Estatísticas de 2018 dão conta de que, a cada hora, cerca de três crianças ou adolescentes são abusados sexualmente no Brasil; os maus-tratos notificados, por sua vez, ultrapassaram 85 mil casos em 2017. Diante desses números, há ainda que se considerar que, quando uma criança ou um adolescente é vítima de abuso, os reflexos vêm nas diversas formas de desajustes na família, interferindo no desenvolvimento e nas relações. A indignação provocada faz pensar: de que maneira agir para identificar os possíveis casos e se antecipar a eles?
Depois de se dedicar à pesquisa do tema, lidando com famílias em situação de vulnerabilidade há três décadas, a psicóloga Marlene Magnabosco Marra adaptou uma metodologia internacional às características brasileiras para definir um protocolo de enfrentamento aos profissionais que atuam na área. O resultado está no livro Cuidado vigilante - Intervenção psicossocial com famílias em situação de maus-tratos e violência sexual (Editora Ágora).
A base do trabalho é o cuidado vigilante (CV), abordagem criada pelo psicólogo Haim Omer e adotada com sucesso em vários países. Além do CV, a autora recorre a pressupostos teóricos e metodológicos como resistência não violenta, pensamento sistêmico e construcionismo social. Para facilitar a aplicação do protocolo, utiliza técnicas do psicodrama, por exemplo o duplo, e o recurso do ego auxiliar.
O resultado prático das intervenções pode ser acompanhado em relatos no livro, subsídio fundamental para profissionais e estudantes das áreas de assistência social, saúde, educação e psicologia, assim como para equipes de Centros de Referência de Assistência Social (Cras), Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas), programas de prefeituras e escolas, entre outras.
No processo de redobrar a atenção ao menor sinal e de aprimorar os tratamentos, Marlene Marra destaca a importância da convivência, da valorização do diálogo e de cuidados ao promover a verbalização do sofrimento como procedimentos eficazes. “Não adianta tratar a criança, se a família não for tratada. Para tanto, toda a rede de especialistas precisa combinar técnicas em benefício da recuperação da criança e da família”, afirma a autora.
Nesse contexto, Marlene Marra propõe ações que envolvam os agentes para reverter os impactos desses abusos, como rodas de conversas, workshops e outras abordagens de aproximação. Se, de início, as famílias chegam ressabiadas e temerosas, aos poucos o entendimento se instala e o medo dá lugar ao diálogo e à ressignificação de histórias. Utilizando os conceitos aprendidos durante os atendimentos, pais, filhos, avós e apoiadores constroem uma nova relação, baseada no cuidado, na presença e na esperança.
Sobre a autora
Marlene Magnabosco Marra é psicóloga. Doutora em Psicologia Clínica e Cultura pela Universidade de Brasília (UnB), com doutorado‑sanduiche na Universidade de Tel Aviv (Israel), é professora e pesquisadora associada plena da UnB. Psicoterapeuta de casal e família pela Associação Brasileira de Terapia Familiar (Abratef), é psicodramatista, professora e supervisora pela Federação Brasileira de Psicodrama (Febrap). Coeditora da Revista Brasileira de Psicodrama, é autora de Conversas criativas e abuso sexual (Ágora, 2016) e coautora de 11 livros, publicados pela mesma editora.
Ficha técnica
Cuidado vigilante - Intervenção psicossocial com famílias em situação de maus-tratos e violência sexual
Autora - Marlene Magnabosco Marra
Editora - Ágora
Páginas - 120
Preço - R$ 30,72
Para mais informações e comprar clique aqui
0 Comentários