Espetáculo Hip-Hop Blues - Espólio das Águas chega ao Galpão do Folias

Foto - Cristina Maranhão

As apresentações acontecem até 22 de maio. Espetáculo traz questões que revelam e contrapõem o racismo, a moralidade, a intolerância

Depois de uma bem sucedida temporada de estreia, Hip-Hop Blues - Espólio das Águas, novo espetáculo do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, chega ao Galpão do Folias - Espaço Reinaldo Maia. As apresentações acontecem de até 22 de maio.

“Esse espetáculo é resultado de um processo pós-pandêmico em diálogo com a reflexão sobre os 20 anos de pesquisa continuada do Núcleo Bartolomeu. Ele foi se desconstruindo do que era inicialmente, uma narrativa única, e como um mosaico agregou depoimentos propostos à luz de tudo o que estávamos e continuamos vivendo individual e coletivamente” fala Claudia Schapira, diretora e dramaturga do espetáculo.

Quando a pandemia pelo novo Coronavírus começou, em 2020, o Núcleo Bartolomeu de Depoimentos iniciava as comemorações dos 20 anos de atividades continuadas. Atravessados e tocados pelas devastações e consequências causadas pela pandemia e pelo momento político crucial em que nos encontramos, o coletivo estreia agora mais uma peça, a 18ª de seu repertório, de forma presencial.

Enxurrada

Foto - Cristina Maranhão

A ideia da peça começou a ser construída em 2020 quando a obra Os Sete Pecados Capitais dos Pequenos Burgueses de Bertold Brecht, serviu como uma espécie de disparador para a criação do espetáculo. Conforme o processo foi avançando, com a chegada da pandemia e os questionamentos trazidos por ela, Hip-Hop Blues - Espólio das Águas começou a tomar novos rumos. O Rio Mississipi presente na obra de Brecht como percurso é transposto para os rios soterrados da cidade de São Paulo, que transbordantes em dias de chuva, trazem memórias à superfície.

“O rio nunca para, não adianta tentar apreender o inapreensível. Nos inspiramos nos percursos dos rios de São Paulo trazendo isso para a peça, criando situações que mostram o afogamento e a necessidade constante de mergulhar para ir buscar sensações, sentimentos e trazê-los à superfície”, explica Claudia Schapira.

Partindo de depoimentos pessoais do elenco, que foram confrontados com questões contemporâneas ligadas ao eurocentrismo presente na sociedade brasileira, o Núcleo Bartolomeu entrou num intenso processo de construção - desconstrução - reconstrução, até chegar no que se vê no palco.

“A cheia veio, os rios subiram, transbordaram, desceram e deixaram como espólio memórias d'água. Essas memórias são a matéria prima com a qual fomos trabalhando entretecendo as narrativas" fala Claudia Schapira.

Mais detalhes da encenação

Foto - Cristina Maranhão

Depois da encenação de Terror e Miséria no Terceiro Milênio - Improvisando Utopias baseado em um dos textos mais propositivos de Brecht, Hip-Hop Blues - Espólio das Águas traz uma faceta mais processual e performática do Núcleo, que procura elaborar cenicamente os confrontos com a palavra, a forma, a representação, a linguagem, dentre tantas outras questões que nos desafiam nesse tempo que nos tocam viver.

O texto costurado por Claudia Schapira, a partir de fragmentos de memórias coletivas, assimilando depoimentos do elenco, ora comentam a realidade, ora desenvolvem pequenas narrativas que se relacionam com ela criando um tecido polifônico que reverbera a impossibilidade de um discurso unificado.

A música exerce papel central em Hip Hop Blues, confluindo grande parte dos textos. “O blues é apresentado como visão de mundo, como forma de resistência e de protesto. Como ágora capaz de abrigar todas as diásporas, todos os levantes e de dar contorno ao momento desafiador pelo qual estamos passando; que lança mão do ritmo e da poesia como se fosse reza, como se fosse lamento, também reivindicação e luta, sem abrir mão do poder transformador da celebração" diz Claudia Schapira.

O cenário proposto por Marisa Bentivegna procura trazer para a cena o elemento água - e em diálogo com a iluminação de Matheus Brant e as imagens de Vic Von Poser - cria uma instalação que interpela a narrativa interferindo em seu curso. A dramaturgia sonora, as partituras de movimento, o vocal e os figurinos, somam-se a esse contexto materializando a experiência do atravessamento pelas águas.

