Foto - Jefferson Pancieri |
Segunda peça da trilogia de pesquisa da Tô em Outra Cia. de Teatro sobre Teatro Grego e Periferia, Guerra de Papel - uma tragédia urbana musical é o novo espetáculo do grupo de repertório do Jaguaré, na zona oeste de São Paulo. A temporada acontece entre 09 de setembro e 1º de outubro na Sala Carlos Miranda - Complexo Funarte São Paulo.
Em Guerra de Papel a Tô em Outra Cia. de Teatro - sempre na estética do teatro musical - transporta o mito de Antígona para a contemporaneidade e retrata o luto. A reflexão proposta passa pelo precário ensino público brasileiro e o genocídio dos negros, principalmente em escolas periféricas, consequência do combate entre polícia e traficantes. Na primeira peça da trilogia, (Das Ruas, um Orfeu de Mochila) o grupo adaptou o mito de Orfeu e Eurídice, celebrando o amor.
Enquanto na mitologia grega, a figura de Antígona - filha do casamento incestuoso de Édipo e Jocasta - é aquela que tenta enterrar seu irmão, na peça da companhia ela é a personagem central, a mulher negra na luta para descobrir quem tirou a vida de seu filho Aramiz, morto em consequência de uma bala perdida dentro da sala de aula. Depois da tragédia com o filho, Antígona estampa o rosto do menino nos jornais, camisetas e em sua janela, gritando em sua comunidade, fazendo sua própria guerra.
Foto - Jefferson Pancieri |
“Queremos falar sobre as mortes nas periferias, sempre invalidadas pela mídia e pela polícia, que nunca realiza uma investigação séria para encontrar o culpado. Tipo o que vemos com o caso Marielle Franco. Um caso famoso, de uma vereadora periférica, pessoa pública, até hoje sem conclusão”, comenta o Diretor Geral Jorge Alves.
Os mitos colaboram na compreensão das relações humanas e ajudam a ampliar nosso entendimento sobre o mundo e nós mesmos. Eternos, estão presentes na vida de cada ser humano, que é um pouco Deus e herói de sua própria história. A mulher na obra é muito presente. A professora, a irmã e a mãe, três mulheres que tiveram seus pensamentos e sentimentos revirados por uma criança que teve sua vida interrompida.
Também retratada na peça, Ismênia, irmã de Antígona, é a mulher que perdeu o sobrinho de forma brutal, uma pessoa que tenta amenizar o peso da saudade e a da insatisfação da vida, tanto dela quanto de sua irmã Antígona. Se sente impotente, não encontra força em seus braços para segurar a irmã e mesmo com esse sentimento, ela está o tempo todo pensando na sua família.
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Regida pelas lembranças do filho, Antígona sente cada vez mais raiva da justiça dos homens e espera encontrar paz na justiça divina. A professora abre a narrativa com uma conversa sincera com Deus, tentando buscar as respostas para os questionamentos que não encontra nos mortais. A morte do filho leva Antígona a repensar o futuro dos alunos e buscar outra forma, por meio do ensino, para tornar seus alunos seres pensantes e realizadores.
“Escolhemos contar essa história para mostrar uma realidade que, infelizmente, ainda é muito presente. A lei natural da vida é que os filhos enterrem seus pais, mas sabemos que o destino inverte de forma cruel os papéis. A peça é dura, assim como a vida da minoria-maioria da população”, comenta o ator Jorge Alves.
A Tô em Outra Cia. de Teatro se consolida pelo trabalho no âmbito de pesquisa em teatro grego e épico. Em Guerra de Papel, a proposta do grupo é pesquisar a interpretação dos atores a partir da técnica do dramaturgo e encenador alemão Bertold Brecht, Gestus, forma de interpretação do texto a partir do corpo.
Esse processo de interpretação pressupõe um método de construção de fora para dentro sem que os artistas se envolvam emocionalmente com as personagens. Como no teatro épico, a proposta é o distanciamento do ator perante a personagem. Além, de inserir características de interpretação do teatro grego, como corpo e voz ampliados. Jorge destaca a presença do coro como essencial para a montagem, visto que Guerra de Papel, de acordo com ele, é uma manifestação. “E manifestação, para ter uma força maior, é feita pelo coletivo. Ele tem destaque na relação com o público, não raro quebrando a quarta parede”.
