F. Scott Fitzgerald mergulha fundo nos loucos anos da década de 1920



Ao longo de contos que traduzem a “jazzist soul” que propagava no período, o autor destrincha a América promissora, mas opressiva, em que a tranquilidade econômica convivia com anseios das mais variadas ordens

O mundo experimentava uma euforia inebriante no início da década de 1920, que ficaria conhecida como “os loucos anos 20”. O sentimento generalizado era de carpe diem: como se, depois de tantos anos de sofrimentos e privações causados pela Primeira Guerra, a vida agora estivesse de volta - para ser aproveitada sem moderação.

Particularmente nos Estados Unidos, em grandes cidades como Nova York, as festas não tinham hora para acabar. Esse novo momento se dava num cenário de transformações amplas, com o aquecimento da economia, as mulheres galgando espaços sociais até então de domínio masculino e com uma efervescência cultural incomum. Contagiado por esse espírito, F. Scott Fitzgerald escreveu Contos da era do jazz, publicados originalmente em 1922, e que chegam agora ao leitor brasileiro em nova tradução pela Editora Unesp, na Coleção Clássicos da Literatura Unesp.

Produto de seu tempo, Fitzgerald viveu, ao lado da esposa Zelda Sayre, uma vida de excessos, tanto que ficou famosa a análise que ele fazia deles próprios: “às vezes não sei se eu e Zelda existimos mesmo ou se somos personagens de algum dos meus romances”. Dona de uma personalidade extravagante e narcisista - que não diferia muito da do marido -, ela bebia, fumava, usava saia curta, em uma época em que isso era um insulto. Protagonizou histórias envolvendo traições, ciúmes, embriaguez e outras peripécias. Diagnosticada como esquizofrênica, Zelda passou por várias internações. Ele, por sua vez, sucumbia cada vez mais ao alcoolismo, mas nunca perdeu a obstinação por fama e dinheiro.

No processo de maturação de suas qualidades de romancista - o mais lapidar de sua produção é O grande Gatsby -, os contos são um laboratório revelador. Fitzgerald é dono de uma produção expressiva no gênero, com mais de uma centena de contos, os quais desenvolvia simultaneamente aos romances, tendo publicado as melhores delas em revistas bem reputadas, como Esquire, The Smart Set e The Saturday Evening Post.

Que o leitor não se deixe enganar com o jazz que batiza a obra presente: os contos aqui reunidos não abordam necessariamente personagens e tramas focados nesse gênero musical. O termo serve muito mais para demarcar a jazzist soul de uma época, aquela em que ele viveu e na qual se inspirou, sugerindo a música de fundo a tocar imaginariamente ao longo da leitura.

As histórias reunidas na obra expõem e mergulham em dilemas e paradoxos próprios daquela “geração perdida”, aparentemente fútil na ostentação e, ao mesmo tempo, experimentando anseios desencadeados, justamente, por aquela nova América que reluzia tão estimulante quanto sufocante. Mas Fitzgerald, que morreria com apenas 44 anos, vítima de um ataque cardíaco, passa longe de ser monotemático. Exemplo disso é que o conto mais conhecido desta seleção é “O curioso caso de Benjamin Button” - que ganhou recente versão cinematográfica -, em que o protagonista nasce velho e, com o passar dos anos, segue rejuvenescendo. Cheio de facetas, F. Scott Fitzgerald, como estes contos comprovam, é sempre um mundo a se descobrir.

Sobre o autor


Francis Scott Key Fitzgerald (1896-1940), mais conhecido como F. Scott Fitzgerald, foi um escritor, romancista, contista, roteirista e poeta norte-americano. Fitzgerald é considerado um dos maiores escritores americanos do século XX. Suas histórias, reunidas sob o título Contos da Era do Jazz, refletiam o estado de espírito da época. Foi um dos escritores da chamada "geração perdida" da literatura americana.

Ficha técnica
Contos da era do jazz
Autor - F. Scott Fitzgerald
Tradução e notas - Bruno Gambarotto
Editora - Unesp
Páginas - 322
Preço - R$ 43,96
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