Foto - Caio Oviedo |
Publicada em 2016, a peça Selvagem, do celebrado inglês Mike Bartlett (Cock e Love, Love, Love), retrata um mundo extremamente digitalizado em que a informação vale muito. Dirigida por Susana Ribeiro e idealizada pela DeSúbito Cia e Ventania Cultural, com Erika Puga, Ricardo Henrique e Rodrigo Bolzan no elenco, a montagem está em cartaz no teatro do Sesc Ipiranga até 22 de outubro. No dia 08 de outubro, domingo, às 18h, haverá interpretação em Libras.
Na trama, o protagonista Andrew, inspirado em Edward Snowden (um ex-funcionário da Inteligência dos Estados Unidos que mostrou ao mundo como esse serviço era capaz de coletar dados de pessoas de todo o mundo, denunciando a dimensão do sistema de espionagem norte-americano), está confinado em um quarto de hotel após ter exposto um grande esquema de vigilância mantido por um país poderoso.
Nesse lugar, ele recebe a visita de duas figuras insólitas que lhe oferecem proteção e parecem ser mensageiras de uma organização como WikiLeaks. No entanto, não existe uma forma de confirmar a veracidade das informações ditas por essas figuras. Suas identidades também permanecem secretas.
Nunca montado no Brasil, o texto Selvagem é do autor inglês bastante reverenciado no Brasil e mundo afora. Para Bartlett, a tecnologia digital corrói o conceito de privacidade e podemos estar vivendo à beira de um colapso das instituições globais.
“Quando ele escreveu esse texto, o Snowden tinha acabado de fazer a denúncia de que os Estados Unidos controlavam um grande esquema de espionagem mundial via NSA (Agência de Segurança Nacional). Mas hoje já aceitamos essa realidade de ser monitorado e manipulado o tempo inteiro. Fornecemos nossos dados pessoais para grandes companhias de bom grado. Então, montar essa peça e ficar preso apenas na realidade dos fatos pode passar uma impressão de notícia velha. Queremos discutir como seguir vivendo nesse contexto”, conta a diretora Susana Ribeiro.
Apesar do tema soar espinhoso - mas incrivelmente atual - a ideia da equipe de criação era trazer leveza para esse assunto tão importante. “Fizemos um intenso trabalho de mesa para dar uma lapidada no texto. Queríamos trazer um humor mais próximo da nossa realidade. Os ingleses fazem comédia de um jeito bastante verborrágico e sarcástico, com várias repetições. Entendemos que os brasileiros não se comunicam dessa forma e, por esse motivo, editamos o que parecia excessivo para a nossa montagem”, detalha Susana.
Outra mudança importante para a trama foi no eixo do protagonista. Segundo a encenadora, na obra original ele é descrito de maneira mais fatalista e sóbria. No entanto, o grupo quis explorar uma saída mais otimista e esperançosa.
"Já estamos imersos nessa realidade em que a privacidade é quase um mito. Então, como podemos escapar dessa lógica? Precisamos seguir desejando, que é o que fazemos de mais orgânico. Quanto mais se sente acuado, mais o Andrew se volta para si e começa a se redescobrir. Pode-se dizer que ele está se voltando para seu lado selvagem", comenta Rafael Bicudo, que assina a assistência de direção e o cenário - este último ao lado de José Fernando.
Para deixar o público imerso na narrativa, o cenário é como uma espécie de tabuleiro para o jogo travado entre os personagens. A partir dessa ideia, a iluminadora Mirella Brandi pensou em soluções em que a luz é quase autônoma. “Em Selvagem, ao invés de observar de longe, o público se sente dentro desta história quando guiado por este jogo de luz”, explica.
Da mesma maneira, o som contribui para criar um clima de suspense. “A música guia os momentos de thriller e de humor. Além disso, alguns objetos são microfonados, gerando uma espécie de lupa de aumento e uma sensação de constante vigilância”, afirma Gregory Slivar, responsável pela concepção sonora.
Sinopse
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Um ex-funcionário do Serviço de Inteligência Nacional revela ao mundo o uso corrosivo da vigilância em massa pelo governo e torna-se o maior inimigo do Estado. Refugiado num quarto de hotel, imerso numa realidade insólita, ele é visitado por uma mulher e um homem que prometem ajudá-lo. Nesse thriller cômico de Mike Bartlett, a informação é armadilha e a certeza é traiçoeira.
Ficha técnica
Selvagem
Texto - Mike Bartlett
Tradução - Mark Lambert e Susana Ribeiro
Direção - Susana Ribeiro
Elenco - Erika Puga, Ricardo Henrique e Rodrigo Bolzan
Concepção Sonora - Gregory Slivar
Iluminação - Mirella Brandi
Cenário - José Fernando e Rafael Bicudo
Figurino - Ana Luiza Fay
Direção de Movimento - Fabricio Licursi
Assistência de Direção - Rafael Bicudo
Cenotecnia - José Dahora
Operação de Luz - Sibila
Identidade Visual - Guto Yamamoto
Fotos - Caio Oviedo
Assessoria de Imprensa - Márcia Marques, Daniele Valério e Flávia Fontes | Canal Aberto
Colaboração (tradução) - Erika Puga, Rafael Bicudo, Ricardo Henrique, Ricardo Inhan e Rodrigo Bolzan
Produção Executiva - Julia Calegari | Ventania Cultural
Direção de Produção - Mariana Novais | Ventania Cultural
Idealização - Ventania Cultural e Ricardo Henrique | DeSúbito Cia
Serviço
Selvagem
Temporada - até 22 de outubro
Horário - sextas e sábados, às 20h e domingos e no feriado, às 18h
Duração - 70 minutos
Sessão com tradução em Libras no dia 08 de outubro - domingo
Local - Sesc Ipiranga - Teatro
Endereço - Rua Bom Pastor, 822 - Ipiranga - São Paulo
Ingressos - R$ 40,00 (inteira), R$ 20,00 (meia) e R$ 12,00 (Credencial Plena)
Classificação - 14 anos
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