Tim Maia durante o 8º Prêmio da Música Brasileira (1995). Foto - Divulgação |
Dono de uma voz potente e inconfundível e personalidade extravagante, Tim Maia (1942-1998) marcou seu nome na história da música brasileira como um de seus maiores e mais originais intérpretes e compositores. Para reverenciar seu talento único, o Prêmio da Música Brasileira anuncia o artista como o grande homenageado de sua 31ª edição, em cerimônia marcada para maio de 2024.
José Maurício Machline, criador e realizador do Prêmio da Música Brasileira, destaca sua importância: “A nossa noite de homenagens vai ser uma festa retumbante. Porque a gente vai ter a oportunidade de trazer para o palco a obra de um rei da música soul brasileira, um expoente da música negra no Brasil, de uma relevância imensa, que desbravou um território importantíssimo”.
A empresária Heloisa Guarita, parceira de Machline no Prêmio, faz coro: “numa época de tantos ‘nãos’ e tudo tão igual, nada melhor que a irreverência e o brilhantismo de Tim Maia. Com certeza será uma grande festa!”.
Tim Maia, que já foi laureado 13 vezes pelo PMB, de 1989 até 1998, ganha agora a máxima homenagem da mais importante premiação musical brasileira. Os grandes momentos de sua vida e obra serão dissecados por artistas de diferentes vertentes e gerações, em releituras de seu vasto repertório, sejam composições próprias ou canções que ficaram imortalizadas em sua voz e contagiaram os fãs nos mais de 30 álbuns lançados durante a carreira ou nos palcos do Brasil, como Gostava tanto de você, O descobridor dos sete mares, Não quero dinheiro, Me dê motivo, Do Leme ao Pontal, Você, Réu confesso, Que beleza, Lábios de mel, Sossego, Acendo o farol, Não vou ficar, Um dia de domingo, Você e eu, eu e você, Vale tudo e Velho camarada, entre tantos outros.
Sebastião Rodrigues Maia, que completaria 81 anos em 28 de setembro, cresceu nos anos 1940 e 1950 nas ruas da Tijuca, bairro da Zona Norte do Rio, caçula de 12 irmãos que viviam na pensão de seus pais, Altivo e Maria Imaculada. O talento se manifestou precocemente e aos oito anos começava a compor. Aos 14, formava sua primeira banda, Os Tijucanos do Ritmo. Um pouco depois, criou o grupo The Sputniks, que contava com Roberto Carlos na formação, e chegou a fazer uma apresentação na TV, levado por Carlos Imperial.
Ouvinte de Ângela Maria, Cauby Peixoto, Trio Los Panchos, Os Cariocas, entre outros artista da época, e do emergente rock norte-americano de Elvis Presley, Chuck Berry, Bill Halley e Little Richard, o jovem Tião sonhava com a música e batia ponto na lanchonete Divino, na Tijuca, onde sua turma se reunia, entre eles os garotos Erasmo Carlos e Jorge Ben.
Antes de completar 17 anos, logo após a morte do pai, embarcou para os Estados Unidos sem falar uma palavra de inglês e com 12 dólares no bolso, depois de comprar a passagem com o dinheiro de uma vaquinha que contou com contribuição até do pároco da igreja do bairro. Hospedado inicialmente na casa de uma família amiga no estado de Nova York, foi faxineiro em asilos, baby-sitter, entregador de pizza, operário numa fábrica, ajudante de caixa em supermercado e cozinheiro em lanchonete.
6º Prêmio da Música Brasileira (1993). Foto - Divulgação |
Ausente nesses anos, Tim não viu o início do estouro dos amigos Roberto, Erasmo e Jorge Ben, que já tinham músicas nas paradas e faziam sucesso na TV. Roberto e Erasmo ajudaram o amigo gravando músicas de Tim e o indicavam a gravadoras - Roberto gravou Não vou ficar, que fez grande sucesso e marcou uma guinada na carreira do artista, e Erasmo escolheu Não quero nem saber.
A grande oportunidade veio logo a seguir, quando Nelson Motta o levou até Elis Regina, que não só escolheu para gravar a música These are the songs, de fase americana de Tim, como fez com ele um dueto para o novo disco, que impulsionaria definitivamente sua carreira musical.
Em 1968 e 1969, conseguiu gravar dois compactos, o primeiro com Meu país e Sentimento, e o segundo com These are the songs e What do you want to bet?. O LP de estreia, que levava seu nome, foi lançado em 1970 e projetou Tim Maia nacionalmente, impulsionado por grandes sucessos como Coroné Antonio Bento, que mesclava, de forma original, o xaxado com o soul. Assim como Padre Cícero, que juntava baião com o soul, Tim passeava com naturalidade por estilos diversos como o funk Jurema e a balada Azul da cor do mar, recebendo o disco de ouro por mais de 200 mil cópias vendidas.
Viveu 55 anos de forma alucinante e intensa. Idolatrado pelos fãs, reverenciado pelos críticos e homenageado por artistas em suas músicas (W/Brasil, Jorge Ben; Eclipse oculto e Podres poderes, Caetano Veloso), o síndico do Brasil acumulou incontáveis sucessos, mas também altos e baixos na carreira.
O apetite pela vida e pela música eram tão grandes quanto pela comida, álcool e drogas, o que minou sua saúde ao longo dos anos e lhe rendeu a fama de faltar aos próprios shows, o que acontecia, na maioria das vezes, após noites viradas em festas no camarim comemorando o sucesso da estreia. O único hiato foi durante sua conversão ao Universo em Desencanto, quando se absteve dos excessos e gravou dois discos - Racional Superior I e II - que se tornariam itens de colecionador ao serem renegados e banidos por Tim após se decepcionar com a doutrina.
