Foto - Netun Lima |
Depois de uma temporada de sucesso no CCBB de Belo Horizonte, o Grupo Oficcina Multimédia (GOM) apresenta a obra do dramaturgo Nelson Rodrigues Vestido de Noiva, com direção de Ione de Medeiros, no CCBB São Paulo. As apresentações acontecem até 24 de setembro, quintas e sextas, às 19h; sábados e domingos, às 17h.chega à São Paulo. Com patrocínio e apresentação do Banco do Brasil e realizado pelo Governo Federal , a montagem integra as comemorações dos 45 anos de atuação cultural ininterrupta do Grupo Oficcina Multimédia (GOM) e os 40 anos de direção artística de Ione de Medeiros.
Há exatos 80 anos, Vestido de Noiva deu início ao processo de modernização do teatro brasileiro. "A peça lida com o inconsciente e com a falta de uma ordem cronológica, o que nos desafiou a construir uma dinâmica de montagem que pudesse levar o público à compreensão destas camadas de acontecimentos e diálogos que se relacionam", diz Ione de Medeiros, diretora.
Foto - Netun Lima |
No elenco estão Camila Felix, Henrique Torres Mourão, Jonnatha Horta Fortes, Júnio de Carvalho, Priscila Natany e Victor Velloso, que se revezam nas cenas entre personagens masculinos e femininos, sem distinção de sexo, numa performance que dá continuidade à proposta de duplos e trios como no espetáculo anterior da companhia, Boca de Ouro (2018/2019). Após a temporada paulistana, o Grupo Oficcina Multimédia circula com Vestido de Noiva pelos CCBBs Rio de Janeiro, de 04 a 29 de outubro, e Brasília, de 09 de novembro a 03 de dezembro.
Sobre o espetáculo
O ponto de partida de Vestido de Noiva é a história de Alaíde, personagem que após ser atropelada por um carro em alta velocidade se vê numa mesa de cirurgia, entre a vida e a morte. A partir dessa cena se desenrola a trama que utiliza em sua dramaturgia e cenário três planos que se intercalam: o da realidade, o da alucinação e o da memória.
O plano da realidade é tratado pelo fato de Alaíde estar em uma mesa de cirurgia com diagnósticos médicos, procedimentos cirúrgicos e tensões refletidas a partir de um ambiente frio composto basicamente de cadeiras, mesas e macas hospitalares de aço inox nas cores prata, branco e preto. Um cenário com aspecto duro, gélido e higienizado que remete aos ambientes assépticos de salas de cirurgia e corredores de hospitais.
"Nas narrativas que compõem o plano das alucinações de Alaíde ela passa a debater com a enigmática Madame Clessi em busca de reconstruir sua própria identidade. Já nos momentos de memória, Alaíde se depara com sua história familiar e a conturbada relação com a irmã e o marido”, conta a diretora Ione de Medeiros, que ressalta a contemporaneidade da obra de Nelson Rodrigues e sua genialidade.
A abstração da narrativa perpassa por uma dramaturgia fragmentada e de teor intenso para reprodução da mente da personagem, entre suas memórias e alucinações. Por este argumento absolutamente inusitado, a peça traz uma perspectiva não linear e aparentemente caótica, o que foi um desafio para o GOM. No espetáculo, um narrador em vídeo conduz a história e ajuda o público a ir conectando peças como num quebra-cabeça.
“Para trazer dinamismo, misturamos vídeos com material cênico dialogando com os atores, trazendo mais riqueza para a montagem. Esses desafios tornam o processo de criação mais complexo e, ao mesmo tempo, mais vibrante e interessante de ser produzido”, relata Ione de Medeiros.
Foto - Netun Lima |
O espetáculo mantém a dramaturgia original da peça de Nelson Rodrigues, e incorpora soluções cênicas que são marcas da identidade do GOM, tais como como as movimentações de cenário e objetos "O material cênico tem rodinhas e alturas variadas, o que possibilita aos atores se posicionarem em níveis diferentes, conferindo à cena uma atmosfera de flutuação e, ao cenário, uma mobilidade fluida", explica Ione.
Além disso, a narrativa dialoga entre o texto, o vídeo, o material cênico, a trilha sonora, e as coreografias. Algumas vezes separadamente, outras com ações simultâneas. “O Multimédia tem este perfil multimeios desde sua origem, o que se define pela multiplicidade das informações na encenação, os diferentes usos do espaço, a tecnologia, a diversidade das referências para as montagens e ênfase na criatividade, sempre fiel à experimentação e ao compromisso com o risco”; relembra Ione.
Uma curiosidade é que, como o espetáculo começou a ser concebido antes da pandemia, os ensaios adentraram o período de isolamento físico de forma remota e online. "Descobrimos as infinitas possibilidades de criar cenas em vídeo usando somente os recursos que tínhamos à disposição em casa. Diante de um fundo verde, os atores gravavam as cenas usando as câmeras de seus próprios celulares. Posteriormente, editamos essas cenas e incluímos os atores em cenários diferentes, utilizando a técnica do chroma key. Gravamos os diálogos pelo Google Meet para que os atores utilizassem como guias em suas falas. A iluminação era feita com os abajures e luminárias que cada um possuía em casa, e o áudio captado pelos fones de ouvido dos celulares dos próprios atores".
