No dia que completaria 98 anos, 17 de janeiro, a cantora de ópera brasileira Maria d'Apparecida, recebe a homenagem na Maison de L’Amérique Latine, em Paris, cidade onde a artista se consagrou no cenário musical.
Maria d’Apparecida foi a primeira mulher negra latino-americana a cantar na Ópera de Paris e faleceu em 2017, sem deixar herdeiros. Durante a homenagem, será feita a leitura do roteiro inédito da cinebiografia da cantora, que teve como base o livro Maria d’Apparecida: Negroluminosa Voz, da jornalista e escritora Mazé Torquato Chotil.
A adaptação da obra tem o roteiro assinado por Liliane Mutti, diretora experimentada em biografias musicais, entre elas Miúcha, a voz da Bossa Nova. "A relação entre música e cinema é indissociável. Mas especialmente para nós, brasileiras, esse encontro é muito potente, pois a nossa música é a primeira lembrança quando o assunto é o Brasil. E a Maria fez da sua voz uma ponte de união entre os seus dois países”, aponta a cineasta.
Na leitura, Maria d’Apparecida será interpretada pela atriz e cantora lírica Luanda Siqueira, Labisse ganha voz pelo ator francês Patrick Nogues e a esposa de Labisse é interpretada pela célebre atriz Cécile Moreal. Juntos, eles compõem o triângulo amoroso que atravessa o roteiro do filme, costurado por personagens como Di Cavalcanti, Frederico Fellini e Mather Luther King, que possivelmente cruzaram a vida cantora.
O elenco franco-brasileiro conta ainda com atores como Christopher Ecobichon e Alan Castelo. O longa-metragem tem previsão de chegar às telas em 2026, ano das comemorações do centenário da cantora.
Quem foi Maria d’Apparecida?
Maria d'Apparecida (1977). Foto - Mazé Torquato Chotil |
Filha de uma empregada doméstica, de pai desconhecido, Maria d’Apparecida cresceu no seio de uma família de classe média alta no Rio de Janeiro, onde aprendeu o francês e piano, o que mudaria a sua vida. Maria d’Apparecida foi também a musa do surrealista Félix Labisse, com quem manteve um longo relacionamento amoroso, com um detalhe: ele se tornaria mesmo famoso a partir dos retratos de Maria pintada em azul.
Sobre Maria d’Apparecida, o poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu: “Tua voz, D’Apparecida, é aparição/ Fulgurante, sensitiva, dramática / e vem do fundo negroluminoso de nossos corações”. A voz de Maria d’Apparecida arrebatou os palcos mais disputados da música lírica europeia, interpretando a cigana Carmen, da obra de George Bizet, antes de alcançar os palcos do Rio de Janeiro.
Suas conquistas se deram superando as injustiças sociais e o racismo estrutural. Ela foi perseguida ao ser convidada para cantar no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, tendo voltando para França onde viveu até o fim da vida. No fim da carreira, impedida de cantar ópera, se tornaria ainda a voz do violão de Baden Powell, também personagem da cinebiografia à caminho.
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