Performance Contra Xawara - Deus das Doenças ou da Troca Injusta estreia no Sesc Ipiranga

Foto - Mylena Sousa

Obra de Juão Nyn parte da cosmovisão do povo Yanomami para refletir sobre o contato entre os indígenas e o homem branco, que comumente leva à morte

Na história da América Latina, indígenas morreram ao primeiro contato com o homem branco. Por isso, o multiartista Juão Nyn criou uma performance que problematizasse as primeiras colonizações europeias e, ao mesmo tempo, mostrasse os reflexos desse momento nos dias de hoje. Nasceu assim Contra Xawara - Deus das Doenças ou da Troca Injusta, que faz sua estreia de temporada no Auditório do Sesc Ipiranga, com apresentações de 05 de janeiro a 04 de fevereiro.

Xawara é o deus das doenças na cosmovisão Yanomami. E como a aproximação entre indígenas e brancos teve como uma das consequências a introdução de várias doenças virulentas e bacteriológicas entre os seus antepassados, Nyn escolheu o nome Contra Xawara para o seu trabalho, significando contra-a-epidemia.

Para representar a divindade, o performer construiu um cocar com 120 seringas. Ao final da ação, ele propõe um escambo entre as agulhas da peça e os itens de roupas ou acessórios do público. Em um primeiro momento, esses objetos são expostos juntos no corpo do artista, em um acúmulo que não só o soterra como o transforma em uma espécie de assombração consumista.

Depois, a farsa é revelada e esses materiais ficam acomodados em uma mesa de exposição para quem quiser pegar de volta seus pertences, desequilibrando mais ainda a troca. “Eu também queria problematizar essa ideia estigmatizada de que os indígenas do passado trocaram ouro e os seus pertences valiosos por espelhinhos. Afinal, não cultuávamos os mesmos deuses, não falávamos as mesmas línguas, por que reagíramos todos iguais ao nos oferecerem esse tipo de objeto?", defende Nyn.

Foto - Mylena Sousa

Inclusive, muitas das suas obras buscam acabar com essa visão do indígena único. “Comecei a criar uma série de cocares feitos com os mais diversos itens, para mostrar que temos as nossas particularidades. Por exemplo, não existem apenas cocares feitos de penas. Na realidade, não só nem todos os povos têm cocares como eles podem ser feitos de vários materiais, como meu povo, Potyguara que usa palha de carnaúba”, acrescenta.

Por esse motivo, Juão também pensou em uma dramaturgia com ares de manifesto. “Fiz uma conexão espiritual entre os diversos povos indígenas, como se estivéssemos ligados por rios suspensos. Esses rios são uma metáfora para o mundo onírico, que é esse território que nos permite ir mais longe e não ficarmos somente sonhando com nós mesmos. Inclusive, essa é uma grande diferença em relação aos brancos, que só sonham consigo mesmos e não conseguem perceber os sinais da natureza, por exemplo”, detalha.

A performance dura entre 40 e 60 minutos. Juão Nyn adentra o espaço fazendo uma caminhada lenta. Enquanto percorre o ambiente, a musicista transvestigenere Malka Julieta executa ao vivo, no piano, a trilha sonora composta exclusivamente para o espetáculo.

Outro elemento importante para a ação é a presença de um tambor-boneco em forma de humano. A cada batucada de Nyn, esse parceiro de cena sangra. A mágica acontece porque ele é revestido pelo Bloody Bath Mat, um tapete que fica vermelho ao entrar em contato com água - um produto vendido para fãs de produções de terror.

Esse trabalho já teve apresentações pontuais no Dona Ruth: Festival de Teatro Negro de São Paulo, FIT BH e no Festival TePI - Teatro e os Povos Indígenas e, pela primeira vez, faz sua estreia em uma grande temporada, com 16 apresentações. A ação integra a programação paralela da Exposição Araetá - A Literatura dos Povos Originários.

Sobre o artista

Juão Nyn é multiartista, Potyguara, 34 anos, ativista comunicador do movimento Indígena do Rio Grande do Norte, integrante do Coletivo Estopô Balaio de Criação, Memória e Narrativa e vocalista/compositor da banda Androyde Sem Par, há 10 anos em trânsito entre RN e SP. Em 2021 lançou a dramaturgia de estreia, chamada Tybyra - uma tragédia Indígena Brasileira e está como Mestre na Escola Livre de Teatro com o terreiro Teatro Contracolonyal.

Sinopse

Foto - Mylena Sousa

Não estávamos todos nus, não cultuávamos os mesmos deuses, não falávamos as mesmas línguas, por que reagíramos todos iguais ao nos oferecerem um espelhinho? O corpo é terra, mas também pode ser Caravela. Em Contra Xawara, o ano é 2024, mas poderia ser 1492. O colonizador tem a chance de se rever no espelho que abandonou e descobrir se o próprio reflexo é igual ao de todos os outros que vieram dentro das Caravelas que são.

Ficha técnica
Contra Xawara - Deus das Doenças ou da Troca Injusta
Manifesto e Performance - Juão Nyn
Contrarregragem - Mara Carvalho
Paramentação - Mbodjape
Iluminação - Rodrigo Silbat
Trilha Sonora - Malka Julieta
Cantos em Tupi - Juão Nyn | Nhe'etimbó
Vídeo Arte - Daniel Minchoni e Flávio Alziro
Projeção Mapeada - Flávio Alziro
Operação de Áudio - Jo.mo Faustino
Assessoria de Imprensa - Márcia Marques | Canal Aberto
Cenotécnico - Enrique Casas
Produção Executiva - Wemerson Nunes | WN Produções

Serviço
Contra Xawara - Deus das Doenças ou da Troca Injusta
Temporada - de 05 de janeiro a 04 de fevereiro
Horário - sextas, às 21h30 e sábados e domingos, às 18h30
Duração - 60 minutos
Local - Sesc Ipiranga - Auditório
Endereço - Rua Bom Pastor, 822 - Ipiranga - São Paulo
Ingressos - R$ 40,00 (inteira), R$ 20,00 (meia) e R$ 12,00 (Credencial Plena)
Vendas nas bilheterias das unidades do Sesc e online aqui
Classificação - 14 anos

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