A diretora, responsável pelo processo criativo, conta que diante da precariedade dos tradicionais recursos offline, foi preciso muita criatividade para criar, em vídeo, uma proposta coerente com a linguagem multimeios do GOM e sintonizada com a atmosfera rodrigueana da obra.
"No final, acredito que a concentração nesse trabalho de vídeo experimental não só serviu para aprofundarmos ainda mais a compreensão da obra de Nelson Rodrigues, como nos ajudou a atravessar a pior fase da pandemia, possibilitando adquirir novos conhecimentos de técnicas audiovisuais, o que também faz parte da proposta do GOM".
Alguns trechos gravados à época foram mantidos na montagem que chega agora aos palcos paulistanos. “Fizemos ensaios online todas as noites durante um ano e meio. Mesmo consolidando uma versão experimental da peça em vídeo, não tínhamos a intenção de apresentá-la como um espetáculo online", finaliza a diretora.
Livro de 45 anos do Grupo Oficcina Multimédia
Ione de Medeiros. Foto - Fábbio Guimarães |
Para mais detalhes sobre a trajetória do GOM, de sua diretora e a história de cada montagem, clique aqui e baixe gratuitamente o livro Grupo Oficcina Multimédia - 45 anos, de Ione de Medeiros, lançado em 2023 pelo selo Lucias da SP Escola de Teatro.
Sinopse
Vestido de Noiva é uma peça teatral de Nelson Rodrigues na qual o autor mescla realidade, memória e alucinação para contar a triste história de Alaíde. Após ser atropelada por um carro em alta velocidade, ela é hospitalizada em estado de choque. Na mesa de cirurgia, oscilando entre a vida e a morte, a mente de Alaíde visa reconstruir sua própria história, e aos poucos seus sonhos inconscientes e desejos mais inconfessáveis vêm à tona. Quem vai ajudá-la nesse processo é a enigmática Madame Clessi.
Juntando as peças desse quebra-cabeça, ela conduz Alaíde na busca pela reconfiguração de sua própria identidade. Vestido de Noiva, escrita em 1943, mantém-se atual: o que poderia parecer um drama familiar revela-se uma tragédia de alcance universal. Nessa obra, dividida em três atos, Nelson Rodrigues conta uma história a partir da análise do interior da mente da personagem, ou seja, de seu espírito, de sua psique, de sua alma.
Ficha técnica
Vestido de Noiva
Texto - Nelson Rodrigues (1943)
Direção, Concepção Cenográfica e Figurino - Ione de Medeiros
Assistência de Direção, Figurino e Preparação Corporal - Jonnatha Horta Fortes
Elenco - Camila Felix, Henrique Torres Mourão, Jonnatha Horta Fortes, Júnio de Carvalho, Priscila Natany e Victor Velloso
Elenco em vídeo - Alana Aquino, Heloisa Mandareli, Henrique Torres Mourão, Hyu Oliveira, Jonnatha Horta Fortes e Thiago Meira
Criação de Luz - Bruno Cerezoli
Coordenação de Montagem de Luz - Piccolo Teatro Meneio
Operação de Luz - Cyntia Monteiro
Concepção de Trilha Sonora - Francisco Cesar e Ione de Medeiros
Mixagem e Finalização de Áudio - Henrique Staino | Sem Rumo Projetos Audiovisuais
Operação de Trilha Sonora - Eduardo Shiiti
Vídeo - Concepção e Edição - Henrique Torres Mourão e Ione de Medeiros
Finalização de Vídeo - Daniel Silva
Citações no vídeo - Performance Ophelia, vídeo de Gabriela Greeb | Ondina, performance de Luanna Jimenes, vídeo de Gabriela Greeb | Coreografia Tango Queer - Tango Fem Buenos Aires (Nancy Ramírez y Yuko Artak)
Operação de Vídeo - Daniel Silva
Projeto Gráfico - Adriana Peliano
Fotografia - Netun Lima
Assistente de Fotografia - Yan Lessa Lema
Assessoria de Imprensa - Canal Aberto
Gerenciamento Financeiro e Prestação de Contas - Roberta Oliveira | MR Consultoria
Produção Executiva - Corpo Rastreado e Grupo Artes/Eventos Multimédia (Grupo Oficcina Multimédia)
Apresentação e Patrocínio - Banco do Brasil
Realização - Governo Federal
Serviço
Vestido de Noiva
Temporada - até 24 de setembro
Horário - quinta e sexta, às 19h, sábado e domingo, às 17h
Duração - 90 minutos
Local - Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo (CCBB SP)
Endereço - Rua Álvares Penteado, 112 - Centro Histórico - São Paulo
Ingressos - R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia)
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