Enterro (1959) - Candido Portinari. Foto - Cortesia Coleção Jones Bergamin |
A partir dos anos 1930, mais precisamente após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), países econômica e socialmente vulneráveis passaram a ser denominados subdesenvolvidos. No Brasil, artistas reagiram ao conceito, comentando, se posicionando e até combatendo o termo. Parte do que eles produziram nessa época está presente na mostra Arte Subdesenvolvida, no Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo. A entrada é gratuita mediante retirada do ingresso na bilheteria ou pelo site aqui.
O conceito de subdesenvolvimento durou cinco décadas até ser substituído por outras expressões, entre elas países emergentes ou em desenvolvimento. “Por isso o recorte da exposição é de 1930 ao início dos anos 1980, quando houve a transição de nomenclatura, no debate público sobre o tema, como se fosse algo natural passar do estado do subdesenvolvimento para a condição de desenvolvido,” reflete o curador Moacir dos Anjos. “Em algum momento, perdeu-se a consciência de que ainda vivemos numa condição subdesenvolvida”, complementa.
A exposição, com patrocínio do Banco do Brasil e BB Asset Management, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, apresenta pinturas, livros, discos, cartazes de cinema e teatro, áudios, vídeos, além de um enorme conjunto de documentos. São peças de coleções particulares, dentre elas dois trabalhos de Candido Portinari. Há também obras de Paulo Bruscky e Daniel Santiago gentilmente cedidas pelo Museu de Arte do Rio - MAR.
Destaques
Um sanduíche muito branco (1966) - Cildo Meirelles. Foto - Cortesia do artista |
Obras de grande importância para a cultura nacional estão presentes na exposição. Entre os destaques, estão duas instalações: a obra Sonhos de Refrigerador, do artista Randolpho Lamounier. O trabalho apresenta um grande volume de objetos que materializam sonhos de consumo de pessoas ouvidas na Praça da Sé, em São Paulo.
“A materialização dos sonhos terá diversas formas de representação, que incluirão desde desenhos feitos pelas próprias pessoas entrevistadas, objetos da cultura vernacular e elementos da linguagem publicitária”, conta o artista. “Posso enumerar até o momento: neons de LED, letreiros digitais, monitores de vídeo, pelúcias, infláveis, banners e faixas manuscritas”, completa.
A instalação ocupa todo o vão central do CCBB São Paulo e, como explica o curador, “faz uma reflexão, a partir de hoje, sobre questões colocadas pelos artistas de outras décadas”. Outra obra de destaque na mostra é Monumento à Fome, produzida pela vencedora da Bienal de Veneza, a ítalo-brasileira Anna Maria Maiolino.
Ao todo mais de 40 artistas e outras personalidades brasileiras tem obras expostas na mostra, entre eles: Abdias Nascimento, Abelardo da Hora, Anna Bella Geiger, Anna Maria Maiolino, Artur Barrio, Candido Portinari, Carlos Lyra, Carlos Vergara, Carolina Maria de Jesus, Cildo Meireles, Daniel Santiago, Dyonélio Machado, Eduardo Coutinho, Ferreira Gullar, Graciliano Ramos, Henfil, João Cabral de Melo Neto, Jorge Amado, José Corbiniano Lins, Josué de Castro, Letícia Parente, Lygia Clark, Lula Cardoso Ayres, Paulo Bruscky, Rachel de Queiroz, Rachel Trindade, Solano Trindade, Regina Vater, Rogério Duarte, Rubens Gerchman, Unhandeijara Lisboa, Wellington Virgolino e Wilton Souza.
O Subdesenvolvimento em décadas
Seja Marginal, Seja Herói - Hélio Oiticica. Foto - Projeto Hélio Oiticica |
Arte Subdesenvolvida ocupa quatro pisos do CCBB SP, incluindo o subsolo, e está dividida por décadas. O primeiro eixo, Tem gente com fome, apresenta as discussões iniciais em torno do conceito de subdesenvolvimento. “São de 1930 e 1940 os artistas e escritores que começam a colocar essa questão em pauta”, afirma o curador.
No segundo eixo, Trabalho e Luta, há uma série de obras de artistas do Recife, Porto Alegre, entre outras regiões do Brasil onde começaram a proliferar as greves, as lutas por direitos e melhores condições de trabalho.
O terceiro bloco se divide em dois. Em Mundo e Movimento “a política, a cultura, a arte se misturam de forma radical”, explica Moacir. Nessa seção há documentos do Movimento Cultura Popular (MCP), do Recife, e do Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE), no Rio de Janeiro.
Já na parte Estética da Fome, também do eixo 3, a pobreza é tema central nas produções artísticas, em filmes de Glauber Rocha, obras de Hélio Oiticica e peças de teatro do grupo Opinião. “Nessa época houve muita inventividade que acabou sendo tolhida depois da década de 1960”, completa.
No subsolo fica o último eixo da mostra, O Brasil é meu abismo, com obras do período da ditadura militar e artistas que refletiram suas angústias e incertezas com relação ao futuro. “São trabalhos mais sombrios e que descrevem os paradoxos que existiam no Brasil daquele momento, como no texto O Brasil é meu abismo, de Jomard Muniz de Britto”, conta o curador.
Durante a mostra são desenvolvidas atividades especiais como visitas mediadas, lançamento do catálogo e mesa redonda com convidados para discutir o conceito de países subdesenvolvidos.
Ao realizar esse projeto, o Centro Cultural Banco do Brasil oferece ao público a oportunidade de conhecer o trabalho de artistas renomados e entender um período importante da história do Brasil por meio da arte, reafirmando seu compromisso de ampliar a conexão dos brasileiros com a cultura.
A exposição Arte Subdesenvolvida é produzida pela Tuîa Arte Produção e permanecerá aberta ao público até 05 de agosto, com entrada gratuita. Depois, a mostra circulará as demais unidades do CCBB, em Belo Horizonte (28 de agosto a 18 de novembro de 2024), Brasília (9 de dezembro de 2024 a 2 de fevereiro de 2025) e Rio de Janeiro (19 de fevereiro a 12 de maio de 2025).
Serviço
Exposição Arte Subdesenvolvida
Período - até 05 de agosto de 2024
Local - Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo
Endereço - Rua Álvares Penteado, 112 - Centro Histórico - São Paulo
Visitação - das 09h às 20h, exceto às terças-feiras.
Informações 11 4297-0600
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