Pesquisador da Cinemateca Brasileira mergulha na vida e na obra de Alfredo dos Anjos


Jair Leal Piantino ilumina a história de um cineasta que provavelmente tem a mesma saga de tantos outros que ajudaram a construir as bases da cinematografia brasileira

Ao colocar o conta-fios sobre os fragmentos em nitrato silencioso do filme O Brasil maravilhoso, o então catalogador da Cinemateca Brasileira, Jair Leal Piantino, deu início a sua confessa obsessão de trinta anos: o filme e seu idealizador, o cineasta Alfredo dos Anjos.

O resultado dessa busca incessante por reconstituir, por um lado, o trabalho fílmico e, por outro, as muitas faces que compunham o cineasta por trás da obra, é materializado em Alfredo dos Anjos: viajante e cineasta luso-brasileiro, lançamento em coedição da Cultura Acadêmica – selo da Fundação Editora da Unesp - e da Sociedade Amigos da Cinemateca.

“O texto sobre Alfredo dos Anjos que o leitor tem nas mãos, e que lerá com prazer, foi escrito por um pesquisador do cinema brasileiro cujo nome talvez não seja tão familiar aos pertencentes ao meio, mas que será lembrado por aqueles que começaram a trabalhar no período pré-­internet, quando tudo tinha que ser concretizado por meio do auxílio do papel, ou seja, o trabalho de pesquisa se fazia com o auxílio de fichas, catálogos e acervos documentais fisicamente instalados”, anota, no prefácio, José Inácio de Melo Souza.

“Jair Leal Piantino começou como auxiliar na biblioteca, mas, como muitos outros nesses tempos de glória, ‘suor e lágrimas’, passou por diversos setores, colaborando naquilo em que seus conhecimentos podiam influir de alguma maneira. Depois, especializou-se em sua área original, documentação e biblioteconomia, encerrando sua fase de coringa. O que persistiu foi a obsessão por Alfredo dos Anjos e seu O Brasil maravilhoso”.

Ao longo de oito capítulos fartamente ilustrados com imagens da produção cinematográfica do cineasta, além de três anexos, Piantino se debruça sobre a trajetória de um dos grandes “cavadores” do cinema nacional.

“Alfredo dos Anjos é um exemplo paradigmático dos cavadores que enxameavam o cinema brasileiro nos anos 1920. É claro que eles não se definiam dessa maneira. O apodo veio por outras mãos, com os ideólogos de um cinema de ficção brasileiro de estúdio, com características de uma confecção em tudo bebida em Hollywood”, explica o autor.

Alfredo dos Anjos nasceu em Portugal, em 1880, e veio para o Brasil por volta de 1911, trabalhando para patrícios no Rio de Janeiro com importação de louças, ladrilhos e equipamentos sanitários. “Seu desejo não era ficar atrás de um balcão cofiando os bigodes, um lápis atrás da orelha e criando pança até ser chamado de ‘comendador’”, comenta Piantino.

Seu espírito irrequieto levou-o a se tornar um vendedor viajante e, em suas andanças, produziu os posteriormente designados filmes de cavação: com imagens de segunda categoria, mal filmadas e rapidamente lançadas nos cinemas, ou seja, fora dos padrões hollywoodianos.

“Ao direcionar sua lupa para os fragmentos do filme, tornando-os uma espécie de palimpsesto, Jair Leal Piantino ilumina a história de um realizador que provavelmente tem a mesma saga que muitos outros ‘cavadores’ que ajudaram a construir as bases da cinematografia brasileira”, registra nas orelhas do livro José Francisco de Oliveira Mattos. “O autor se encanta e nos fascina com este Alfredo dos Anjos: viajante e cineasta luso-brasileiro, realçando desse homem sua mais expressiva característica, a de ser um sonhador”.

Sobre o autor

Jair Leal Piantino é pesquisador e bibliotecário aposentado da Cinemateca Brasileira.

Ficha técnica
Alfredo dos Anjos: viajante e cineasta luso-brasileiro
Autor - Jair Leal Piantino
Editora - Cultura Acadêmica
Páginas - 422
Preço - R$ 66,75
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