Considerado um clássico da dramaturgia brasileira, tragédia escrita por Nelson Rodrigues em 1960 é encenada pelo diretor Bruno Perillo em temporada inédita no ABC e São Paulo. A peça estreia dia 18 de outubro no Sesc Santo André
Considerado um dos maiores legados do teatro de Nelson Rodrigues, O Beijo no Asfalto recebe nova montagem com temporada de estreia no Sesc Santo André entre os dias 18 de outubro e 10 de novembro. Extremamente atual, a obra trata o poder do mundo midiático e todos seus ilimitados desdobramentos, sua relação com o homem, suas consequências, sua moral e um retrato ético da sociedade brasileira.
Na história que se passa no Rio de Janeiro dos anos 1960, Nelson Rodrigues expõe de modo claro e objetivo o terror que se alastra diante de uma notícia fora do paradigma inconsciente da normalidade. Em plena Praça da Bandeira, na metrópole carioca, um homem é atropelado por uma lotação no meio-fio. Em seus últimos momentos de vida, ele recebe ajuda do agoniado Arandir, que surpreende os transeuntes com um gesto: um beijo na boca em um homem atropelado prestes a morrer.
É a partir desse pequeno e singelo ato que Arandir passa de mera testemunha de um acidente a acusado de um crime. A reviravolta acontece graças à Amado Ribeiro, um repórter decadente interessado em vender manchetes. Ele presencia a cena e relata o acontecimento ao delegado Cunha, com quem firma uma parceria para manipular os fatos a partir de interesses obscuros e particulares.
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O Beijo no Asfalto. Foto - Kim Leekyung |
“A grande desgraça que se abate sobre Arandir talvez seja a intromissão e a usurpação, em sua intimidade mais profunda, de uma alienação e de uma ignorância tóxicas endêmicas, que se originam nos mais antigos resquícios da nossa fundação de país”, afirma o diretor da peça Bruno Perillo. “O texto de Nelson Rodrigues tem essa potência de ser inserido em qualquer contexto histórico e ganhar dimensões sem ser preciso mexer ou alterar a dramaturgia”.
Para a nova montagem, o diretor propõe uma encenação que faz uma radiografia do texto original para tentar investigar, com um olhar aprofundado, as raízes dos acontecimentos que se abatem sobre os personagens e as suas questões mais relevantes para o Brasil de hoje. “É como se Nelson desnudasse o comportamento do brasileiro a partir de um simples beijo no meio da rua. Um povo que tem cordialidade, e ao mesmo tempo uma violência muito grande”, explica.
O texto ágil, potente e fracionado, ganha uma simplicidade estética em benefício da eficiência narrativa, sem uma estrutura cenográfica complexa. Não há troca de cenários e as ações acontecem de forma compartilhada, com o palco dividido pelo jogo de luzes e atores em cena.
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O Beijo no Asfalto. Foto - Kim Leekyung |
“A escolha de um ator negro para o papel de Arandir (o ator Samuel de Assis) traz instantaneamente novas camadas de conexões, arrastando junto uma história de 500 anos de um Brasil repleto de contradições em sua fragilíssima identidade”, comenta o diretor sobre a composição do elenco, que também conta com Anderson Negreiros, Angela Ribeiro, Heitor Goldflus, Lucas Lentini, Mauro Schames, Natalia Gonsales, Rita Pisano, Roberto Audio e Valdir Rivaben.
Durante o espetáculo, os atores permanecem o tempo todo no palco, seja no foco da cena, seja compondo imagens em relação ao foco, mas nunca passivamente, sempre como um grande olhar externo julgador. Para Perillo, “as interpretações caminham no sentido de tentar expor, no limite, o jogo bárbaro da manipulação em contraponto ao que vamos chamar de campo poético da existência. Como num raio-X, queremos explicitar as entranhas desse texto, sem subterfúgios, e sem qualquer traço de caricatura”.
A nova montagem de O Beijo no Asfalto estreia dia 18 de outubro, sexta-feira, às 21h, e fica no Sesc Santo André até 10 de novembro, com apresentações às sextas, sábados e domingos. Clique aqui e leia a reportagem fictícia do repórter Amado Ribeiro, personagem do espetáculo.
Sinopse
Um atropelamento. Um homem cai no asfalto, em plena Praça da Bandeira, Rio de Janeiro. Na sua agonia, pede um beijo a outro homem que correu em seu auxílio. O beijo acontece, o atropelado morre, a multidão ao redor testemunhou. A partir desse acontecimento, uma tragédia se desenrola. O Beijo no Asfalto desmascara, com visceralidade, as raízes da sociedade brasileira, suas características, vícios e estigmas mais profundos.
O Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues
Direção Bruno Perillo
Temporada - de 18 outubro a 10 de novembro
Local - Sesc Santo André
Endereço - Rua Tamarutaca, 302 - Vila Guiomar - Santo André
Horário - sexta-feira às 21h, sábado às 20h e domingos às 18h
Ingressos - R$ 30,00 (inteira), R$ 15,00 (meia-entrada) e R$ 9,00 (trabalhadores do comércio de bens, serviços e turismo e seus dependentes com Credencial Plena)
Disponíveis no Portal Sesc SP (clique aqui) e nas Bilheterias da Rede Sesc a partir do dia 09 de outubro, às 17h30
Classificação - 12 anos
Mais informações 11 4469-1311
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