Espetáculo Aleito lança olhar sensível sobre a invisibilidade da mulher no âmbito familiar e doméstico

Foto - João Gabriel de Oliveira

Após décadas de vida dedicadas aos outros, personagem compartilha suas lembranças e, pela primeira vez, toma as rédeas do seu destino

Ao dar corpo e voz a uma mulher silenciada e esquecida, o monólogo Aleito lança luz sobre uma questão urgente e atual: o abandono em vida, que gera solidão e apagamento. Essa é a premissa que dá sentido à obra protagonizada pela atriz Paula Furtado, que entra em cartaz no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto, no Humaitá (RJ).

Em Aleito acompanhamos uma mulher esquecida pelos outros e esquecida de si mesma após décadas de vida dedicadas à família e ao trabalho doméstico. A partir de lembranças fragmentadas, ela conta a sua história e, pela primeira vez, toma as rédeas do seu destino. Criado pelo coletivo interartístico uma película, o espetáculo tem dramaturgia de Lane Lopes e direção de Isadora Krummenauer.

O público é convidado a adentrar um território íntimo, onde a personagem revisita suas memórias e revive gestos de tantas mulheres que, mesmo presentes, tornaram-se invisíveis em suas próprias casas.

Foto - João Gabriel de Oliveira

Para a atriz Paula Furtado, Aleito não busca representar a velhice, mas ressignificá-la como um espaço de sonho, desejo, memória e ruptura. A obra traz à cena uma personagem que decide reconstruir a própria história a partir dos escombros da memória. “Aleito convida o público a revisitar suas raízes: mães, avós, tias e todas aquelas mulheres que, embora vivas e presentes, tantas vezes se tornaram invisíveis A personagem que interpreto carrega o tempo e suas lacunas e é feita de silêncios atravessados, gestos interrompidos e desejos não concretizados. O projeto nasceu da urgência de dar voz às mulheres da minha família, cujas histórias foram silenciadas, mas resistem na memória. O teatro foi o caminho para contá-las”, afirma a atriz.

“Aleito trata de um processo que atinge a todos: o envelhecer, mas que é especialmente cruel com as mulheres. A personagem é uma mulher que sonha, deseja, se arrepende, muda de ideia e compra briga. Mesmo viva e vibrante, está se tornando esquecida pelos outros e por si mesma. A dramaturgia costura histórias de muitas mulheres (histórias que corriam no rio das narrativas não-oficiais das famílias) e desloca as contradições do âmbito doméstico para o debate público. Agora cabe aos corpos femininos e marginalizados tomarem as rédeas da história, com um olhar atencioso ao passado e corajoso frente ao futuro”, explica a dramaturga Lane Lopes.

A diretora Isadora Krummenauer reforça o caráter poético da encenação: “como nas imagens de Francesca Woodman, a personagem tem seu corpo feminino testando os limites entre concreto e onírico. Seu corpo se confunde com o ambiente doméstico, se perdendo nos devaneios, sonhos e mobília. Em Aleito, uma mulher habita sozinha uma casa que é também extensão de seu corpo e de sua memória. Nesse espaço íntimo e simbólico ela convive em uma rotina com os objetos que a cercam. Ao dar vida a eles tem seu vazio preenchido por presenças silenciosas, que reencarnam mortos e lembranças do passado. O palco se torna o abrigo de sua solidão e também o lugar onde as lembranças ganham corpo”.

Foto - João Gabriel de Oliveira

Em sua terceira temporada, agora sob nova direção, o espetáculo renasce com um olhar ainda mais humano e sensível. Segundo o coletivo uma película, a personagem deixa o lugar simbólico e ganha presença concreta de uma mulher real, que sente, sonha, deseja e falha.

Ficha técnica
Aleito
Direção - Isadora Krummenauer
Dramaturgia - Lane Lopes
Atuação - Paula Furtado
Assistência de Direção - Rodrigo Cavalini
Direção de Movimento - Deisi Margarida
Desenho de Luz - Tayná Maciel
Operação de Luz - Heitor Acosta e Vitória Arruda
Trilha Sonora Original - Lucas Furtado | Geminin
Operação de Som - João Senna
Direção de Arte - Caio Cosson
Assistência de Arte - Anna Vinhaes
Arte Fotográfica - João Gabriel de Oliveira
Arte Gráfica - Brenda Spinosa
Mídias Sociais - Michele Bento
Assessoria de Imprensa - Orbe Comunicação
Produção Geral - Alice Botelho
Direção de Produção - Guilherme Cirqueira
Realização - coletivo uma película e miolo

Serviço
Aleito
Temporada - de 21 de novembro a 14 de dezembro
Horários - sextas e sábados, às 19h, domingos, as 18h
Duração - 55 minutos
Local - Espaço Cultural Municipal Sergio Porto - Sala Preta
Endereço - Rua Visconde de Silva, s/n - Humaitá - Rio de Janeiro (RJ)
Capacidade - 30 lugares
Acesso por escadas
Ingressos - R$ 80,00 (inteira) e R$ 40,00 (meia)
Bilheteria - abertura 1h antes do início do espetáculo
Venda de ingressos online aqui
Classificação - 14 anos

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