Foto - João Caldas Filho |
Desde Ossada, espetáculo de 2018, passando pelo experimento audiovisual A Árvore, de 2020, em que dirigiu Alessandra Negrini, Ester Laccava tem se embrenhado por caminhos densos e sensoriais em suas criações e direções teatrais. Em Curtume, Dias Secos Inundados de Acácia, sua nova produção como atriz e encenadora, ela segue guiando o olhar do espectador por este ângulo.
Absorvida pelo realismo fantástico, também tinge a nova peça com as cores desta corrente artística. São as camadas profundas da linguagem teatral que arrebatam a criadora. “Os arquétipos onde nós nos reconhecemos coletivamente”, comenta a artista.
Em Curtume Ester escolheu, enquanto encenadora, a memória como conceito. Num sonho as imagens podem vir desfocadas, alongadas e distorcidas. “Agora mais velha percebo que quando a criação está no meu quarto, no meu colo, mais do que guiá-los para minha experiência pessoal, ou minha opinião sobre o mundo, sobre o ser humano, prefiro que o expectador ache um espaço muito maior, mais coletivo, onde o julgamento abaixe, e a visão aumente. Mais velha, uso óculos e tenho dificuldade para focar um objeto. Quando foco, todo o entorno se desfoca, é um movimento parecido com a criação”, explica Ester.
De forma metafórica, a atriz e diretora aborda nas entrelinhas a condição primária do homem, o trabalho que arranca o couro do ser humano, segundo ela, que não tem outra opção a não ser ficar sem pele, desprotegido em estado de dor, de raiva. “Pessoas que já nascem sabendo que serão abatidas e viverão em condições sub-humanas, exploradas”. Ester gosta de ir para o palco curada, depois de ter abraçado suas feridas, como diz: “levo para o teatro minhas deformações e não hesito em mostrá-las porque vejo beleza nisso”. Fala de sua capacidade de se acalmar pelo silêncio para poder escutar o seu mar revolto, boiar e criar. “Muito da minha criatividade vem dessa menina que boia e observa”, finaliza.
Sobre o espetáculo
Foto - João Caldas Filho |
Curtume é um texto poético, que conta a história de uma mulher desde criança até a idade adulta. Ester Laccava dá vida a uma idosa que recebe em sua casa um policial que investiga a morte do dono de um curtume. A busca pelo esclarecimento das razões da morte do homem, encontrado sem pele, nos leva à narração da história de vida de uma mulher que aprende a caminhar sobre cacos de vidro.
Inspirada pelas tranças da personagem (“sinuosas como um rio, como um bote armado de urutu”), Laccava criou uma instalação no universo do realismo fantástico. “Do painel de treliça até a porta de entrada do Espaço Cênico do Sesc Pompeia são 17 metros de encontros de um tecido tingido, trabalhado, simulando um cabelo e formando uma enorme trança. Nesse ambiente entram objetos criados pela artista plástica Carla Venusa, as projeções de Mirella Brandi e a sonorização, todos os elementos organizados pela arquiteta Giulia Lacava, assistente de direção.
Ao produtor Emerson Mostacco, parceiro de anos, Ester confiou a tarefa da criação dos figurinos. “Um cara que amo, tenho identificação, ele é aquele chão de fábrica como eu. Vou do chão de fábrica até o CEO, passo por tudo, aprendi a fazer teatro assim. Eu escolho o que quero falar, traduzo por vezes, negocio os direitos, vendo e produzo o projeto, pauto, atuo”, diz ela, que produz teatro há 21 anos e fez luz de um espetáculo que dirigiu quando estava em Portugal, durante a pandemia.
Foto - João Caldas Filho |
Ao longo dos últimos 13 anos, Ester tem encontrado plena satisfação na parceria de trabalho com Mirella Brandi (“conto com ela para fazer meus vôos rasantes”), responsável pela instalação de luz do espetáculo. Com poucos objetos redimensionados no palco, Laccava apoia sua criação em um cenário minimalista. Mesclando músicas que a inspiram, a diretora conta com temas autorias de Mueptemo.
O desenho de luz de Mirella Brandi foge ao padrão da iluminação mais convencional realizada em artes cênicas. Para atingir o efeito desejado, a artista bebe na fonte do trabalho de luz utilizado no universo das instalações imersivas em artes visuais. O ambiente criado resulta da combinação de uso de equipamentos convencionais de luz de teatro - utilizados de forma diferente - junto com imagens de projeção.
“Não se percebe o que é projeção e o que é luz. A ideia é transportar o público para um mundo imaginário. O resultado é uma dramaturgia de luz que ajuda a contar a história da peça e, ao mesmo tempo, cria arquiteturas imateriais que se formam pelo espaço, transcendem o palco para atingir a plateia. O público fica imerso nesse ambiente de luz e imagem, se sente dentro da história, como protagonista, incluído na narrativa que está sendo contada e não na plateia apenas observando.
Ficha técnica
Curtume, Dias Secos Inundados de Acácia
Idealização, Cenário, Direção Geral e Atuação - Ester Laccava
Autor - Denizart Fazio
Direção de Produção - Emerson Mostacco
Ambientes Imersivos de Luz e Imagens - Mirella Brandi
Projeto de Instalação - Ester Laccava, Mirella Brandi, Carla Venusa e Giulia Lacava
Objetos da Instalação - Carla Venusa
Assistente e Operador de Luz - Sibila
Figurinos - Emerson Mostacco
Trilha Sonora - Ester Laccava com músicas originais de Mueptemo
Assessoria de Imprensa - M Fernanda Teixeira e Macida Joachim | Arte Plural
Fotos - João Caldas Filho
Identidade Visual - Giulia Lacava
Produção - Lacava Produções Artísticas e Mostacco Produções
Um projeto da Cia. Indomável
Realização - Sesc
Serviço
Curtume, Dias Secos Inundados de Acácia
Temporada - de 22 de novembro a 15 de dezembro
Horário - terça a sexta, às 20h30
Duração - 60 minutos
Local - Sesc Pompeia - Espaço Cênico
Endereço - Rua Clélia, 93 - Pompeia - São Paulo
Capacidade - 61 lugares
Ingressos: R$ 40,00 (inteira), R$ 20,00 (meia) e R$ 12,00 (Credencial Plena)
Classificação - 14 anos
Para mais informações clique aqui
0 Comentários