Projeto Tropicália - Marginália III no Teatro Oficina

Brazyl: Poema Anarco-Tropicalista. Fotos - Eduardo Petrini

Evento apresenta mostra de filmes e a peça Brazyl: Poema Anarco-Tropicalista, escrita e dirigida por José Walter Lima. O espetáculo discute o Brasil contemporâneo e as raízes históricas de problemas frequentes até hoje, como a desigualdade social, o racismo e a misoginia, e fica em cartaz até 01 de dezembro

Desde 14 de novembro e até 1º de dezembro, o Teatro Oficina está ocupado com o Projeto Tropicália - Marginália III, composto pelo espetáculo Brazyl: Poema Anarco-Tropicalista, primeira peça de teatro escrita e dirigida por José Walter Lima, cineasta e artista plástico soteropolitano e por uma seleção de dez filmes, alguns já exibidos, que são apresentados antes do espetáculo.

A mostra de filmes, que antecede a peça, tem curadoria da cineasta Tamy Marraccini e incluem obras como Cabeças Cortadas, de Glauber Rocha; Rogério Duarte, O Tropikaolista, do próprio José Walter Lima, e O Homem do Pau Brasil, de Joaquim Pedro Andrade. Ao todo, serão exibidos dez longas-metragens ao longo das sessões que acontecem entre quinta e sábado, com entrada gratuita (relação completa abaixo).



Brazyl: Poema Anarco-Tropicalista. Fotos - Eduardo Petrini

Em Brazyl: Poema Anarco-Tropicalista, o elenco divide-se em dezenas de personagens ao longo de 28 esquetes. Segundo o diretor, a proposta cênica segue a tradição da linha evolutiva do teatro brasileiro. “É um teatro de revista anárquico-épico-barroco”, brinca Walter, sugerindo que a peça tem como um dos princípios o flerte com a antropofagia, conceito da arte moderna que propunha um modo de criação artística genuinamente nacional, desprendendo-se assim da influência única das vanguardas europeias.

O texto escrito por Walter com colaboração de Júlio Góes procura, segundo os artistas, inventar um novo sentimento de brasilidade. “A abordagem tenta dar conta dessa nação espoliada por uma classe dominante e um capital estrangeiro. Mas ainda assim, nosso objetivo é refletir a partir do delírio, uma forma de se expressar que não é geométrica, mas fragmentada, não-linear”, diz o diretor. Ao longo da peça, os atores também interpretam trechos de obras de Oswald de Andrade (1890 - 1954), autor do Manifesto Antropofágico, de 1928.

Brazyl: Poema Anarco-Tropicalista. Fotos - Eduardo Petrini

A peça propõe um diálogo entre o movimento tropicalista, iniciado em 1967, com o conceito da antropofagia na Arte Moderna, defendido no início do século XX. Júlio Góes conta que a experiência de Walter no cinema se evidencia também neste trabalho. “Ele tem uma ligação forte com a vanguarda e isso gera uma série de experimentações interpretativas com o elenco. Para isso, foram escolhidos atores de formações muito diferentes entre si, alguns com trabalhos mais físicos e outros mais voltados à música. Isso gera uma série de símbolos que auxiliam no avanço da narrativa”.

A transição de uma cena para outra acontece a partir de breves números musicais e coreografias de Luciana Bortoletto. A sonoridade do espetáculo se pauta pela diversidade: há marchinhas de carnaval, músicas compostas por Heitor Villa Lobos, canções de Caetano Veloso e funks como Atoladinha e Relaxe na Bica. Os figurinos e a cenografia assumem uma estética alegórica que possibilita ao público acompanhar as transições dos papeis. Fardas, faixas, capas e mantos caracterizam as personagens e dão dinâmica ao espetáculo. “A programação visual proposta pelo Walter acompanha essa carga conceitual do texto e a rapidez com que os assuntos são mudados”, diz Júlio.