Além dos quatro membros-fundadores do Núcleo - Claudia Schapira, Eugênio Lima, Luaa Gabanini e Roberta Estrela D' Alva -, o espetáculo ainda conta com Cristiano Meirelles, Dani Nega, Nilcéia Vicente e Daniel Oliva, artistas-aliados que já colaboraram com coletivo Bartolomeu em outras produções. Adeleke Adisaogun Ajiyobiojo, Aretha Sadick e Zahy Guajajara, se juntam ao elenco formando a narrativa com a adição do vídeo, trazendo vozes que fortalecem o discurso na busca da construção de outras realidades possíveis.

“Estamos em um momento onde precisamos ouvir e interagir com diferentes discursos, outras narrativas que não só as nossas. Nesse sentido, convidar artistas que trouxeram essas vozes não só ampliou, mas também fortaleceu um vislumbre que se renova em direção ao futuro", diz Schapira.

Sinopse

Foto - Cristina Maranhão

Chove, chove muito. Os rios transbordam e ocupam São Paulo, reivindicando seu lugar de existência. Hip-Hop Blues - Espólio das águas é um espetáculo tecido em fragmentos. Em um galpão, algo que parece ser um teatro, seis atores refletem e ensaiam tentando dar contorno a estes tempos. Num jogo cênico que fricciona depoimento e ficção, o centro da ágora é permeado por histórias e ancestralidades que revelam e contrapõem o racismo, a moralidade, a lgbtqia+fobia, a intolerância, a supremacia branca e patriarcal e seus inúmeros braços estruturais.

Ficha técnica
Hip-Hop Blues - Espólio das Águas
Direção - Claudia Schapira
Dramaturgia - Claudia Schapira e elenc
Concepção Geral - Núcleo Bartolomeu de Depoimentos
Elenco - Cristiano Meirelles, Dani Nega, Eugênio Lima, Luaa Gabanini, Nilcéia Vicente e Roberta Estrela D’Alva
Guitarra - Daniel Oliva
Direção Musical - Dani Nega, Eugênio Lima e Roberta Estrela D’Alva
Músicas - Núcleo Bartolomeu e elenco
Assistência de Direção - Rafaela Penteado
Cenografia - Marisa Bentivegna
Criação e Operação de Luz - Matheus Brant
Assistência de Iluminação - Guilherme Soares
Criação e Operação de Vídeo - Vic Von Poser
Assistência de Cenografia - César Renzi
Cenotecnia - César Rezende
Assistência de Vídeo - Beatriz Gabriel
Direção de Movimento - Luaa Gabanini
Técnica de Spoken Word e Métricas - Roberta Estrela D’Alva e Dani Nega
Técnica de Canto Blues - Andrea Drigo
Técnica de Sapateado - Luciana Polloni
Danças Urbanas - Flip Couto
Participações Especiais Vídeo - Adeleke Adisaogun Ajiyobiojo, Aretha Sadick e Zahy Guajajara
Participações Especiais Áudio - Matriark e Reinaldo Oliveira
Pensadores-Provocadores Convidados - Luiz Antônio Simas, Luiz Campos Jr. e Celso Frateschi
Engenharia de Som - João de Souza Neto e Clevinho Souza
Intérprete Libras - Erika Mota e equipe
Figurinos - Claudia Schapira
Figurinista Assistente e Direção de Cena - Isabela Lourenço
Costureira - Cleuza Amaro Barbosa da Silva
Direção de Produção, Administração Geral e Financeira - Mariza Dantas
Direção de Produção Executiva - Victória Martinez e Jessica Rodrigues | Contorno Produções
Assistência de Produção - Carolina Henriques e Helena Fraga
Coordenação das Redes Sociais - Luiza Romão
Assessoria de Imprensa e Coordenação de Comunicação - Márcia Marques, Carol Zeferino e Daniele Valério | Canal Aberto
Programação Visual e Desenhos - Murilo Thaveira
Fotos Divulgação - Sérgio Silva
Agradecimentos - Lu Favoreto, Estúdio Nova Dança Oito, Pequeno Ato, Galpão do Folias, Lucía Soledad, Marisa Bentivegna, Colégio Santa Cruz - Raul Teixeira e Périplo Produções

Serviço
Hip-Hop Blues - Espólio das águas
Temporada - até 22 de maio
Horário - sextas e sábados, às 21h e domingos, às 19h
Local - Galpão do Folias - Espaço Reinaldo Maia
Endereço - Rua Ana Cintra, 213 - Santa Cecília - São Paulo (ao lado do metrô Santa Cecília)
Ingresso - R$ 30,00 (inteira), R$ 15,00 (meia) e R$ 10,00 (morador)
Classificação - 12 anos
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