A obra semidocumental Iracema - Uma Transa Amazônica, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna, distribuída no Brasil pela Gullane+, será exibida na Berlinale 2025 (Festival Internacional de Cinema de Berlim) em sua versão restaurada. Restaurado na Alemanha, o processo contou com a coordenação técnica de Alice de Andrade e com o apoio do CTAV, Mnemosine, IMS, PUC Rio, Instituto Guimarães Rosa e da Cinemateca Brasileira.
A Berlinale 2025 acontece até 23 de fevereiro e o filme integrará a seção Forum Special, que, sob a curadoria de Barbara Wurm, apresenta filmes históricos e contemporâneos organizados em torno de temas que dialogam entre si. Neste ano, sob a temática "Open Wounds, Open Words", a seleção busca explorar temas como os desafios do crescimento, o despertar da juventude e a construção de uma identidade em contextos marcados por normas culturais, desigualdades sociais e injustiças políticas.
A programação da Berlinale também inclui filmes brasileiros como "Ato Noturno", de Marcio Reolon e Filipe Matzembacher, "A Natureza das Coisas Invisíveis", de Rafaela Camelo e "A Melhor Mãe do Mundo", de Anna Muylaert. A direção artística da Berlinale é liderada por Tricia Tuttle, com o cineasta Todd Haynes presidindo o júri internacional.
Lançado originalmente em 1974, o longa é um drama documental que combina realidade e ficção para narrar os impactos sociais e ambientais da construção da Rodovia Transamazônica. A história acompanha Iracema (Edna de Cássia), uma jovem de 15 anos que, ao chegar a Belém para o Círio de Nazaré, é tragada para a prostituição e passa a viajar com o caminhoneiro Tião Brasil Grande. Enquanto ele encarna a crença no progresso prometido pela ditadura militar, ela representa os marginalizados dessa época, em uma trama que denuncia as consequências da exploração na Amazônia.
Proibido no Brasil até 1981, o filme entrou para a lista dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos, feita pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). O longa completou 50 anos em 2024 e teve uma exibição comemorativa no Festival do Rio.
Além de sua relevância histórica, o filme coleciona prêmios importantes: Festival de Brasília 1980 (Melhor Filme, Melhor Atriz para Edna de Cássia, Melhor Atriz Coadjuvante para Conceição Senna e Melhor Edição para Eva Grundman e Jorge Bodanzky); Associação de Críticos Cinematográficos de Minas Gerais 1978 (Melhor Filme do Ano em uma mostra de filmes proibidos); e conquistas internacionais como o Prix George Sadoul (Paris), Adolf Grimme Preis (Alemanha), Encomio Taormina (Itália) e o Prêmio Especial no Festival de Cannes pelo Reencontre Film et Jeunesse.
Agora com a distribuição da Gullane+, o longa segue um circuito de exibições no Brasil para resgatar a memória de um filme e sua contemporaneidade tão importante para a nossa cinematografia.
Sinopse
Um caminhoneiro que trafega pela Transamazônica, a grande rodovia do Brasil que atravessa a floresta amazônica, conhece uma prostituta e aos poucos percebe os problemas daquela região.
Ficha técnica
Iracema - Uma Transa Amazônica
Brasil, Alemanha Ocidental, França | 1974 | Drama | 91 min.
Direção - Jorge Bodanzky e Orlando Senna
Roteiro - Jorge Bodanzky, Hermanno Penna e Orlando Senna
Elenco - Paulo César Peréio, Edna de Cássia, Lúcio Dos Santos, Elma Martins, Natal, Fernando Neves, Wilmar Nunes, Sidney Piñon, Rose Rodrigues e Conceição Senna
Produção - Orlando Senna, Malu Alencar, Wolf Gauer e Achim Tappen
Direção de Fotografia - Jorge Bodanzky
Edição - Jorge Bodanzky e Eva Grundman
Trilha Sonora - Jorge Bodanzky e Achim Tappen
Direção de Arte - Orlando Senna
Companhias de Produção - Stop Film, Zweites Deutsches Fernsehen (ZDF)
Restauração - Coordenação técnica de Alice de Andrade e apoio do CTAV, Mnemosine, IMS, PUC Rio, Instituto Guimarães Rosa e Cinemateca Brasileira
0 Comentários