Estreias de Dança em outubro abordam HIV, infância, periferia e identidade negra

Cena de Reagente +. Foto - Dermeval Junior

A partir de hoje, dia 16 de outubro, os espetáculos Reagente +, de Ricardo Gael Mesquita, Ibejada, do Núcleo Ajeum, Percursos Paradoxais, da Die Hard Crew, e Deixe a Esquerda Livre, do Coletivo Calcâneos, ocupam palcos e ruas com dança, poesia e escuta sensível

Neste mês de outubro, São Paulo e região recebem uma série de espetáculos de dança que atravessam temas urgentes como HIV, ancestralidade africana, coletividade periférica e liberdade de existir. As montagens - criadas por artistas e coletivos atuantes nas margens da cidade - não apenas ocupam palcos e espaços públicos, mas também propõem outras formas de olhar para o corpo, o território e a memória coletiva. A partir de hoje, dia 16 de outubro, o público poderá acompanhar quatro estreias que, apesar de distintas, compartilham uma mesma pulsação: transformar a experiência em movimento.

No Sesc Avenida Paulista, o Núcleo Ajeum estreia Ibejada, obra que se inspira na simbologia de Íbéjì - divindade iorubá que representa a infância, a alegria e a dualidade. Em cena, os intérpretes-criadores se lançam numa travessia entre o real e o imaginado, reencenando suas infâncias e provocando o público a refletir sobre os laços afetivos e as tensões do mundo adulto. A dramaturgia poética, os momentos de transe físico e a cenografia ritual propõem um encontro sensível com os fundamentos da cultura afro-brasileira. A temporada acontece entre os dias 16 e 19 de outubro, com ingressos a partir de R$ 15,00.

Também hoje, dia 16, o Coletivo Calcâneos segue com a temporada do espetáculo Deixe a Esquerda Livre, que teve início ontem na Estação Jardim Helena-Vila Mara. Com apresentações ao ar livre e em equipamentos públicos de cultura e educação, a obra transforma a cidade em cena. Inspirada pelo cotidiano das periferias, a montagem ocupa espaços como o Parque Augusta, CEUs e escolas técnicas, propondo um olhar poético sobre o espaço urbano. A dança, nesse caso, se mistura com a vida real, como se nascesse do concreto das ruas e das experiências compartilhadas de seus moradores. A circulação é gratuita e conta com acessibilidade em Libras.

Ibejada com o Núcleo Ajeum. Foto - Jonathan Anibal

No ABC Paulista, o Espaço DAJUV, em São Bernardo do Campo, recebe nos dias 17 e 18 de outubro a residência artística Reagente + ou AIDS: o silêncio mata, idealizada por Ricardo “Gael” Mesquita. O projeto promove oficinas e apresenta a performance solo Re△gente +, uma criação que transforma a vivência do artista com o HIV em um manifesto poético, político e corporal. Com uma abordagem íntima e contundente, a obra tensiona temas como prazer, estigma, silêncio e ancestralidade, num convite à escuta e ao diálogo em tempos de desinformação e conservadorismo.

A programação inclui também oficinas conduzidas por artistas atuantes na cena LGBTQIA+ e nas culturas urbanas: Marcelo D’Avilla ministra uma mentoria em performance e criatividade, Kona Zion, referência da cena Ballroom, conduz a oficina de Vogue Femme, e Paula Petreca propõe práticas de autocuidado e escuta corporal. As atividades são gratuitas e abertas a pessoas a partir de 16 anos, com inscrições online.

Já no circuito da dança urbana, a Die Hard Crew celebra 25 anos de trajetória com o espetáculo Percursos Paradoxais, que estreou no dia 14 de outubro no Centro Cultural da Penha e circula por diversas regiões da capital. Com forte ligação com a cultura Hip Hop e o Breaking, a montagem propõe uma reflexão coreográfica sobre as contradições do espaço urbano e as estratégias de resistência cultural que emergem das periferias. Em cada apresentação, os corpos da cena rompem com a lógica centralizada da cidade e afirmam outras formas de existir - com força, ancestralidade e invenção.

As sessões seguem até o fim do mês em locais como o CEU São Miguel, dia 21, Morro do Querosene, dia 23, Tendal da Lapa, dia 25 e Casa de Cultura Brasilândia, 26 de outubro. Gratuito e com recursos de acessibilidade, o espetáculo reafirma o compromisso do grupo com a formação, a difusão cultural e o fortalecimento da coletividade periférica.

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