Espetáculo Oroboro convoca a ancestralidade para devolver o grito a corpos pretos historicamente silenciados

Foto - Sergio Fernandes

Peça fica em cartaz gratuitamente 
no Centro Cultural São Paulo até 21 de maio, de quinta a domingo

Unindo elementos presentes em clássicos das tragédias gregas com universos do real, Oroboro reflete sobre os arquétipos dos orixás, o terreiro e os corpos dos povos originários afro-atlânticos, que foram apartados de suas tradições sendo obrigados a se moldar a uma sociedade conduzida a partir de costumes e embasamentos eurocêntricos, remoldando-se de tempos em tempos, dentro desses mesmos padrões, afastando-se cada vez mais dos fundamentos afro-atlânticos.

Uma mistura entre cruzos que além de trazer a noção da orixalidade nos corpos do cotidiano, faz nascer uma cena polifônica e antirrealista que discute, também, outras formas e conteúdso para a cena preta contemporânea. Idealizado pelos artistas Thais Dias e Jefferson Matias, o espetáculo tem dramaturgia inédita de Tadeu Renato, encenação de Felipe de Menezes e direção musical de Fernando Alabê.

“Um ponto de encontro entre o pensamento e a cena para resgatarmos aquilo que ficou preso no passado, desenterrar nossas ancestralidades e devolver o grito aos corpos pretos que foram silenciados ao longo da história econômica e social de nosso país. Buscamos trazer à cena um imaginário fora do senso comum em relação aos arquétipos dos Orixás, buscando viabilizar um espetáculo cheio de potência e um verdadeiro chamamento público para a exumação do que não foi dignamente enterrado” explica Felipe de Menezes, responsável pela encenação do espetáculo.

O espetáculo transita pelo tempo de vida de Amara, que após muitos anos de separação, reencontra seu irmão Akin e acaba estabelecendo um vínculo que traz ao presente acontecimentos do passado, como a loucura da mãe, a separação da família e os cuidados de seu tio Benin. É nesse retorno conflituoso do que parecia esquecido, que ela começa a compreender as visões vindas de outro plano que a assombram, como um pedido do mundo dos mortos.

“Assim como nas tragédias gregas, a peça lida com poderes diferentes ou superiores. Há uma discussão sobre se enredar nos poderes do mundo espiritual, para o enfrentamento contra o esquecimento da história, refletindo sobre os poderes do Capital sobre nossas subjetividades”, comenta o dramaturgo Tadeu Renato.

Em uma espécie de embate entre a estrutura clássica (tragédia grega) e elementos das culturas iorubás e bantos, a peça tem uma escolha pela forma poética dos Orikis, que são poemas-orações desses povos já citados e que tem uma estrutura própria, muito imagética e sonora, por vezes até misteriosas, apontando para uma investigação de uma estrutura mais “brasileira”, se valendo de algo comum do samba que é a repetição, em um jogo entre pergunta e resposta. Com canções originais escritas por Tadeu Renato e por Fernando Alabê em parceria com Melvin Santhana, Oroboro conta com uma trilha musical inserida na construção da cena.

“A bem de compor a dramaturgia musical ao lado de Melvin Santhana, Thiago Sonho e Jess, todo caminho sonoro foi feito a partir dos sambas, jongos, maracatus, funk, soul, spiritual, rumbas, amapiano, semba, kuduro, sabar, orikis, orins, aduras, angorossi, sassanhas, loas e lundus em instrumentos de couro, metal e cordaoamentos convencionais e digitais em nosso Eletro-Xirê. Onde dubsteps, ragga e hip hop se infiltram e são permeados pelos movimentos da palavra e do corpo, atrelados a um conceito de “Modernidade Preta Atemporal”. Toda a nossa ancestralidade é vanguarda e dá os contornos do caminho musical, apoiado no conceito ioruba nagô no qual nossos odus (destinos), dispostos de forma espiralar, estão integrados ao universo. Exú é a boca e o sentido/caminho avante, nas encruzilhadas que são nossas propostas, inclusive nas fusões musicais como passos e elementos que se completam a criar novas possibilidades de elevar as tradições e ao mesmo tempo trazer novidades", comenta Fernando Alabê que assina a direção musical.

A peça integra o Projeto Desvelando Encruzilhadas, contemplado pela 15º Edição do Prêmio Zé Renato de Teatro da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. A Cooperativa Paulista de Teatro integra a realização em parceria com o Plataforma - Estúdio de Produção Cultural, responsável pela produção do projeto.

Sinopse

Foto - Sergio Fernandes

Amara vem sendo assombrada por visões que não consegue comunicar a outras pessoas. Ao reencontrar seu irmão Akin, depois de muito anos de separação, ela estabelece um vínculo que traz ao presente acontecimentos do passado, como a loucura da mãe, a separação da família e os cuidados de seu tio Benin. É nesse retorno conflituoso do que parecia esquecido que ela começa a compreender suas visões como um pedido do mundo dos mortos. A peça se enreda em tempos e mitos cruzados, com referências à mitos sobre orixás diversos e tragédias gregas clássicas.

Ficha técnica
Oroboro
Elenco - Jefferson Matias, Thais Dias e William Simplicio
Dramaturgia - Tadeu Renato
Encenação - Felipe de Menezes
Elenco Musical - Fernando Alabê, Jess, Melvin Santhana e Thiago Sonho
Direção Musical - Fernando Alabê
Direção de Cena - Camila Andrade
Práticas Corporais Somáticas - Erika Moura
Orientação Vocorporal - Luciano Mendes de Jesus
Concepção de Iluminação - Carolina Gracindo
Concepção de Cenário - Lívia Loureiro
Concepção de Figurinos - Su Martins
Direção de Produção e Produção Financeira - Fernando Gimenes e Plataforma - Estúdio de Produção Cultural
Produção Executiva - Catarina Milani
Produção de Redes Sociais e Assistente de Produção Financeira - Jeniffer Rossetti
Registro Fotográfico - Sergio Fernandes
Designer Gráfico - Murilo Thaveira
Assessoria de Imprensa - Luciana Gandelini
Cenotécnico - Zé Valdir
Intérpretes Libras - Gabrielle Martins, Erika Motta e Janah
Imersão Prática Cruzos - Mônica Aduni e Daniela Beny
Encontros Públicos Cruzos - Leda Maria Martins, Dione Carlos, Luiz Rufino e Daniela Beny
Idealização e Coordenação Artística - Jefferson Matias e Thais Dias
Apoio - Casa Livre e Cia do Pássaro, Vôo e Teatro

Serviço
Espetáculo Oroboro - Projeto Desvelando Encruzilhadas
Temporada - até 21 de maio
Horário - quinta a sábado às 21h e domingo às 20h
Duração - 90 minutos
Local - Centro Cultural São Paulo - Sala Jardel Filho
Endereço - Rua Vergueiro, 1000 - Paraíso - São Paulo
Capacidade - 321 lugares
Entrada Gratuita
Classificação - 16 anos

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