Brazyl: Poema Anarco-Tropicalista. Fotos - Eduardo Petrini

Sobre o autor e diretor

José Walter Lima é um artista plástico e cineasta nascido em Salvador. Seus principais trabalhos em cinema como diretor são Um Vento Sagrado, Antônio Conselheiro - O Taumaturgo dos Sertões, Brasilienses, O Alquimista do Som e Rogério Duarte, o Tropikaoslista. Como artista plástico, expôs no Brasil e no exterior. Suas principais individuais aconteceram na Galeria Marcello Rumma (Roma), Casa do Brasil (Madri), GalerieForum Berlin am Meer e Embaixada do Brasil (Alemanha), Galeria Prova do Artista (Salvador), Ana Cláudia Roso, Galeria Eliane Benchimol e SPARTE (São Paulo), Instituto Goethe (Salvador), Museu de Arte de Brasília (DF).

Sinopse

Brazyl: Poema Anarco-Tropicalista. Fotos - Eduardo Petrini

Brazyl: Poema Anarco-Tropicalista é um painel-manifesto sobre o Brasil Contemporâneo e as suas raízes históricas. Um espetáculo de vanguarda, seguindo a tradição da linha do evolutivo do Teatro Brasileiro, inspirado no movimento tropicália e em Oswald de Andrade.

Ficha técnica
Texto e Direção - Walter Lima
Colaboração de Texto e Co-direção - Júlio Góes
Elenco - Gabi Costa, Lucas Valadares, Rosana Judkowitch, Vanessa Carvalho, Wagner Vaz e Willian Maciel
Coordenação Geral - Yael Steiner
Curadoria de Filmes - Tamy Marraccini
Assessoria de Imprensa - Márcia Marques (Canal Aberto)
Produção - Loukos por Cultura (Márcia Costa e Sidney Werdesheim)
Assistentes de Produção - Neusa Barbosa, Daniela Floquet e Lucas Valadares
Preparação Corporal e Coreografia - Luciana Bortoletto
Figurino - Silvana Gorab
Cenografia - Walter Lima
Trilha Sonora - Ordep Lemos
Fotografia - Eduardo Petrini
Iluminação - Décio Filho
Operação de Luz - Elizeu Kouyatè
Operação de Som - Otávio Cavariani
Operação de Maquinário - Maurilio Domiciano

Mostra de Filmes

Entre os dias 14 e 16 de novembro, foram exibidos o longa Cabeças Cortadas (1979) de Glauber Rocha, o documentário Tropicália (2012), com direção de Marcelo Machado, e o documentário biográfico de Rogério Duarte O Tropikaoslista (2018). Confira abaixo os próximos filmes que fazem parta da mostra.

O Rito do Amor Selvagem
Documentário | 2019 | Brasil | 42 minutos
Data - 21 de novembro - quinta-feira
Horário - 20h

Sinopse

Com um acervo inédito e falas originais do romancista, cineasta e dramaturgo José Agrippino de Paula, o documentário traz lembranças, impressões e recordações que ficaram na cabeça das pessoas sobre o espetáculo Rito do Amor Selvagem, um dos primeiros eventos performáticos e multimídia do Brasil. Ele foi montado em 1969, por Agrippino, com sua mulher, a coreógrafa Maria Esther Stockler, com a participação de Stênio Garcia e do grupo Sonda, no Theatro São Pedro.

Ficha técnica
Direção - Lucila Meirelles
Elenco - participam do documentário pessoas que trabalharam no espetáculo Rito do amor selvagem, e amigos de do Zé Agrippino e Maria Esther Stockler que viram o espetáculo como Stênio Garcia (ator), Jorge Bodanzky (cineasta), José Roberto Aguilar (artista plástico), Norton e Bogô (músicos do Rito), Hermano Pena (cineasta), Claudia Alencar (atriz), Sergio Mamberti (ator), Antonio Peticov (artista plástico), Celso Favaretto (professor de Filosofia da USP) Sergio Pinto de Almeida (jornalista), Gerald Thomas (diretor, autor), Jotabê Medeiros (jornalista), Glauco Arbix (professor de Sociologia da USP) e Miriam Chnaiderman (psicóloga)

Os Herdeiros
Drama | 1970 | Brasil | 1h50 min
Data - 22 de novembro - sexta-feira
Horário - 19h

Sinopse

Para ganhar um neto, o decadente Barão do Café Joaquim resolve casar a filha com Jorge, um, repórter da capital. Anos depois, Jorge trai o sogro, foge com a mulher e deixa o filho na fazenda.

