Foto - Bel Pedrosa |
Gente de Bem é um convite para quem está à procura de uma peça atual que trata de assuntos da mais alta relevância social. O espetáculo fica em cartaz até o dia 18 de dezembro no Teatro III do Banco do Brasil do Rio de Janeiro e traz seis histórias do livro Necrochorume e outros contos, de João Ximenes Braga, um dos mais importantes escritores da televisão brasileira.
A Cia. Comparsaria Teatral apresenta, pela primeira vez, um texto do autor para o teatro - são histórias retiradas literalmente da publicação de 2021, que retratam personagens e situações típicas da classe média branca brasileira. O resultado mostra crônicas de nossa época, escritas a quente, como apontamentos sobre absurdos registrados pelo autor no dia a dia, seja observando situações, diálogos, atitudes, o preconceito, os atavismos, o racismo, a homofobia e o conservadorismo das pessoas.
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No elenco, além da diretora Adriana Maia, que também é atriz, mais 12 atores: Alexandre Damascena, Ana Achcar, Anna Wiltgen, Camí Boer, Dadá Maia, Gilberto Goés, José Ângelo Bessa, Mariana Consoli, Miguel Ferrari, Pamela Alves, Stefania Corteletti e Xando Graça.
“Quando vi um ensaio de Gente de bem, recorte de seis dos trinta contos de Necrochorume, fiquei surpreso com a teatralidade e o humor que a companhia descobriu nessa prosa. Os dois contos que fecham o espetáculo, porém, me deixaram apavorado. A companhia lhes trouxe tamanha virulência que eu não conseguia deixar de pensar que, em outros tempos, toda a trupe seria presa logo na noite de estreia .Graças a muita luta, não vivemos em outros tempos, mas nestes. Por outro lado, a peça não nos deixa esquecer que os outros tempos continuam na coxia, esperando sua deixa para entrar em cena. E nos aniquilar”, ressalta João Ximenes Braga.
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“As histórias construídas por Ximenes nos obrigam a olhar a sordidez humana sob o ponto de vista do opressor, e é preciso encarar esse opressor, só assim encontraremos caminhos possíveis para desconstruir a branquitude”, observa Adriana Maia.
A diretora aposta numa teatralização construída a partir da performance do ator-narrador - um recurso cênico do teatro épico contemporâneo, que permite ao ator transitar entre o ato de narrar e o jogo da representação, assumindo por vezes a função de personagem-narrador, e outras vezes de narrador-personagem - , que se coloca como um veículo de passagem entre texto e espectador. Ele manuseia a matéria-prima, que são as ideias, as situações e os sentimentos contidos no texto, e dá a ela uma forma incompleta, como se fosse uma escultura inacabada, que contém a proposta de várias formas diferentes e então entrega a escultura inacabada ao público para que ele possa, a partir de sua percepção pessoal, concluir a obra.
Confira no vídeo abaixo cenas do espetáculo:
Gente de Bem - Sinopse das cenas e elencos
Urina
Rio de Janeiro, hoje. Um prédio respeitável no canal do Leblon. Apenas 8 unidades, uma por andar. A chegada de um novo proprietário na cobertura - um chef conhecido na sociedade - vem perturbar a paz e o sossego anteriormente vigentes no edifício. As obras de reforma da cobertura e os preparativos para a festa de casamento do chef passam a figurar como objeto das reuniões de condomínio, onde o embate se dá entre os direitos do chef - nunca presente às reuniões - e o desejo de proibição das obras de instalação de uma jacuzzi. A situação atinge maiores graus de conflito quando se descobre que o casamento na cobertura se celebraria entre dois homens.
Elenco - Xando Graça (Sr. Ranulfo, o síndico), Anna Wiltgen (esposa do Sr. Ranulfo), Gilberto Góes (Sr. Pondé), Alexandre Damascena (Sr. Laurentino), Ana Achcar (Sra Mirela), Mariana Consoli (Porteiro), José Ângelo Bessa (Giovani), Miguel Ferrari (namorado de Giovani), Stefania Corteletti (arquiteta), Pamela Alves (advogada de Giovani) e Dadá Maia (juíza
Café
Paraisópolis, São Paulo, 2019. Naquele domingo Clara, uma mulher solitária moradora do Morumbi, cujo filho tinha desmarcado o tradicional almoço dominical, resolve ir almoçar no café onde habitualmente se sentava entre o pilates e a missa das seis, para lidar com a frustração com o abandono filial. Uma vez no estabelecimento, Clara ouve a notícia da intervenção da polícia na comunidade de Paraisópolis, resultante no assassinato de nove moradores. O ambiente do café se torna tenso, com diferentes clientes debatendo agressivamente sobre o episódio - uns contra e outros a favor - o que vem a perturbar o precário equilíbrio de Clara, medicada contra distúrbios emocionais e ansiedade. Ela é colocada em um taxi, cujo rádio repercute o massacre, o que aumenta a crise. Apenas a chegada ao elevador do prédio onde morava tem o condão de baixar a adrenalina que atravessava a atormentada Clara. Já na segurança de seu lar, Clara respira, é invadida por uma súbita sensação de felicidade e então toma notas no seu caderno.
