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Atriz Edna de Cássia em Iracema - Uma Transa Amazônica (1975) |
Um pedaço essencial da história do cinema brasileiro está de volta às salas de exibição. Produções que marcaram gerações e desafiaram as estruturas políticas e narrativas de seu tempo retornam às telonas em cópias restauradas.
De A Mulher de Todos (1969), ícone do Cinema Marginal dirigido por Rogério Sganzerla, à Iracema - Uma Transa Amazônica (1975), passando pelo retrato existencialista de São Paulo Sociedade Anônima (1965), os filmes restaurados resgatam não apenas a memória audiovisual do país, mas reafirmam sua potência crítica e estética. As exibições reúnem sessões especiais, estreias internacionais e debates com nomes históricos do audiovisual brasileiro. Conheça as obras:
A Mulher de Todos (1969)
Direção - Rogério Sganzerla
Uma das obras mais clássicas do Cinema Marginal Brasileiro, o longa A Mulher de Todos (1969), dirigido por Rogério Sganzerla e estrelado por Helena Ignez, foi restaurado digitalmente em resolução 4K pela Mercúrio Produções com coordenação técnica de Débora Butruce a partir de materiais preservados pela Cinemateca Brasileira. O trabalho contou também com recursos para Digitalização de Acervos 2023 pela Lei Paulo Gustavo pelo Estado de São Paulo.
O resultado foi apresentado no dia 21 de fevereiro de 2025, ocasião em que o filme foi exibido na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, em sessão que contou com a participação especial de Helena Ignez e Débora Butruce em um debate sobre a produção, o trabalho de restauração e a história do cinema nacional.
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A atriz Helena Ignez |
Posteriormente, a versão restaurada de A Mulher de Todos integrou a programação da mostra A Mulher da Luz Infinita, que celebrou a trajetória da diretora e atriz Helena Ignez, em Belo Horizonte, no dia 21 de março. Já a Cinemateca Capitólio, em Porto Alegre, recebeu uma exibição gratuita especial do longa em 27 de março em comemoração aos 10 anos da instituição. No dia 28 de junho foi a vez da 20ª edição da CineOP (Mostra de Cinema de Ouro Preto) exibir o clássico de Rogério Sganzerla. E o filme segue tendo uma trajetória de exibições especiais ao longo do ano de 2025.
No longa, a ninfomaníaca Ângela Carne e Osso rompe com o seu último caso e passa o fim de semana na exótica Ilha dos Prazeres. Lá encontra o playboy Vampiro e o jovem Armando. Ambos são seduzidos por ela. Seu marido, o extravagante Doktor Plirtz, que não pôde acompanhá-la devido aos compromissos no escritório, contrata um detetive particular para comprovar a fidelidade da esposa. Exercendo total fascinação nos homens, Ângela consome-os à curtíssimo prazo, abandonando-os em seguida.
Iracema - Uma Transa Amazônica (1975)
Direção - Jorge Bodanzky e Orlando Senna
Censurada pela Ditadura Militar Brasileira, Iracema - Uma Transa Amazônica, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna, é mais uma produção histórica restaurada a entrar em cartaz nos cinemas em 2025.
Com distribuição da Gullane+, a obra que hoje faz parte da lista dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos, feita pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) chega às telonas de todo Brasil a partir de 24 de julho após passar por uma restauração na Alemanha com a coordenação técnica de Alice de Andrade e com o apoio do CTAV, Mnemosine, IMS, PUC Rio, Instituto Guimarães Rosa e da Cinemateca Brasileira.
O longa é um drama documental que combina realidade e ficção para narrar os impactos sociais e ambientais da construção da Rodovia Transamazônica. A história acompanha Iracema (Edna de Cássia), uma jovem de 15 anos que, ao chegar a Belém para o Círio de Nazaré, é tragada para a prostituição e passa a viajar com o caminhoneiro Tião Brasil Grande. Enquanto ele encarna a crença no progresso prometido pela ditadura militar, ela representa os marginalizados dessa época, em uma trama que denuncia as consequências da exploração na Amazônia.
Exibido na Berlinale 2025 (Festival Internacional de Cinema de Berlim) em fevereiro, o filme coleciona prêmios importantes: Festival de Brasília 1980 (Melhor Filme, Melhor Atriz para Edna de Cássia, Melhor Atriz Coadjuvante para Conceição Senna e Melhor Edição para Eva Grundman e Jorge Bodanzky); Associação de Críticos Cinematográficos de Minas Gerais 1978 (Melhor Filme do Ano em uma mostra de filmes proibidos); e conquistas internacionais como o Prix George Sadoul (Paris), Adolf Grimme Preis (Alemanha), Encomio Taormina (Itália) e o Prêmio Especial no Festival de Cannes pelo Reencontre Film et Jeunesse.
Assista ao trailer:
São Paulo Sociedade Anônima (1965)
Direção - Luiz Sergio Person
Com previsão de exibição na Cinemateca Brasileira no segundo semestre de 2025, São Paulo Sociedade Anônima (1965), dirigido por Luiz Sergio Person, é mais um longa-metragem que faz parte da história do cinema nacional a ganhar restauração em 4K em comemoração aos 60 anos de seu lançamento.
O trabalho para restaurar a obra foi fruto de uma parceria entre a Cinemateca Brasileira, a Cineteca di Bologna e a Lauper Films. Foi, inclusive, na cidade italiana que o filme ganhou sua primeira exibição pós-restauração, em junho deste ano, no Festival Il Cinema Ritrovato, evento dedicado à preservação e redescoberta de obras cinematográficas históricas.
Com nomes como Eva Wilma, Walmor Chagas, Ana Esmeralda e Darlene Glória em seu elenco, o filme é ambientado na São Paulo dos anos 1950 e 60, período de intensa industrialização e crescimento urbano, São Paulo Sociedade Anônima acompanha a vida de Carlos, um homem de classe média que trabalha em uma fábrica de autopeças e tenta encontrar sentido em meio à alienação do trabalho, dos relacionamentos superficiais e do consumo. Por meio do olhar desiludido de Carlos, o filme retrata o vazio existencial de uma geração esmagada pelo progresso e pela lógica empresarial, revelando uma cidade em transformação - onde tudo se moderniza, exceto as relações humanas.
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