Foto - Ronaldo Gutierrez |
Molière Jean-Baptiste Poquelin é um dos grandes mestres da comédia satírica e marcou a dramaturgia francesa com suas críticas aos costumes da época. Porém, em 1662, o mundo era bem diferente e, ainda bem, muitas coisas mudaram.
Foi em 1662 que Molière escreveu e encenou Escola de Mulheres, uma peça que conta a história de Arnolfo e Inês, uma menina de quatro anos que será moldada para ser a esposa perfeita pelo burguês. Rever essa história com uma crítica ao machismo limitante é um dos objetivos de Escola de Mulheres - Um sátira ao Patriarcado, em cartaz no Teatro Itália.
No original, Arnolfo, um quarentão machista, adota Inês, uma garota de quatro anos para criá-la, ou moldá-la, do jeito que ele acha que uma esposa deve ser. Tudo isso para evitar que não seja feito com ele o que ele faz ou adoraria fazer com o marido das mulheres bonitas e inteligentes: pôr-lhes um chifre.
Na peça do século XVII, a história é contada do ponto de vista do homem. Porém, na versão do Grupo Lunar, idealizada pela dupla Suzana Muniz e Mau Machado, o público terá contato com o ponto de vista da mulher. Na adaptação, ainda cômica, o foco é na personagem principal, Inês, e no corpo de mulheres, que se alternam entre um tom irônico e de companheirismo em relação à protagonista.
Aqui, a comédia satírica e irônica, que pesa ainda mais a crítica num mundo moldado por uma estrutura extremamente machista, é a grande arma. É ela que torna possível o diálogo de um tema tão pesado com o público em geral. Suzana Muniz, diretora, atriz e responsável pela adaptação do texto, diz que, muitas vezes, esse é um riso nervoso, incômodo.
“Infelizmente, como vimos recentemente nos noticiários, o homem ainda usa seu poder na sociedade para obrigar meninas a se casarem ou mesmo para tentar moldar mulheres, limitando sua liberdade. E isso não acontece só em culturas distantes, mas também num Brasil bem próximo do que vivemos nas grandes metrópoles”, comenta.
Suzana ainda diz que, mesmo com a comédia muito presente, a montagem mostra a importância da sororidade entre mulheres para derrubarem o patriarcado. “Sempre que vemos um caso de abuso de homem, por mais absurdo que seja, é preciso a voz de diversas mulheres para derrubá-lo e apontá-lo como culpado. Aqui isso não é diferente e fica claro que somente se unindo as mulheres conseguem uma existência mais próxima do possível”.
As canções compostas por Mau Machado para a peça, com arranjos do Grupo Lunar e cantadas e executadas ao vivo, provocam uma reflexão além da sátira e nos ajudam a mostrar ao público o quão surreal é uma história dessas. Elas são mais um elemento fundamental que compõe esse alerta crítico sobre o patriarcado, fazendo a ponte da história com os tempos atuais.
Brasil e Europa
Foto - Ronaldo Gutierrez |
A encenação mistura a cultura européia do século XVII com o folclore brasileiro e de tradições afro-brasileiras, trazendo elementos cênicos coloridos e momentos ritualísticos. Tudo isso dialogando com os personagens típicos da Commedia Dell’Arte. A fusão entre a linguagem européia do século XVII e o folclore brasileiro também se dá na música ao vivo, unindo o lírico ao popular.
O espetáculo tem como base a linguagem de coro cênico. Nela, o elenco permanece no palco durante todo o tempo, compondo imagens, jogando com a cena e tocando instrumentos ao vivo. Todas as trocas de cenários e figurinos é feita ao vivo também. No figurino, fuxico, fitas e cores remetem à cultura brasileira e são aplicados em roupas do século XVII, numa releitura livre. As máscaras lembram a Commedia Dell’Arte e trazem também a influência do folclore.
Ficha técnica
Escola de Mulheres - Um sátira ao Patriarcado
Texto - Molière
Direção Geral e Adaptação - Suzana Muniz
Idealização - Suzana Muniz e Mau Machado
Elenco - Ana Clara Fischer, Angelina Miranda, Mau Machado, Pamella Bravo, Silvio Eduardo, Suzana Muniz, Tom Freire e Vitor Ugo
Direção Musical, Música e Letra - Mau Machado
Arranjos - Grupo Lunar de Teatro
Preparação Vocal - Ana Clara Fischer
Preparação Corporal de Commedia Dell’Arte - Flávia Bertinelli
Preparação Corporal de Coro Cênico - Mau Machado e Suzana Muniz
Consultoria de Tradições Afro-Brasileiras - Cláudia Alexandre
Figurino - Daíse Neves
Cenografia e Elementos Cênicos - Vitor Ugo
Máscaras - Rafael Mariposa
Luz - Dida Genofre
Operação de Luz - Jessica Estrela
Fotos - Ronaldo Gutierrez
Produção Executiva - Silvio Eduardo
Apoio - Centro Cultural Omoayê e Allemande Escola de Música
Serviço
Escola de Mulheres - Um sátira ao Patriarcado
Temporada - até 30 de agosto - quartas-feiras
Horário - 20h
Duração - 90 minutos
Local - Teatro Itália
Endereço - Av. Ipiranga, 344 - República - São Paulo
Capacidade - 292 lugares
Ingressos - R$ 40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia)
Para mais informações e comprar ingressos clique aqui
Classificação - 12 anos
0 Comentários