Elenco - Camí Boher (escritora), Anna Wiltgen (Clara), Pamela Alves (atendente), Mariana Consoli (jovem), Miguel Ferrari (jovem e motorista de Taxi) e José Ângelo Bessa (homem com roupa de academia)
Uísque
Rio de Janeiro, hoje. Na varanda de seu apartamento situado no Jardim de Alah, ponto nobre que divide Ipanema do Leblon na zona sul do Rio de Janeiro, Álvaro observava o mendigo que se banhava impunemente nas águas do canal do Jardim. O homem de pele preta usava calções largos e suas vergonhas ficavam expostas várias vezes durante o banho. Naquela noite Álvaro e a mulher Nilce receberiam o filho para jantar, acompanhado de sua namorada de pele preta com quem, Álvaro suspeitava e temia, o filho intencionava se casar. Uma mocinha insolente. Confirmadas as suspeitas, Álvaro procura em uma garrafa de uísque a solução para os tormentos que lhe afligem a alma.
Elenco - Xando Graça (Álvaro), Dadá Maia (Nilce, esposa de Álvaro), Miguel Ferrari (Daniel, o filho), Pamela Alves (Juliana, a namorada) e Gilberto Góes (garçom)
Esgoto
Flamengo, Rio de Janeiro. Num prédio no bairro do flamengo Sonia Maria e Izabela, duas mulheres muito diferentes, são unidas pelo esgoto. Sonia Maria é uma antropóloga do Museu Nacional, um tanto tímida e um tanto desesperançosa. Izabela é uma saltitante filha de militar. Um vazamento no esgoto do apartamento de Sonia Maria, pinga no apartamento de Izabela e o resultado é uma aproximação improvável entre essas duas mulheres. Izabela destila ódio e inveja. Já Sonia Maria se retrai na sua desesperança.
Elenco - Ana Achcar (Izabela), Dadá Maia (Sonia Maria) e Adriana Maia (esgoto - voz)
Asco
Brasil, 2016. Época de Aécio, Eduardo Cunha, Michel Temer; de palavras empoladas importadas do inglês - talvez como uma irônica impressão digital das origens da arquitetura do golpe - para justificar a destituição ilegal de uma presidenta da república, ocorrida ao arrepio da lei; época de Rodrigo Janot, Joaquim Barbosa, Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e da Lava Jato. É neste cenário que o jornalista Izaiah, herói trágico dessa história, enfrenta o embate ético-político com seus colegas de redação, seus patrões no jornal, a sociedade com a qual é obrigado a interagir, e por vezes se submeter, para garantir o pagamento em dia da pensão de suas duas filhas.
Elenco - Alexandre Damascena (Isaiah), Camí Boher (Lima Barreto), Gilberto Góes (Leopoldo), José Ângelo Bessa (Fernando Luís Caputo), Xando Graça (Ricardo Oberman) e Pamela Alves (viúva de Isaiah)
Coro - Ana Achcar, Anna Wiltgen, Dadá Maia, Mariana Consoli, Miguel Ferrari, Stefania Corteletti
Soro
No interior do Brasil. Numa fazenda em algum lugar do interior do Brasil uma proprietária de terras recebe em sua casa a visita inesperada de uma fiscal do trabalho acompanhada policiais policiais. Foram averiguar uma denúncia de trabalho escravo. Num embate entre a vítima escravizada e a algoz, impropérios são ditos demonstrando o modo de agir e pensar de pessoas que exploram outras pessoas.
Elenco - Mariana Consoli e Stefania Corteletti se revezam nos dois papéis
Sobre João Ximenes Braga
Carioca, jornalista, escritor e roteirista, João Ximenes Braga foi colunista do jornal O Globo, escrevendo crônicas sobre Nova York, cidade onde morou por quatro anos. No retorno ao Brasil passou a escrever sobre cultura e comportamento. Como roteirista escreveu, juto com Claudia Lage, a novela Lado a Lado - Prêmio Emmy Internacional de Melhor novela de 2013. Escreveu também como colaborador Paraíso Tropica e Insensato coração novelas de Gilberto Braga e Ricardo Linhares. Em 2021 Publicou o livro de contos Necrochorume pela editora 7 letras. Desse livro foram extraídos os contos encenados em Gente de Bem. Em 2010 Publicou A Dominatrix Gorda, pela editora Rocco. A exemplo de grandes cronistas como Lima Barreto e João do Rio, João Ximenes Braga fez da urbe tema de suas crônicas em A Dominatrix Gorda, para falar não apenas do Rio, mas também de Berlim, Londres, Viena, Nova York e São Paulo. Outros livros publicados: Porra (editora Objetiva - 2003), Juízo (editora 7 letras - 2005) e A mulher que transou com o cavalo e outras histórias (editora Língua Geral - 2009).
Ficha técnica
Gente de Bem
Direção - Adriana Maia
Texto - João Ximenes Braga
Elenco - Adriana Maia, Alexandre Damascena, Ana Achcar, Anna Wiltgen, Camí Boer, Dadá Maia, Gilberto Goés, José Ângelo Bessa, Mariana Consoli, Miguel Ferrari, Pamela Alves, Stefania Corteletti e Xando Graça
Direção Musical - André Poyart
Cenografia e Objetos - Cia Comparsaria Teatral
Figurinos (colaboração) - Nello Marrese
Iluminação - Anderson Ratto
Designer Gráfico - Cristina Resende de Almeida
Assessoria de Imprensa - Alexandre Aquino e Cláudia Tisato
Direção de Produção - Dadá Maia
Uma produção de Ciranda de 3 - Trupe Produção e Comparsaria Teatral
Serviço
Gente de Bem
Temporada - até 18 de dezembro
Horário - sexta, sábado e segunda, às 19h e domingo, às 18h
Duração - 80 minutos
Local - Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro - Teatro III
Endereço - Rua Primeiro de Março, 66 - Centro - Rio de Janeiro (RJ)
Capacidade - 86 lugares
Ingressos - R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia)
Vendas na bilheteria do teatro ou no site aqui
Classificação - 14 anos
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