A contribuição dos italianos no campo da fotografia, desde as experimentações de Leonardo da Vinci e Giambattista della Porta até seu pleno florescimento, foi crucial e ampla. No Brasil da segunda metade do século XIX, em particular, tal protagonismo se confirmou e os italianos foram verdadeiros pioneiros da oitava arte.
Engenheiros, exploradores, comerciantes, artistas plásticos, projecionistas, da Amazônia ao Rio Grande do Sul, da Paraíba ao Rio de Janeiro, da Bahia ao Pantanal, os fotógrafos-migrantes vindos da Itália distinguiram-se pelo talento artístico ímpar e pela qualidade técnica de suas obras.
Como forma de mergulhar no olhar desses precursores, nasce o livro Italianos detrás da câmera: trajetórias e olhares marcantes no florescer da fotografia no Brasil, lançamento da Editora Unesp apoiado pelo Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro e pela Embaixada da Itália no Brasil. A edição, ricamente ilustrada, oferece aos leitores textos em português, italiano e inglês.
“Este livro nos revela, a partir das biografias e das obras de nove artistas da imagem selecionados pelos curadores Joaquim Marçal Andrade e Livia Raponi, a grandeza e a excelência da contribuição italiana à história da fotografia brasileira. Tal colaboração, porém, ainda é desconhecida pela maioria das pessoas e certamente mereceria uma atenção renovada também por parte dos especialistas no tema”, anota, na apresentação, o embaixador da Itália no Brasil, Francesco Azzarello.
“Se é possível contar com certo número de estudos relativos à imigração italiana no Brasil em seus principais fluxos e diretrizes socioeconômicas, consideramos que pode e deve ser ampliado o campo das pesquisas acadêmicas sobre os chamados ‘imigrantes de exceção’, personagens que chegaram ao país geralmente de forma individual e, nos mais diversos campos da arte, do espetáculo, das letras e das ciências humanas e naturais, contribuíram para desenhar a fisionomia de um Brasil independente. Trata-se da arte fotográfica no Brasil em uma fase de florescimento inicial e também de consolidação, incentivada e alimentada com competência e dedicação pelo primeiro fotógrafo brasileiro, o imperador d. Pedro II”.
Os estudos de Livia Raponi e Joaquim M. Andrade oferecem preciosas informações sobre a prática profissional dos nove fotógrafos, como a atuação itinerante em busca da clientela rarefeita em tempos escravagistas, marcados pela enorme concentração de renda nas mãos de uns poucos. Ou, já no período republicano, a alternância entre a fotografia e o cinema, como no caso de Nicola Parente, pioneiro da exibição cinematográfica na cidade de Paraíba (atual João Pessoa) em 1897. No conjunto, esse nonaedro fotográfico italiano que descobriu o Brasil por intermédio das suas câmeras em muito contribuiu para que brasileiros também descobrissem o país, até então terra desconhecida para os próprios habitantes.
“O mais louvável em Italianos detrás da câmera é a vontade de fazer justiça a pioneiros esquecidos ou pouco reconhecidos, em uma espécie de ‘justiça cármica’, com a vantagem suplementar de enriquecer a bibliografia sobre o tema e fornecer preciosos subsídios para o estudo da fotografia no Brasil, país que se singularizou nesse campo na América Latina durante o período imperial”, escreve, no prefácio, Pedro Karp Vasquez.
“A presença italiana na fotografia brasileira foi, e continua sendo, de tão grande importância que é uma felicidade ver sua vertente inicial celebrada neste Italianos detrás da câmera. A todos os fotógrafos pioneiros aqui reunidos e aos responsáveis pela realização do projeto em si, só nos resta expressar nosso mais sincero e profundo: grazie mille!”
Sobre os organizadores
Joaquim Marçal Ferreira de Andrade é servidor aposentado da Biblioteca Nacional, onde atuou por 42 anos, tendo chefiado a Seção de Promoções Culturais, a Divisão de Fotografia, a Divisão de Iconografia e a Biblioteca Nacional Digital. Coordenou o projeto de resgate das fotografias da coleção “D. Thereza Christina Maria”, doadas pelo imperador d. Pedro II à instituição e hoje inscritas no Registro Internacional do Programa Memória do Mundo, da Unesco. Mestre em design e doutor em história social, é professor agregado (licenciado) do Departamento de Artes & Design da PUC-Rio. Curador de exposições, perito judicial em fotografia e artes gráficas e autor de ensaios sobre a história da fotografia, das artes gráficas e do design.
Livia Raponi é diretora do Istituto Italiano di Cultura do Rio de Janeiro e adida cultural junto ao Ministério das Relações Exteriores da Itália desde 2003. Licenciada em Ciências Políticas pela Universidade de Florença e em Mediação linguístico-cultural pela Sapienza de Roma, é doutora em Letras pela USP, tendo desenvolvido pesquisa interdisciplinar sobre Ermanno Stradelli. Com base neste trabalho, foi idealizadora de diversas exposições fotográficas de cunho antropológico apresentadas no Brasil e na Itália, e organizadora do livro A única vida possível. Itinerários de Ermanno Stradelli na Amazônia. Possui ampla experiência de curadoria de exposições de arte e eventos interculturais, desenvolvida no âmbito do seu trabalho de promoção da língua e da cultura italiana.
Ficha técnica
Italianos detrás da câmera: trajetórias e olhares marcantes no florescer da fotografia no Brasil
Organização - Joaquim Marçal Andrade e Livia Raponi
Tradução - Livia Raponi e Vittorio Cappelli
Editora - Unesp
Páginas - 208
Preço - R$ 154,00
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