Foto - Priscila Prade |
Especulação imobiliária e marchinhas de carnaval temperam a comédia sobre o tal politicamente correto no Brasil. A estreia acontece dia 17 de maio
Daqui Ninguém Me Tira é uma comédia musical que traz uma mensagem poderosa por meio da história de Velvet (Alexia Twister), uma drag queen que se vê prestes a ser despejada de seu antigo barracão para dar lugar a novos empreendimentos. Escrita por Noemi Marinho, a peça aborda de forma humorada e reflexiva o conflito entre o progresso representado por Herculano (Giovani Tozi revezando com Anderson Müller), um funcionário de uma grande incorporadora, e a preservação da memória e identidade de Velvet.
Na trama, Herculano se vê dividido entre apoiar Velvet e cumprir suas obrigações profissionais, criando um embate interessante que não se resume a mocinhos e bandidos. A comédia musical explora os dois lados da história, questionando como conciliar o avanço urbanístico com a manutenção das raízes e do patrimônio cultural.
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A encenação de Neyde Veneziano se inspira nos numerosos canteiros de obras da cidade de São Paulo, estabelecendo uma analogia entre a rica memória do Teatro de Revista, simbolizada pelas exuberantes vedetes, e o gradual desaparecimento da arquitetura urbana, junto com suas histórias entrelaçadas.
Veneziano é reconhecida como uma das principais autoridades no estudo do Teatro de Revista, tendo escrito cinco livros sobre o assunto. Durante uma entrevista com Jô Soares, o apresentador fez questão de destacar que a diretora "introduziu o Teatro de Revista no ambiente acadêmico". Em 2024, após anos de estudo dedicados à figura da vedete, Veneziano faz uma afirmação provocativa em Daqui Ninguém Me Tira: "A herdeira da vedete é a drag”.
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A dramaturgia de Daqui Ninguém Me Tira é assinada por Noemi Marinho, conhecida por seu trabalho em sucessos de bilheteria como Almanaque Brasil, Fulaninha e Dona Coisa e Brasil S/A, tendo recebido reconhecimento pelos prêmios como Shell, APETESP, APCA e Mambembe. Noemi desenvolve uma narrativa com diálogos ágeis, fundamentada no embate ideológico dos protagonistas.
O grande desafio da trama foi explorar a humanidade e os princípios que motivam cada personagem, sem recorrer à dicotomia entre bem e mal. Desde o início do espetáculo, o público é levado a uma jornada eletrizante, com canções e imagens, imergindo nas motivações dos personagens, algo cada vez mais raro em tempos de polarização. Empatia é uma palavra que parece simples, mas esbanja complexidade.
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Sobre a dramaturgia de Noemi Marinho, no livro O Teatro de Noemi Marinho, Márcia Abujamra destaca: "a percepção aguda que Noemi Marinho tem de seus personagens se reflete em um diálogo ágil que surpreende o leitor-espectador pelas conclusões que sugere e, se não quisermos ser deixados para trás, nos obriga a acompanhar e participar ativamente de cada momento. Assim são as peças e os personagens de Noemi Marinho: em constante movimento." (Imprensa Oficial, 2007).
Idealizado pelo ator e produtor Giovani Tozi, Daqui Ninguém Me Tira representa a união de duas figuras femininas de extrema relevância na história do teatro brasileiro: Noemi Marinho e Neyde Veneziano. Esta colaboração resulta em um diálogo rico e significativo sobre a sensibilidade à diversidade. Marinho e Veneziano abrem-se para a escuta ativa e a troca de ideias, mergulhando em reflexões extremamente atuais sobre como promover a inclusão e a consciência social em um contexto marcado pela crescente individualidade e solidão nas grandes metrópoles.
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O espetáculo não apenas diverte, mas também busca provocar o espectador a refletir sobre questões essenciais da sociedade contemporânea, como a importância de valorizar e respeitar a diversidade em todas as suas formas. Tozi desenvolve sua pesquisa de doutorado sobre Jô Soares na Unicamp, por intermédio de uma pesquisa sobre o humor. Nela, o ator se aprofunda em teorias contemporâneas sobre a comicidade e de que forma os atores podem desenvolver e aperfeiçoar as formas de provocar o riso no público. Questionado sobre o porque dessa vontade em fazer o público rir, Tozi cita Jô Soares: “só o humor pode salvar o Brasil".
Daqui Ninguém Me Tira mergulha nas tensões geracionais e ideológicas, buscando inspiração no caos urbano para criar uma fusão entre marchinhas de carnaval e hits da música pop, refletindo os fragmentos de um passado já distante. A presença da banda ao vivo estabelece o ritmo de um bloco de carnaval fora de época, mas também anuncia o desfecho inevitável. Trágico e cômico o musical é um ensaio sobre nossa capacidade (ou falta dela) de conviver com o outro, e a inabilidade de lidar com os conflitos que permeiam as relações humanas.
Sobre o texto de Noemi Marinho
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Sobre as atualizações em relação à primeira versão do texto, Noemi diz: “Velvet agora, ainda que filha espiritual do glorioso Teatro de Revista, é sangue novo pulsando futuro. Tem brilho próprio, além do cosmético, naturalmente. E a empresa que Herculano representa está ainda mais voraz e audaciosa”. De acordo com a autora, “o texto original dramatizava um pouco a audácia e a ganância das incorporadoras. A realidade, mais uma vez, superou a ficção: todos temos uma rua ou um bairro do coração que já está destruído ou ameaçado. A ficção agora só pontua”.
Ficha técnica
Daqui Ninguém Me Tira
Direção - Neyde Veneziano
Texto - Noemi Marinho
Argumento - Giovani Tozi
Elenco - Alexia Twister e Giovani Tozi
Trilha Sonora - Rafael Passos
Piano - Rafael Passos
Sopro - Rafaela Penteado
Cenário e Figurino - Fábio Namatame
Iluminação - Domingos Quintiliano
Direção de Vídeo - Matheus Luz
Assistente de Direção - Pedro Machitte
Administração Financeira - Carlos Gustavo Poggio
Produção Executiva - Felipe Calixto e Nayara Rocha
Assistência de Produção - Bruno Tozi
Assessoria de Imprensa - Fernanda Teixeira e Macida Joachim | Arteplural
Assessoria Jurídica - Martha Macruz de Sá
Direção de Arte Gráfica, Produção e Idealização - Giovani Tozi
Realização - Tozi Produções Artísticas, CG Educação e Arte
Serviço
Daqui Ninguém Me Tira
Temporada - de 17 de maio a 28 de junho - sextas-feiras
Horário - 19h
Duração - 75 minutos
Local - Teatro Sabesp Frei Caneca
Endereço - R. Frei Caneca, 569 - 2º andar - Consolação - São Paulo
Capacidade - 600 lugares
Ingressos - de R$ 30,00 a R$ 80,00
Venda de ingressos online aqui
Classificação - 12 anos
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