Centro de Pesquisa Teatral do Sesc-SP inaugura a coleção digital do espetáculo Fragmentos Troianos

Cena de 'Fragmentos Troianos' (1999). Foto - Paquito

'Fragmentos Troianos' foi a primeira de uma série de peças gregas onde Antunes Filho queria explorar a voz e o corpo na interpretação de tragédias. A coleção contém elementos cênicos que remetem a campos de concentração e se propõem a dialogar com as guerras dos tempos passados e presentes

Já está no ar mais uma edição das Coleções e Acervos Históricos CPT_Sesc com itens do acervo CPT. A peça selecionada dessa vez é 'Fragmentos Troianos', que está disponibilizada na plataforma Sesc Digital para acesso gratuito (clique aqui).

Foto - Bob Sousa

Com imagens do figurino criado pelas artistas Jacqueline Castro Ozelo, Joana Pedrassolli Salles e Cibele Álvares Gardin, além de peças gráficas e outros itens que retratam o espetáculo, a nova coleção contém elementos cênicos que evocam um cenário de guerra, de campo de concentração nazista, reforçando a luta e a perseverança contra o “mal”.

Foto - Bob Sousa

'Fragmentos Troianos' é a primeira de um ciclo (não-oficial) de adaptações de tragédias gregas realizada pelo CPT - junto com Medeia e Antígona. Em comum, apresentam mergulhos no universo feminino - todas com mulheres como protagonistas - e um processo de criação focado na busca do que Antunes chamou de a sonoridade trágica, uma forma de interpretar tragédias no palco. A pesquisa vocal e corporal buscou radicalizar a voz que se usa no cotidiano, conferindo à interpretação mais dramaticidade para retratar o sentimento (e o sofrimento) dos atores.

Foto - Bob Sousa

A peça é uma adaptação do texto 'As Troianas', escrito por Eurípedes em 415 a.C. que retrata o final da Guerra de Tróia a partir de arquétipos femininos, os ciclos de fertilização, geração e morte.

Foto - Bob Sousa

A adaptação do texto realizada por Antunes segue seu pensamento de que, mesmo ao se trabalhar textos clássicos, a encenação deve dialogar com tempos presentes. Assim, parte-se da Grécia Antiga para refletir sobre o horror em todos os tempos, sejam eles as guerras da Iugoslávia, o nazismo ou massacres nacionais como o de Carajás (PA) e o da Candelária (RJ).

Foto - Bob Sousa

Como marca cenográfica, a peça explicita um afastamento da grandiloquência de Drácula e Outros Vampiros (de 1996). O cenário corrobora com a imagem da guerra por meio de projeções enquanto busca uma aproximação do minimalismo de cenografia e figurino, uma forma de deixar o impacto na atuação, na construção da tragédia com a sonoridade trágica.

Antes de estrear no Teatro Sesc Anchieta em 1999, o espetáculo, com direção de Antunes Filho, apresentou-se em Shizuoka (Japão) e em Istambul (Turquia) - a cidade turca fica a 30 minutos de distância do local onde 'As Troianas' foi concebida por Eurípedes.

As coleções

Figurinos de 'A Hora e vez de Augusto Matraga' (1986). Foto - Bob Sousa

A coleção digital de 'Fragmentos Troianos' junta-se a outras três, que permanecem online para serem visitadas a qualquer instante no Sesc Digital. A primeira, lançada em setembro, é 'A Pedra do Reino' (2006), sobre a encenação de Antunes e do grupo Macunaíma, com base na obra de Ariano Suassuna.

Em outubro, foi disponibilizada a mostra sobre 'A Hora e vez de Augusto Matraga' (1986), baseada em conto de Guimarães Rosa. A peça marcou o encontro de Antunes com Raul Cortez e foi definida pelo ator como um marco em sua carreira.

'Xica da Silva' (1988) ganhou coleção em novembro. Protagonizada pela atriz Dirce Thomaz, a peça foi fundamental na trajetória e evolução do grupo com o uso da cenografia como elemento narrativo, mais do que simples recriação realista de um espaço, era parte efetiva na criação de significados no relacionamento com atores e texto.

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