Cia de Teatro Heliópolis reestreia o espetáculo (In)justiça

Foto - Rick Barneschi

Temporada acontece até 17 de julho na 
Casa de Teatro Mariajosé de Carvalho

No dia 16 de junho, a Companhia de Teatro Heliópolis reestreia o espetáculo (In)justiça na Casa de Teatro Mariajosé de Carvalho. A encenação é dirigida por Miguel Rocha, fundador e diretor do grupo, com texto de Evill Rebouças, criado em processo colaborativo com o grupo.

(In)justiça é um ensaio cênico que reflete sobre aspectos do sistema jurídico brasileiro, norteado pela indagação: o que os veredictos não revelam? Para tanto, apresenta a história do jovem Cerol que, involuntariamente, pratica um crime, desencadeando diversas concepções sobre o significado da justiça, seja a praticada pelo judiciário ou sentenciada pela sociedade.

As apresentações seguem até 17 de julho, integrando as atividades do projeto Cárcere - Aprisionamento em Massa e Seus Desdobramentos, contemplado pela 35ª edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo, que foi elaborado para comemorar os 20 anos que a Companhia de Teatro Heliópolis completou em 2020. A temporada também acolhe quatro sessões pelo Edital ProAC Expresso Lei Aldir Blanc nº 43/2021 - Prêmio por Histórico de Realização em Teatro - Produção, incluindo rodas de conversa após sessões dos dias 25 de junho, 02, 09 e 16 de julho.

Foto - Rick Barneschi

Com estreia em 2019, o espetáculo foi indicado ao Prêmio Shell na categoria de Melhor Música e ao Prêmio Aplauso Brasil como Melhor Espetáculo de Grupo. No 4º Festkaos (Cubatão/SP) conquistou os prêmios de Melhor Atriz (Dalma Régia), Melhor Ator (David Guimarães), Ator Coadjuvante (Danyel Freitas) e Melhor Figurino (Samara Costa), além de indicação para Trilha Sonora e Iluminação. Também participou do 34º Festivale, da 12ª Mostra Cooperifa, do 41º Feste de Pindamonhangaba e do 14º Fenteprira.

Permeado por imagens-sínteses e explorando a performance corporal, (In)justiça coloca em cena a complexidade da justiça no país, deixando a plateia na posição de júri em um tribunal. O embate entre os dois lados da justiça - da vítima e do criminoso - se estabelece em um jogo contundente que expõe com originalidade a crua realidade dos jovens pobres e negros. A música ao vivo confere ainda mais densidade poética ao ‘relato’, que foge da abordagem clichê.

A história de Cerol é contada de forma não linear. Exímio empinador de pipas, o garoto vive com sua avó, pois a mãe morreu no parto e o pai, assassinado. Depois de uma briga devido ao alto volume da música na vizinhança, Cerol é perseguido. Durante a fuga, dispara um tiro involuntário, atingindo uma mulher que morre em seguida. Ele é preso e submetido ao julgamento da lei e da sociedade.

Com base nesse argumento, a Companhia discute os direitos humanos à luz da Constituição Nacional. A encenação recupera também a ancestralidade do brasileiro em fortes passagens ritualísticas. “Queremos pensar o homem negro e a justiça, desde a nossa origem até os dias de hoje”, afirma o diretor Miguel Rocha.

Foto - Rick Barneschi

Cenas impactantes e desconcertantes surpreendem todo o tempo. A encenação de Miguel Rocha, alinhavada pela dramaturgia de Evill Rebouças, mostra como a democracia pode ser manipulada. O crime versus a vítima ou o criminoso versus a justiça aparecem de forma não superficial nem previsível.

A abordagem parte do ponto de vista mais íntimo para o mais coletivo: da comunidade para a sociedade, da moral pessoal às convenções sociais. Isso permite leituras iguais de um mesmo caso jurídico, como no julgamento (defesa e promotoria), quando ambos os discursos são tão contundentes quanto convincentes. “Para falar de justiça, temos que falar das relações humanas contraditórias, pois a justiça se apresenta pelas contradições”, reflete o diretor.

Com emoções e sensações que fogem à obviedade, (In)justiça tem quadros coreografados que dão o respiro necessário à dinâmica da encenação: cidadãos urbanos, policiais, advogados com suas togas desfilam pela área cênica e hipnotizam o espectador. Os depoimentos inseridos nas cenas humanizam e tornam crível a proposta da montagem, sejam densos, desconcertantes ou lúdicos. Segundo o diretor, os três pontos de vista - o pessoal, o divino e o do homem - são considerados na concepção, bem como a máxima que diz “só quem passou por uma injustiça sabe o que é justiça”.

O cenário, de Marcelo Denny (1969-2020), situa a força da ancestralidade, presente na terra e no terreiro, na estética religiosa que foge aos estereótipos. Traz também o símbolo da lentidão da justiça: a burocracia em pilhas e pilhas de papéis e processos. Elementos como areia, terra, projéteis de bala e pipas compõem a área cênica, onde predomina a cor cinza. A trilha (de Meno Del Picchia) e os efeitos sonoros são executados ao vivo em sincronia com as cenas. Os atores interpretam também cantos de tradição que reforçam a busca pela humanização e pela ancestralidade propostas pelo espetáculo.

Ficha técnica
(In)justiça
Encenação - Miguel Rocha
Texto - Evill Rebouças (em processo colaborativo com a Cia de Teatro Heliópolis)
Elenco - Antônio Valdevino, Cícero Ciszo, Dalma Régia, Danyel Freitas, Davi Guimarães, Gustavo Rocha, Jucimara Canteiro e Walmir Bess
Cenografia/Instalação - Marcelo Denny
Assistência de Cenografia - Denise Fujimoto
Figurino - Samara Costa
Iluminação - Fagner Lourenço e Miguel Rocha
Provocação Teórica e Prática - Maria Fernanda Vomero
Provocação / Teatro Épico - Alexandre Mate
Provocação / Teatro Performático - Marcelo Denny
Direção de Movimento - Lúcia Kakazu e Miguel Rocha
Preparação Corporal - Lúcia Kakazu
Coreografia - Camila Bronizeski, Lucia Kakazu e Miguel Rocha
Oficina de Dança - Camila Bronizeski
Oficina de Mímica - Thiago Cuimar
Direção Musical - Meno Del Picchia
Provocação Vocal - Bel Borges e Luciano Mendes de Jesus
Musicistas - Amanda Abá (violoncelo), Bel Borges (violão, piano e percussão), Fernanda Broggi e Bruno Pássaro (percussão)
Operação de Luz - Fagner Lourenço
Operação de Som - Edézio Aragão
Mesas de Debates - Viviane Mosé, Gustavo Roberto Costa, Ana Lúcia Pastore e Cristiano Burlan
Mediação Debates - Maria Fernanda Vomero
Comentador Convidado - Bruno Paes Manso
Direção de Produção - Dalma Régia
Produção Executiva - Davi Guimarães e Leidi Araújo
Design Gráfico - Camila Teixeira
Assessoria de Imprensa - Eliane Verbena
Idealização e Produção - Cia. de Teatro Heliópolis

Serviço
(In)justiça
Temporada - de 16 de junho a 17 de julho
Horário - quintas, sextas e sábados, às 20h. Domingos, às 19h
Duração - 105 minutos
Bate-papo após sessões - dias 25 de junho, 02, 09 e 16 de julho - sábados
Local - Casa de Teatro Mariajosé de Carvalho
Endereço - Rua Silva Bueno, 1533 - Ipiranga - São Paulo
Venda de ingressos online - Pague quanto puder - Sympla aqui
Classificação - 12 anos

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