Eu, Estatística faz protesto cênico contra a LGBTQIAPN+fobia

Foto - Rafa Marques

Espetáculo mescla música, dados reais, denúncia e emoção. 
Com texto e atuação de Maciel Silva e direção de Fellipe Calixto, estreia dia 31 de maio no Teatro Casa de Artes SP

Num palco cru, com apenas um microfone, molduras vazias, luz âmbar e trilha musical, Eu, Estatística é mais que um monólogo. É um protesto cênico contra a LGBTQIAPN+fobia e o apagamento da saúde mental nessa comunidade.

Escrita e protagonizada por Maciel Silva, a peça é construída a partir de dados do Ministério da Saúde e da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) mesclando depoimentos reais de pessoas LGBTQIAPN+ com a trajetória ficcional de um jovem gay que tenta sobreviver à ignorância de uma sociedade adoecida. No centro do palco, um corpo, uma voz, e uma urgência: não virar mais uma estatística.

“Estava pesquisando saúde mental da população LGBTQIAPN+ quando fui alvo de uma agressão verbal homofóbica nas ruas de São Paulo. Aquilo me despertou. Ri na hora, mas a dor ficou. Decidi transformar a pesquisa em arte com função social, e nasceu essa peça”, explica o autor e ator Maciel Silva. “É um tema que não se esgota. A violência continua, desde questões de emprego, saúde mental, violência parental, violência dos órgãos públicos, entre outros. As estatísticas continuam. Precisamos reagir”.

A trama gira em torno de Estatística, um ex-suicida que virou voluntário no CVV. Ele atende ligações de pessoas em sofrimento, até que o próprio passado bate à porta: seu pai homofóbico e doente precisa morar com ele. Essa convivência forçada dispara gatilhos e o personagem entra em colapso, lutando para não ser engolido pelos mesmos fantasmas que jurou combater.

Foto - Rafa Marques

“Este não é o primeiro texto em que atuo e escrevo, mas considero o mais importante, por causa do tema abordado e porque me vejo na personagem principal. Então, está sendo um desafio diferenciar o que sou eu autor/ator do personagem”, afirma Maciel. “Às vezes, as emoções se misturam. Mas é um desafio que encaro com muita alegria, pois estou protegido por uma equipe que me apoia e me acolhe para poder contar essa história”.

Na direção, Fellipe Calixto optou por radicalizar a simplicidade para amplificar a força do conteúdo e valorizar a interpretação do ator em cena. “O texto do Maciel já traz muitos direcionamentos. A missão foi respeitar isso com delicadeza e impacto. O monólogo pede poucos elementos cênicos. O assunto é pesado e precisava de espaço para ressoar”, explica o diretor. “As molduras vazias em cena representam as vítimas da LGBTfobia. O cenário é uma caixa onde o personagem transita com suas dores. Tudo foi pensado para não distrair a plateia do essencial: o humano em cena”.

A obra também costura diferentes linguagens - música, dança, teatro documental - e emociona sem perder a potência do grito. A presença em vídeo da atriz Nany People, referência na luta por visibilidade trans, amplia o alcance simbólico e político do espetáculo.

Sinopse

Foto - Rafa Marques

Estatística é um voluntário no Centro de Valorização da Vida. Um dia, quando esteve à beira do suicídio, encontrou acolhimento naquele espaço - e decidiu retribuir. Desde então, dedica-se a atender ligações de pessoas em crise, oferecendo a mesma escuta que um dia o salvou. Vive hoje uma "vida normal", lidando com os desafios cotidianos de uma pessoa LGBTQIAPN+, entre dores e conquistas silenciosas. Mas tudo muda quando seu pai - um homem rude, marcado pelo preconceito, e agora gravemente doente - precisa morar com ele. A presença paterna desperta traumas adormecidos, e Estatística entra em nova recaída. Os fantasmas do passado voltam à tona. Agora, ele terá que enfrentá-los de frente. Entre dados, relatos e vivências de quem sobreviveu à dor do suicídio e da violência, Estatística mergulha numa jornada íntima de reconstrução. Acostumado a salvar vidas do outro lado da linha, ele se vê diante de uma pergunta urgente e dolorosa: quem vai salvar a sua vida?

Ficha técnica
Eu, Estatística
Direção - Fellipe Calixto
Texto e Atuação - Maciel Silva
Participação em Vídeo - Nany People
Direção Artística - Felipê Aguiar
Trilha Sonora ao Vivo - Ivan Alves
Produção Executiva - Mayra Messias e Lucas Lima
Assistência de Produção e Administração - Clau Pereira e Roberta Viana
Design de Luz - Rony Vieira
Cenário - Allex Duran
Figurino - Gerard Paes
Design Gráfico e Redes Sociais - Chico Tomaz
Contrarregra - Chico Araújo

Serviço
Eu, Estatística
Temporada - de 31 de maio a 29 de junho
Horário - sextas, às 21h, sábados, às 20h e domingos, às 18h
Local - Teatro Casa de Artes
Endereço - Rua Major Sertório, 476 - Vila Buarque - São Paulo
Capacidade - 100 lugares
Ingressos Sociais - R$ 20,00
Venda de ingressos na bilheteria e online aqui
Classificação - 16 anos

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