Após 16 anos da morte da poeta Marly de Oliveira (1935-2007), representante da terceira geração modernista, o leitor brasileiro poderá conhecer mais de sua produção, ora reunida em Um feixe de rúculas, livro inédito deixado pela autora, organizado por Cecília Scharlach e publicado pela Editora Unesp.
A obra, que revela poemas excepcionais, conta com o último texto escrito por Nélida Piñon, pouco antes de viajar para Portugal, onde veio a falecer - um testemunho de seu convívio com Marly de Oliveira, Clarice Lispector e Cecília Meirelles. Um ensaio erudito de Alberto da Costa e Silva insere e analisa a poesia de Marly de Oliveira ao lado dos grandes de seu tempo. A organizadora descreve as condições em que este livro se fez, com a contribuição de muitos, ao longo de 15 anos.
“Era uma escritora única, mas o Brasil foi ingrato com ela. Marly, porém, resignou-se ante essa implacável indiferença. Seu coração, afinado com nossas precariedades, sabia bem interpretar nossos dissabores, de que matéria fomos forjados. [...] Tornou-se uma erudita. Uma filha de Vico e de Dante”, afirmou Nélida e o provam os poemas em italiano, apresentados por Ungaretti em uma emissão da RAI, nos anos 1960, e pela primeira vez publicados em versão bilíngue neste livro.
Segundo o poeta, ensaísta, diplomata e grande historiador da África, Alberto da Costa e Silva, “Há poetas que se confessam. Como Antonio Nobre. Como Drummond. Como Robert Lowell. Poetas em que são frequentes as alusões a terras, pessoas, leituras, acontecimentos e experiências do presente e do passado. [...] Ninguém escreve fora da vida. E há quem escreva, como Marly de Oliveira, sobre sua vida. Sem disfarces”.
Cecilia Scharlach anota que sua última antologia foi organizada em 1997, por João Cabral de Melo Neto, que identifica em Marly a capacidade de “construir tanto o poema longo, como o poema curto, sempre mantendo alto nível intelectual, nunca aquela penúria verbal de que se queixava José Guilherme Merquior nos poetas mais jovens de hoje”.
Sobre a autora
Foto - Divulgação |
A poeta brasileira Marly de Oliveira nasceu em 11 de junho de 1935, em Cachoeiro de Itapemirim (ES) e faleceu no Rio de Janeiro, em 1º de junho de 2007. Sua poesia filia-se à terceira geração do Modernismo. Foi também professora universitária de língua e literatura italiana, assim como de literatura hispano-americana. Foi casada com o diplomata Lauro Moreira, com quem teve duas filhas, e mais tarde com o poeta João Cabral de Melo Neto, de quem organizou a obra completa, em 1994, para a Nova Aguilar.
Estreou ainda muito jovem, recém-saída da Universidade, com o livro Cerco da Primavera, vencedor do Prêmio Alphonsus de Guimaraens, do Instituto Nacional do Livro, e saudado com entusiasmo por críticos como Alceu Amoroso Lima e Antônio Houaiss, e poetas como Manuel Bandeira, Cecília Meireles e o italiano Giuseppe Ungaretti. Com o passar dos anos, embora tendo publicado quinze novos livros e recebido vários outras destacadas distinções, como o Prêmio Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras, a obra de Marly de Oliveira foi cedendo lugar junto à mídia e ao público leitor.
Escrevendo sobre ela em 1989, Antônio Houaiss lamentava que, em vista das sérias deficiências no ensino da língua portuguesa no Brasil, poucos seriam os leitores que saberiam situar-se nesses seus escritos. Mas arrematava convicto que “tempos virão em que isso se alcançará. E Marly de Oliveira - poeta por ora de poetas - será poeta de todos nós, que a leremos emocionados e gratos pela coragem e beleza que esparziu no nosso mundo”.
Ficha técnica
Um feixe de rúculas
Autora - Marly de Oliveira
Organização - Cecília Scharlach
Tradução dos poemas em italiano - Maurício Santana Dias
Textos complementares - Nélida Piñon, Alberto da Costa e Silva e Cecília Scharlach
Editora - Unesp
Páginas - 135
Preço - R$ 30,80 (e-book) e R$ 36,31 (impresso)
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