![]() |
Projeto para luminoso em neon “É preciso continuar". Foto - Divulgação |
Com a participação de seis obras pertencentes a seis artistas, entre individuais, duplas e coletivo, a mostra acaba de eleger Regina Parra como última integrante do grupo de artistas que deverão expor durante a mostra. Bernardo Paz escolheu o trabalho “É Preciso Continuar” da artista brasileira.
Como um pequeno tesouro para ser encontrado ao acaso pelos passantes que cruzam o Largo da Batata, “É preciso continuar” é um grande luminoso em neon amarelo, material sedutor e festivo, que será instalado no centro do largo. O texto do letreiro é um trecho do livro “O inominável”, de Samuel Beckett e aqui, a expressão aparentemente carregada de energia vital, apresenta-se em um paradoxo na construção de novas formas de vida e pensamento: falha e possibilidade, potência de existir e fragilidade, como um desenho de horizonte, ao mesmo tempo, indócil e facilmente revogável.
“É preciso continuar” se configura simultaneamente como um jogo duplo de promessa e ameaça. Uma possibilidade frágil mas ainda assim um desejo materializado e iluminadode continuidade e sobrevivência frente às inúmeras impossibilidades e situações de negação que uma cidade como São Paulo traz.
O trabalho de Parra é uma insistência na avassaladora maré dos dispositivos de poder e controle, talvez por isso a artista não tenha outra escapatória. É preciso agir implicada nas vulnerabilidades, do contrário, realizaria apenas um estudo etnográfico, uma tematização academicista e, portanto, descomprometida e esvaziada.
A artista adentra e relê os fatos, e traduz seus efeitos em conteúdos que agulham questionamentos que solicitam iniciativa de tomada de atitude: “Se entendemos que a sociedade é construída e imaginada, também podemos acreditar que ela pode ser reconstruída e reimaginada”, afirma Parra.
Além de receber o investimento financeiro para a execução do projeto, que após a exposição ficará em posse da artista, a oportunidade de ter uma obra exposta na 8ª Mostra 3M de Arte consiste na valorização artística do trabalho pertencente a um projeto consistente que é realizado há oito anos e já apresentou renomados artistas nacionais e internacionais: Guto Lacaz, Giselle Beiguelman, Paulo Bruscky, Nicola Constantino e Bill Viola.
Em um momento de transformações urbanas e digitais da sociedade, a Mostra 3M de Arte compreende a importância de estar presente em espaços democráticos para a exibição e interação do público com a arte se firmando como agente de diversidade e modificação do espaço social. Por se tratar de um edital destinado ao espaço público espera-se que os artistas apresentem trabalhos de caráter cultural, social e político do Largo da Batata.
Sobre a artista
Foto - Divulgação |
Regina Parra trabalha com pintura, fotografia e vídeo para provocar a exposição de feridas intensas de longa data: suas obras contam com dispositivos de segregação e violência, invisibilidade intencional às desigualdades sociais e a presença oculta de migrantes. Ela revela marcas discretas mas ainda eloquentes da violência que rege a história do Brasil - o antigo como o recente. Violência que atinge negros e índios e que tem entre as mulheres (incluindo brancas) um dos seus alvos mais frequentes.
Seu trabalho foi exposto em lugares como The Jewish Museum (NY, EUA), Galeria Effearte (Millan, Itália), Studio Trendy (Miami, EUA) e Galeria Millan, Pivô, CCSP, Parque Lage, Paço das Artes, SESC_Videobrasil, MAM Recife, Fundação Joaquim Nabuco (todos no Brasil). Os prêmios incluem: Prêmio SP Arte (2017), Prêmio Vídeo da Fundação Joaquim Nabuco (2012) e Prêmio de Residência do Ateliê Aberto_Videobrasil (2011). Em 2013, foi indicada ao Prêmio Jovens Artistas da Fundación Cisneros.
0 Comentários