Escritor André de Leones reflete sobre como a literatura lida com a morte no SescTV


André de Leones. Foto - Piu Dip

Em episódio inédito da 2ª temporada da série Super Libris, o autor investiga a importância da consciência sobre a finitude para a expressão literária

A morte é o personagem mais adaptável da literatura. “Mesmo que o tema do livro não diga respeito a ela, de qualquer forma o autor está escrevendo porque sabe que vai morrer”, afirma o escritor e filósofo goiano André de Leones. O autor de 38 anos é entrevistado pelo escritor, jornalista e diretor José Roberto Torero no episódio A Indesejada das Gentes, da série Super Libris. A produção estreia no dia 16 de julho,segunda-feira, às 21h, no SescTV.

André de Leones nasceu em Goiânia (GO) e despertou a atenção de editores quando venceu o Prêmio Sesc de Literatura de 2005, com seu romance de estreia, Hoje o Dia Está Morto. Ele confessa que a morte é uma das razões pelas quais escreve. “Tendo consciência da finitude, você consegue contemplar a transitoriedade com um pouco mais de propriedade e consciência de si e do outro”, afirma.

Além disso, ele acredita que escrever é uma forma de vencer a morte. “Por piores que sejam, os livros permanecem, nem que seja em uma prateleira empoeirada. Mas, muito tempo depois que eu não estiver mais aqui, quando eu já tiver virado pó, o exemplar de algum livro meu vai estar lá”.

Com a tarefa de destacar autores brasileiros que tematizaram a morte, o romancista e contista goiano elenca Machado de Assis, especialmente em Memórias Póstumas de Brás Cubas, além da prosa de Clarice Lispector e João Guimarães Rosa e a poesia de Manuel Bandeira. Ele explica que se interessou pelo tema quando, durante sua infância em Silvânia, interior de Goiás, houve um surto de suicídios, que o fez prestar atenção na morte.

André de Leones. Foto - Piu Dip

“Eu cresci com isso na cabeça. Não de uma forma mórbida, que me paralisasse ou deprimisse. Mas de estar face a esse dado e refletir acerca dele. Quando eu comecei a escrever minhas histórias, esse tema apareceu com bastante força”, lembra.

A relação entre morte e amor também é pensada por André. “Na medida em que somos lançados para a morte, temos que buscar na transitoriedade coisas que presentifiquem a vida enquanto ela ainda existe. E acho que experimentar o amor é uma delas”, diz. Para ele, a vivência do amor faz a pessoa esquecer a morte enquanto o vive. “Talvez o amor seja uma vírgula nessa frase que a gente está seguindo até o ponto final. É uma pausa muito bem-vinda”.

Embora seja confortável crer na infinitude pela ressureição, André lembra que o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844 - 1900) recusava a crença judaico-cristã na existência da vida após a morte, apostando, na contramão, que não existe nada na transitoriedade e nosso trabalho é aceitar e tentar viver da melhor forma possível. “Nietzsche diz que essa crença é coisa de covarde, de gentinha. Para ele, temos que superar essa necessidade de ter algo além disso e viver nesse vale de lágrimas que é a vida”, afirma.

Quando perguntado sobre como ele, um escritor que tematiza a morte, a vê, André recorre ao psicanalista francês Jacques Lacan, para expressar sua visão. “Lacan diz: você faz muito bem em saber que vai morrer”, ri o autor, que depois explica. “A partir daí, você tem uma liberdade muito maior para cuidar de si e dos outros, até quando isso for possível. Então, eu encaro a morte assim: como uma boa notícia, na medida em que ela me permite trabalhar nas coisas que me interessam com maior afinco e atenção, porque eu não vou estar aqui por muito mais tempo”, conclui.

Além da entrevista principal, André de Leones participa de outros quadros no episódio A Indesejada das Gentes. Em Pé de Página, ele mostra o local onde costuma escrever, conta como funciona seu processo criativo e explica por que escolheu a profissão de escritor. E, no quadro Primeira Impressão, André sugere a leitura do romance Ulysses, do escritor irlandês James Joyce.

Ainda no episódio, o quadro Orelhas apresenta Padre Vieira, famoso na literatura por seus sermões. Em Prefácio, a editora Cristiane Tavares indica o livro infantil Contos de Morte Morrida, do gaúcho Ernani Ssó. No quadro Quarta Capa, o youtuber Danilo Lunardi comenta o livro Abaixo do Paraíso, do próprio André de Leones. Por fim, Epígrafe, quadro novo da segunda temporada da série Super Libris, convida o diretor de teatro Marco Antonio Rodrigues e o ator Gabriel Miziara para comentarem a experiência de encenar a peça Morte e Vida Severina, baseada na obra de João Cabral de Melo Neto.

Confira o trailer:


Sobre a série Super Libris

Com o objetivo de mergulhar no mundo da literatura, a série é formada por 52 episódios em sua primeira temporada e 26, na segunda, todos com 26 minutos de duração, que traz entrevistas com escritores e apresenta curiosidades presentes no processo de criação de livros. Em sua primeira temporada, foram entrevistados, com exclusividade, autores como Ruy Castro, Luis Fernando Verissimo, Ruth Rocha, Ferréz, Antonio Prata, Thalita Rebouças e Xico Sá. Os novos episódios trazem Bernardo Ajzenberg, Marcelo Rubens Paiva, Chico Buarque, Pepetela, Ana Maria Machado, Paulo Lins, Cintia Moscovich, João Paulo Cuenca, Ângela Lago, que morreu em outubro de 2017, entre outros.

Serviço
Super Libris
A Indesejada das Gentes
Direção Geral - José Roberto Torero
Produção - Padaria de Textos
Estreia - 16 de julho, segunda
Horário - 21h
Duração - 27 minutos
Reapresentações - dias 17 terça às 09h e às 17h, 18 quarta às 13h30 20 sexta às 9h30 e 17h30 , 22 domingo às 06h e 23 de julho segunda às 16h
Para sintonizar o SescTV - Canal 128, da Oi TV ou consulte sua operadora
Assista também online aqui
Classificação - livre

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