Núcleo Lúcia Kakazu apresenta o espetáculo de dança Mabui

Lúcia Kakazu em cena de Mabui: ritos em meio à natureza. Foto - Suellen Leal

Mabui, na espiritualidade de Okinawa, pode ser descrito como uma pulsação, fluxo de algo não visto, que se encontra no ‘entre’. No ser humano, é a característica daquilo que o torna original, sua essência vital

Mabui, nova criação do Núcleo Lúcia Kakazu, em cartaz no jardim do Teatro João Caetano em São Paulo, pode ser definido, na espiritualidade de Okinawa, como uma pulsação, a energia vital que anima o corpo. A temporada acontece até 24 de abril com sessões de sexta a domingo. Além das apresentações, está previsto um workshop presencial, Liminaridades Ancestrais, com Lúcia Kakazu.

Fruto do mergulho em uma longa pesquisa sobre Okinawa, ilha principal do arquipélago de Ryukyu, no Japão, e sua comunidade diaspórica espalhada pelo mundo, particularmente no Brasil, a obra se aproxima de uma tradição de espiritualidade singular e viva. “O projeto nasceu a partir da pesquisa e contatos que surgiram no meu primeiro trabalho autoral que se chama Oba Nu Mun (que em uchinaguichi, língua de Okinawa, significa coisas da avó). A dança partia de aspectos documentais e das memórias da relação com a minha avó, já falecida, que imigrou de Okinawa ao Brasil após a Segunda Guerra. Ao final, iniciei um mergulho nos estudos sobre a história de Okinawa”, conta Lúcia.

Foto - Suellen Leal

Contemplado na 29ª Edição do Programa Municipal de Fomento à Dança da Cidade de São Paulo, a pesquisa levou em conta o reconhecimento, feito há alguns anos pela Organização das Nações Unidas (ONU), de Okinawa como uma etnia indígena no Japão. Em São Paulo, há uma grande comunidade, com a língua e a cultura do arquipélago ainda vivos e preservados. “Percebi os movimentos migratórios que formam essa comunidade no Brasil e passamos a observar as formas de reinvenção de uma cultura diaspórica, com forte expressividade na cidade de São Paulo”, diz a artista.

Mabui tem como recorte em sua pesquisa a espiritualidade presente nessa comunidade. Dois encontros foram decisivos para a criação: o contato com Beatriz Nagahama, Kamintyu (sacerdotisa da espiritualidade de Okinawa) e o texto “Se tornando uma xamã étnica Okinawana no Brasil - Xamanização como um processo subjetivo e criativo de re-culturalização”, autoria de Koichi Mori, que foi membro de corpo editorial da Estudos Japoneses (USP), da University of Tokyo e da Universidade de Kanagawa.

A partir disso, o Núcleo chegou a histórias das Yutás e Kamintyus, espécie de xamãs, que sustentam essa forma de culto aqui no Brasil, com incorporações, ao longo de décadas, de atualizações e hibridizações culturais entre os dois países. “Essas mulheres são as responsáveis pela manutenção dessa espiritualidade, realizam os ritos cultuando a natureza e o ambiente onde vivem, também cuidam dos processos de luto e da comunicação com o mundo dos mortos. São elas que percebem e manipulam aquilo que está no entre”, coloca Lúcia Kakazu.

Foto - Suellen Leal

A dança foi construída levando em conta essa referência sobre o "mabui" e do contato com mulheres que sustentam essas práticas rituais aqui no Brasil. Mabui, na espiritualidade de Okinawa, pode ser descrito como uma pulsação, fluxo de algo não visto, que se encontra no ‘entre’. No ser humano, é a característica daquilo que o torna original, sua essência vital. Algumas dessas mulheres o definem como sendo o próprio espírito ou uma espécie de anjo da guarda. As Yutás e Kamintyus são as que percebem, equilibram e resgatam o Mabui dentro da comunidade okinawana.

O espetáculo Mabui aborda essa prática com procedimentos de intensificação da vibração do corpo, da voz e da respiração, um mergulho nas imagens e conexões corporais que emergem a partir de um estado de escuta sensível do corpo.

Sobre o Núcleo Lúcia Kakazu

O Núcleo é composto pela bailarina Lúcia Kakazu e pelo músico Ricardo Kakazu. Em 2019 criaram o espetáculo Obá Nu Mun, que teve sua estreia no Sesc Ipiranga, integrando a programação da Mostra Sentidos (Sesc). A obra foi apresentada em diversas cidades do estado de São Paulo. No mesmo ano ganharam o prêmio ProAC Circulação em Dança, que previa apresentações por diversas cidades do interior paulista e que devido à pandemia foi finalizada de forma virtual. O núcleo se debruça na pesquisa sobre a ancestralidade de Okinawa numa perspectiva contemporânea e estreia agora Mabui - contemplado na 29ª Edição do Programa Municipal de Fomento à Dança da Cidade de São Paulo.

Sinopse

Mabui é uma pulsação que as Yutás e Kamintyus, mulheres da espiritualidade de Okinawa percebem, equilibram e resgatam. É a energia vital que anima o corpo vivo, o fluxo de algo que não se vê, algo que se encontra no entre. Para o ser humano, trata-se de uma característica definidora daquilo que é original, sua essência vital. Através de procedimentos de intensificação da vibração do corpo, da voz e da respiração, a dança faz um mergulho nas imagens e conexões corporais que emergem a partir de um estado de escuta sensível do corpo.

Ficha técnica
Mabui
Direção, Concepção e Performance - Lúcia Kakazu
Performer e Músico (Sanshin) - Ricardo Kakazu
Orientação Artística - Elias Cohen
Assistente de Direção e Fotografia - Suellen Leal
Provocação Artística - Emilene Gutierrez
Direção Musical - Victor Kinjo
Trilha Sonora - Victor Kinjo e Ricardo Kakazu
Figurino - Andreia Hiromi
Cenário - Catarina Gushiken
Iluminação - Mauro Martorelli
Aprimoramento Técnico - Beatriz Sano, Bruna Oshiro, Inês Terra e Satoru Saito
Conversas Rituais - Beatriz Nagahama, Laís Miwa Higa, Karina Satomi, Gabriela Shimabuko, Victor Hugo Kebbe e Victor Kinjo
Encontros Híbridos - Urubatan Miranda e Fredyson Cunha
Design Gráfico - Satsuki Arakaki e Shima
Assessoria de Imprensa - Márcia Marques | Canal Aberto
Produção Executiva - Mariana Novais | Ventania Cultural
Consultoria de Produção - Daniele Sampaio | SIM! Cultura
Este projeto foi realizado com o apoio do Programa Municipal de Fomento à Dança para a Cidade de São Paulo - Secretaria Municipal de Cultura

Serviço

Mabui
Com Núcleo Lúcia Kakazu
Temporada - até 24 de abril
Horário - sexta e sábado, às 19h e domingo, às 17h
Duração - 60 minutos
Local - Teatro Popular João Caetano - Jardim (área externa)
Endereço - R. Borges Lagoa, 650 - Vila Clementino - São Paulo
Entrada gratuita
Retirada de ingressos 1 hora antes do espetáculo
Obrigatório a apresentação atualizada do comprovante de vacinação (mínimo 2 doses) e uso correto da máscara
Em caso de chuva, não haverá espetáculo
Classificação - 12 anos

Workshop Liminaridades Ancestrais
Data - 12 e 14 de abril
Horário - terça e quinta, das 09h às 11h30
Vagas - 10
Inscrições aqui
Local - Teatro Popular João Caetano
Endereço - R. Borges Lagoa, 650 - Vila Clementino - São Paulo
Grátis

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