação era a palavra ser a grande força. Por isso, optamos pela linguagem do spoken word e utilizamos fotos e vídeos projetados. O foco é a performance de Luiza sobre os seus poemas, ao vivo”, conta.
Sobre a encenação
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Sendo a palavra o centro da ação, Eugênio e Luiza usam-na de variadas formas: como som, como gesto, como ruído, como eco, como coro, como grafia, como pixo, como projeção, como pedra, como música, como sussurro e como testemunho. É uma maneira de a peça se manter fiel à proposta do livro, já que as poesias não seguem necessariamente um estilo tradicional.
“Brinco muito com a linguagem no livro. Por isso, tem poema que é como uma canção de karaokê, tem poema que é uma mancha gráfica, como se fosse um documento censurado, tem poema em forma de manifesto, tem poema que é homenagem e tem até um escrito que é um acerto de contas”, revela Luiza.
Na prática, para seguir toda essa diversidade narrativa, os poemas são performados de inúmeras formas: falados direto no microfone, reproduzidos com efeitos de delay ou sobreposição, falados sem o auxílio de um amplificador de volume ou simplesmente escritos. Eles também podem aparecer em meio às projeções. A trilha sonora é operada ao vivo por Eugenio Lima para criar uma ambiência que remeta à Grécia Antiga, mas sem se descolar do momento presente da encenação.
Para as imagens projetadas, a atriz e escritora fez uma ampla pesquisa. Viajou por vários países buscando ecos da violência tão celebrada nas narrativas sobre a Guerra de Troia e fez algumas das fotos e vídeos presentes em Também Guardamos Pedras Aqui. Um dos espaços evocados durante o espetáculo, por exemplo, é Vallegrande, região no interior da Bolívia onde Che Guevara foi assassinado. Além disso, o espetáculo utiliza trechos de filmes e registros de ações urbanas na paisagem visual do trabalho. Quem assina a videografia é a VJ Vic Von Poser. O espetáculo foi convidado pelo Itamaraty para se apresentar na Feira do Livro de Bogotá, em abril, onde fez a pré-estreia. Além disso, Luiza viaja em maio para a Feira do Livro de Buenos Aires, onde fará apresentações em slams e participará de mesas de debate.
Sinopse
Também Guardamos Pedras aqui é um espetáculo baseado no livro homônimo da poeta e atriz Luiza Romão, publicado pela Editora Nós e vencedor do Prêmio Jabuti de Livro do Ano e Livro de Poesia em 2022. Com direção de Eugênio Lima, a encenação estrutura-se a partir da linguagem do spoken word (palavra falada) e do jogo entre a performance dos poemas ao vivo, imagens projetadas (fotografias, intervenções urbanas e vídeos de arquivo sobre o tema) e bases musicais gravadas (coro de vozes, samples e trilha original). A dramaturgia reconta a Guerra de Troia desde uma perspectiva feminista a fim de pensar a fundação da literatura e do teatro ocidental. Ao recuperar figuras apagadas da historiografia oficial (como Cassandra, Ilíone, Ifigênia, Polixena, entre tantas outras), o espetáculo discute os violentos estratagemas do patriarcado e diferentes formas de subjugação do sistema colonial.
Ficha técnica
Também Guardamos Pedras
Direção e Direção Musical - Eugênio Lima
Atriz e Spoken Word - Luiza Romão
Produção Executiva - Iramaia Gongora
Iluminação - Matheus Brant
Figurino - Claudia Schapira
Videografia e Pesquisa Imagética - Vic Von Poser
Cenário - Wanderley Wagner
Assistentes de Produção - Julia Fávero e Isadora Fávero
Técnicos de Som - João Souza e Clevinho Souza
Serviço
Também Guardamos Pedras Aqui
Temporada - até 18 de maio - sextas e sábados
Horário - 20h
Duração - 50 minutos
Sessões extras - dias 11 e 18 de maio - sábados
Horário - 18h
Local - Sesc Vila Mariana - Auditório - Torre A - 1º andar
Endereço - R. Pelotas, 141 - Vila Mariana - São Paulo
Ingressos - R$ 40,00 (inteira), R$ 20,00 (meia) e R$ 12,,00 (Credencial Plena)
Classificação - 16 anos
Informações 11 5080-3000
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