Foto - Jefferson Pancieri |
A ação se passa em uma escola, que pode ser uma casa ou espaço público. Os figurinos cumprem dupla função no espetáculo, com composições de peças cotidianas com uniforme escolar. Cada peça tem características únicas de cada personagem, assim, buscando transparecer a personalidade de cada um e realçando texturas e cores para imprimir a ideia de individualidade dentro de um coletivo.
A iluminação acompanha as movimentações dos atores no palco e em suas pontuais áreas de atuação. É composta, quase que em sua totalidade, por retas que remetem aos diversos caminhos e escolhas feitas pelos personagens durante a trama. Sem variações de cores, a luz cria espaços realistas e lúdicos. Possui variações de movimentos, acompanhando o acelerado ritmo das cenas e dos personagens, o que dá à obra uma dinâmica ágil e juvenil, como o próprio texto.
Ao vivo, quatro músicos estão em cena com direção musical e arranjos de Paulo Henrique Costa. A criação musical tem inspiração em gêneros como samba e funk, ritmos presentes nas periferias. Os atores cantam suas angústias para o público.
Sinopse
Contornado pelo mito de Antígona, a peça trata da tragédia que ocorre todos os dias nas periferias do Brasil, das balas encontradas em corpos e corpos perdidos. Guerra de Papel é a luta para se ter uma identidade. “Se nascemos, se temos nossas certidões, por que querem nos tirar e entregar uma certidão de óbito? Apagar nossos nomes, nossas histórias, é uma guerra para nos mantermos vivos”.
Ficha técnica
Guerra de Papel - uma tragédia urbana musical
Direção Geral - Jorge Alves
Elenco - Mayara Tenório (Antígona), Thayna Rodrigues (Ismênia), Claudine Palhàres (Professora), Cinthia Tomaz (Ensamble), Mariana Sancar (Favela e Ensamble), Renan Marques (Ensamble), Uédia Alves (Ensamble) e Vittor Oliver (Ensamble)
Texto - Andreza Rodrigues e Thuane Campos
Letras - Andreza Rodrigues, Jorge Alves, Leo Matheus, Paulo Henrique e Thuane Campos
Músicas - Jorge Alves, Leo Matheus e Paulo Henrique Costa
Arranjos Musicais - Paulo Henrique Costa, Leo Matheus e André Laitano
Direção Musical e Regência - André Laitano
Direção de Movimentos e Coreografias - Gustavo Medeiros
Músicos Instrumentistas - André Laitano (Piano e Teclas), Julio Lino (Baixo), Matheus Araújo (Violão e Cavaquinho) e Tunuka (Percussão e apoio vocal)
Coach e Preparação Vocal - Thais Rodrigues
Figurino - Gabriela Araújo
Cenário - Heron Medeiros
Assistente de Direção - Andreza Rodrigues
Assistente de Produção - Thuane Campos
Design de Luz e Operação - Fernando Ferreira
Sonorização - Radar Sound
Assessoria de Imprensa - M. Fernanda Teixeira e Macida Joachim | Arte Plural
Programação Visual - Agência Artprint
Produção - Tô em Outra Produções Culturais
Realização - Tô em Outra Cia. de Teatro
Serviço
Guerra de Papel - uma tragédia urbana musical
Temporada - de 09 de setembro a 1º de outubro
Horário - sexta e sábado, às 20h e domingo, às 19h
Duração - 65 minutos
Sessão extra - 29 de setembro - quinta-feira
Horário - 20h
Local - Complexo Funarte SP - Sala Carlos Miranda
Endereço - Alameda Nothmann, 1058 - Campos Elíseos - São Paulo (próximo ao Metrô Santa Cecília - Linha Vermelha)
Capacidade - 53 lugares
Ingressos - R$ 60,00 (inteira) e R$ 30,00 (meia)
Bilheteria abre com uma hora de antecedência (pagamento somente em dinheiro)
Venda de ingressos online pelo Sympla (clique aqui)
É exigido comprovante de vacinação na entrada do teatro, ou comprovante de teste de Covid realizado com 48h de antecedência
Classificação - 12 anos
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