Em fins do século XIX, Józef Teodor Konrad Nałęcz Korzeniowski - que viria a assinar suas obras como Joseph Conrad - era um rapaz cheio de vitalidade e tinha consciência de que poderia ser convocado a qualquer momento pelo serviço militar da Rússia czarista - nascera em 1857 em Berdyczew, cidade da província ucraniana de Zhytomyr, então parte Império. Por isso, tratou de apelar ao tio, Tadeusz Bobrowski, responsável por sua educação, para tentar outro futuro. Enquanto seu tio, almejava uma carreira universitária, Józef queria viver no mar.
Vindo de uma família marcadamente erudita, Joseph Conrad foi desde cedo influenciado por valores artísticos, humanistas e libertários. Seu pai era escritor e tradutor, além de feroz resistente à ocupação russa. Esse engajamento político levou a família à derrocada e a um exílio de trabalhos forçados. Sua mãe em pouco tempo sucumbiu a uma tuberculose e, aos 11 anos, ele ficou totalmente órfão.
Aos 17 anos, começou como marinheiro, a princípio na França e depois em um navio britânico. É provável que ele próprio não imaginasse quão determinante foi esta escolha, pois assim chegou à fluência no inglês, idioma em que consagraria sua obra.
A partir de 1894, já como cidadão britânico, Conrad se estabelece em terra firme para dedicar-se ao ofício de escritor. Estreia no ano seguinte lançando com alguma repercussão Almayer’s Folly. Sua escrita vai sendo maturada de forma gradual, refletida em muitos contos publicados em prestigiosos periódicos literários da época, como Cosmopolis, Cornhill, The Pall Magazine e Harper’s Magazine.
Em 1902, lança aquele que seria um de seus livros mais célebres, O coração das trevas - neste, sim, já exibindo típica “alma conradiana”, ao exorcizar, no relato do choque de realidade de um europeu em meio a congoleses, muitos aspectos de opressão colonialista que certamente lhe gritavam na alma. Elementos como solidão, inconformismo, desesperança e redenção já transparecem ali. E é um de seus grandes escritos que ganha nova edição pela Editora Unesp, na Coleção Clássicos da Literatura: O agente secreto.
Ao ser lançada, em 1907, deixou atônitos os críticos: era difícil a assimilação da obra dentro do universo criativo no qual Joseph Conrad se inscrevia. Como o título já anuncia, temos uma narrativa de espionagem e, no caso, com uma ambientação bem urbana - a Londres do início do século XX -, dissonante, portanto, de cenários selvagens e hostis, que marcam sua obra. Num primeiro momento, análises precipitadas chegaram a classificar O agente secreto como literatura rasa, comercial, talvez pela facilidade com que o leitor é cativado desde o princípio da leitura.
É oportuno assinalar que no início deste milênio, o livro foi objeto de uma instigante onda de redescoberta por parte da crítica e mesmo de leitores, que viam na cruzada do anti-herói Adolf Verloc indícios proféticos, especialmente após o fatídico 11 de setembro. Visionário ou não, O agente secreto é uma obra-chave na bibliografia de Joseph Conrad, representativa da complexidade de um dos grandes mestres do romance inglês moderno.
Ficha técnica
O agente secreto
Autor - Joseph Conrad
Tradução e Notas - Fernando Santos
Editora - Unesp
Páginas - 294
Preço - R$ 36,66
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