Clássico da antropóloga Mary Douglas mergulha nas simbologias que regem as diferentes sociedades



Seria possível buscar um substrato comum às diferentes culturas onde há regularidades no
sistema?

“O título deste livro parece conter uma contradição”, propõe a antropóloga inglesa Mary Douglas em seu monumental Símbolos naturais: explorações em cosmologia, lançamento da Editora Unesp. Afinal, “a natureza precisa ser expressa em símbolos; a natureza é conhecida por meio de símbolos, que são, eles próprios, uma construção sobre a experiência, um produto da mente, um artifício ou produto convencional, portanto, o oposto do natural. Também não faz sentido falar em símbolos naturais, a não ser que a mente tenda, de algum modo natural, a usar os mesmos símbolos para as mesmas situações. Essa questão foi explorada com profundidade ao longo do tempo e a existência de símbolos naturais é rejeitada. Um símbolo só possui sentido em sua relação com outros símbolos dentro de um padrão. O padrão dá o sentido. Portanto, nenhum item do padrão pode ter sentido em si mesmo, isolado do restante”.

A partir dessa ideia, então, pode-se dizer que cada “símbolo natural” carrega, pois, um significado social, e cada cultura estabelece suas leituras desta significação. Entretanto, seria possível buscar um substrato comum às diferentes sociedades? Ali onde se encontram regularidades no sistema, pode-se esperar encontrar os mesmos “sistemas naturais” de símbolos, sistemas recorrentes e identificáveis nas diferentes culturas? Mary Douglas reflete a respeito de que questões como essas, envolvendo desde o significado social do corpo até a cosmologia religiosa.

Para Mary Douglas, alguns ritualistas planejam alcançar a espontaneidade, enquanto outros almejam coordenação. Os rituais não acontecem isoladamente: “se quisermos explicar por que alguns deles são extáticos e outros não, precisamos falar sobre comparações entre organizações e seus objetivos”. É isso o que sua análise se propõe a fazer. Segundo a antropóloga, “a ideia do Sagrado perigoso e poderoso de fato é criada ao vivermos juntos e ao tentarmos nos coagir mutuamente a correspondermos a uma ideia moral. Mas o Sagrado também pode estar gravado nos corações e nas mentes dos adoradores de mais de uma maneira: há diversos tipos de religião”.

De acordo com Fiona Bowie, antropóloga da University of Bristol, as ideias de Mary Douglas continuam vívidas e atuais, e ganharam espaço em disciplinas além da antropologia: “deveriam continuar a ser leitura obrigatória para todos os estudantes de religião e sociedade”, assegura.

Sobre a autora

A britânica Mary Douglas (1921-2007) foi uma das mais célebres antropólogas da contemporaneidade. Autora de diversos livros, a exemplo de Pureza e perigo e deste Símbolos naturais, inscreveu seu nome entre os expoentes da antropologia social. A influência de seus estudos, no entanto, não esteve circunscrita à antropologia, tendo gerado debates em diversos campos do conhecimento.

Ficha técnica
Símbolos naturais: explorações em cosmologia
Autora - Mary Douglas
Tradução - Priscila Santos da Costa
Editora - Unesp
Páginas - 333
Preço - R$ 70,82
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