Tomou as rédeas de sua carreira em todas as áreas: inconformado com os magros percentuais que as gravadoras destinavam aos artistas pelas vendas dos discos e dos royalties das músicas, criou seu próprio selo e editora musical, Seroma, iniciais de seu nome, para que pudesse ter todos os direitos sobre sua obra. Era rigoroso também com sua banda, Vitória Régia, assim como era perfeccionista ao extremo com a qualidade do som nos palcos e gravações, cunhando frases célebres como “mais retorno, mais grave, mais agudo, mais tudo!”.
Tim viveu grandes e conturbados amores e teve três filhos: o adotivo Márcio Leonardo Maia Gomes (Léo Maia), que o músico assumiu sem pestanejar ao reatar com sua primeira e maior paixão, Geisa, que havia engravidado de outro numa das idas e vindas do casal; Carmelo Gomes Maia, também de Geisa, e José Carlos da Silva Nogueira, que Tim reconheceu quando ele já estava com 15 anos, ajudando-o financeiramente e o hospedando em um de seus imóveis. José Carlos foi assassinado aos 36 anos, quando aguardava o resultado do exame de paternidade. Uma história curiosa envolve o filho do meio: em dúvida entre os nomes Carmelo e Telmo, Tim foi ao cartório registrá-lo e na hora optou por Carmelo. Esquecido de qual havia escolhido, sempre chamou o filho de Telmo.
A generosidade com os amigos, o amor pelos animais e a adoração por crianças, com as quais tinha sintonia imediata, eram facetas de sua caleidoscópica personalidade, onde cabia também explosões de raiva e um humor contagiante. Tim Maia era uma figura única e seu legado artístico é um capítulo fundamental e incontornável na história da música brasileira.
Prêmio da Música se expande para além da premiação
Heloisa Guarita e José Maurício Machline. Foto - Guilherme Chada |
Para a próxima edição, o Prêmio da Música Brasileira inicia, ainda em 2023, uma ampla jornada por estados que compõem cinco regiões musicais do país - Pará, Pernambuco, Goiás, Minas Gerais e Rio de Janeiro - onde serão visitados artistas inscritos no ano passado para traçar um perfil detalhado desse universo, como explica Machline: “queremos saber como e porque fazem música, quais as dificuldades e facilidades, o que esperam da música, o que a cidade, a cultura local, a regionalidade, a comida e tudo o que envolve a região influencia para que eles façam música. Quem são os ídolos, em quem se inspiram para fazer as músicas e por aí vai”, explica.
“A ideia é eventualmente trazer alguns desses ídolos citados para encontros com os artistas, comentando sobre sua música. O resultado será cinco temporadas do PMB Docs - quatro ou cinco por região -, que serão exibidas em canais de streaming e nas redes do PMB”, completa Machline.
Todo esse conteúdo será colocado em uma plataforma online de desenvolvimento de música, a partir dos dados que serão coletados nessas visitas. Dentro ainda da programação do PMB serão gravados seis programas PMB Por Acaso na Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro. “O PMB passa de uma premiação, avaliada o ano inteiro e premiada em uma noite, para uma jornada de trabalho mais ampla em prol da música e de quem faz música no Brasil”, sintetiza Heloisa.
"Eu fui patrocinador do Prêmio da Música Brasileira quando dirigi a área de Imagem e Publicidade da TIM. Os resultados foram excepcionais para a marca da empresa. De lá pra cá, o Prêmio se modernizou e manteve a sua importância. Na próxima edição, além da premiação, os patrocinadores poderão apoiar também o PMB Docs e o PMB Por Acaso, ótimas oportunidades para se juntar a conteúdos de enorme relevância", analisa James Rubio, que se juntou ao time do PMB como Diretor Comercial.
Homenagens e o legado do PMB
Conselho PMB. Foto - Guilherme Chada |
Criado por José Maurício Machline em 1987, o Prêmio da Música Brasileira se tornou uma indiscutível referência para a cultura nacional nas últimas décadas e sinônimo de prestígio aos artistas indicados e premiados, seja ao estimular a produção musical, revelar talentos ou promover encontros e homenagens que entraram para a história. Após um hiato de três anos, a premiação retornou em 2023 para a sua trigésima edição, quando homenageou a cantora Alcione.
O Conselho do Prêmio da Música Brasileira é formado por Antônio Carlos Miguel, Arnaldo Antunes, Djavan, Gilberto Gil, João Bosco, Karol Conká, Ney Matogrosso, Wanderléa, Yamandú Costa e José Maurício Machline, que desde 2023 conta com a parceria de Heloisa Guarita na condução do Prêmio.
Desde o ano de sua criação, quando homenageou Vinicius de Moraes, o Prêmio enaltece um artista brasileiro, que serve como fonte para o roteiro e repertório do show da cerimônia de entrega.
Já foram homenageados, pela ordem, Dorival Caymmi, Maysa, Elizeth Cardoso, Luiz Gonzaga, Ângela Maria & Cauby Peixoto, Gilberto Gil, Elis Regina, Milton Nascimento, Rita Lee, Jackson do Pandeiro, Gal Costa, Ary Barroso, Lulu Santos, Baden Powell, Jair Rodrigues, Zé Ketti, Dominguinhos, Clara Nunes, Dona Ivone Lara, Noel Rosa, João Bosco, Tom Jobim, Maria Bethânia, Gonzaguinha, Ney Matogrosso, Luiz Melodia e Alcione.
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