Ficha técnica
Direção - Carlos Diegues
Elenco - Sérgio Cardoso, Odete Lara, Paulo Porto

Hélio Oiticica
Documentário | 2014 | Brasil | 1h34 min
Data - 23 de novembro - sábado
Horário - 19h

Sinopse

O documentário conta a história do artista plástico Hélio Oiticica por meio de fitas que o próprio gravou durante os anos de 1960 e 1970. As Heliotapes foram encontradas por seu sobrinho Cesar Oiticica Filho quando preparava uma exposição sobre a vida e obra do tio. O filme aborda diversos aspectos da biografia de Oiticica, como suas aspirações anarquistas, sua temporada em Nova York e seu contato com as drogas.

Ficha técnica
Direção - Cesar Oiticica Filho
Elenco - Hélio Oiticica

Futuro do Pretérito, Tropicalismo Now
Documentário | 2012 | Brasil | 1h16min
Data - 28 de novembro - quinta-feira
Horário - 19h

Sinopse

Este documentário traz um olhar direcionado para um dos movimentos culturais mais efervescentes da história do Brasil, a Tropicália. O filme reúne entrevistas e intervenções artísticas de eventos ocorridos no final da década de 60 até o presente.

Ficha técnica
Direção - Ninho Moraes e Francisco Cesar Filho
Elenco - Alice Braga, Gero Camilo e Helena Albergaria

Torquato Neto, Todas as horas do Fim
Documentário | 2018 | Brasil | 1h 28min
Data - 29 de novembro - sexta-feira
Horário - 19h

Sinopse

O documentário explora a vida e as múltiplas frentes do poeta, que atuou ainda no cinema, na música e no jornalismo. O piauiense também se engajou ativamente na revolução que mudou os rumos da cultura brasileira nos anos 1960 e 1970, sendo um dos pensadores e letristas mais ativos da Tropicália, parceiro de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Jards Macalé.

Ficha técnica
Direção - Eduardo Ades, Marcus Fernando
Elenco - Torquato Neto, Caetano Veloso e Gilberto Gil

O Homem do Pau Brasil
Comédia, Aventura, Biografia | 1982 | Brasil | 1h52min
Data - 30 de novembro - sábado
Horário - 19h

Sinopse

A trajetória do escritor Oswald de Andrade, ícone do modernismo brasileiro. Lançando-se à busca de mulheres e ideias, está sempre dividido entre diversas figuras femininas.

Ficha técnica
Direção - Joaquim Pedro de Andrade
Elenco - Itala Nandi, Flavio Galvão e Regina Duarte

O Rei da Vela
Tragicomédia | 1982 | Brasil | 2h40min
Data - 01 de dezembro - domingo
Horário - 18h

Sinopse

Filmagem da montagem histórica da peça de Oswald de Andrade, onde milionários decadentes, filhos depravados, capitalistas corruptos e implacáveis são os personagens interpretados pelo Grupo Oficina, em uma célebre apresentação teatral realizada no ano de 1967, gravada fundamentalmente em 71 e lançada mais de dez anos depois.

Ficha técnica
Direção - José Celso Martinez Correa e Noilton Nunes
Elenco - Renato Borghi, José Wilker e Esther Góes

Serviço
Projeto Tropicália - Marginália III
Mostra de filmes e apresentação do espetáculo Brazyl: Poema Anarco-Tropicalista
Data - até 1º de dezembro
Local - Teatro Oficina
Endereço - Rua Jaceguai, 520 - Bela Vista - São Paulo
Horário da peça - 21h de quinta a sábado e 20h domingo
Duração da peça - 90 minutos
Ingressos - R$ 40,00 (inteira), R$ 20,00 (meia) e R$ 15,00 (moradores do Bairro)
Classificação - 16 anos

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