Nesta semana o documentário “Edna”, de Eryk Rocha (“Campo de Jogo”, “Transeunte”) recebeu mais duas estatuetas para sua curta e já próspera trajetória: Prêmio Menção Honrosa do Júri - na 10ª Mostra Ecofalante (Brasil), e Prêmio de Melhor Direção - FICVIÑA - Festival Internacional de Cine de Viña del Mar (Chile). Além destes, também ganhou o Prêmio Menção Honrosa Especial no Pesaro Film Festival 2021 (Itália). O filme teve estreia nacional este ano no Festival É Tudo Verdade e mundial no Visions du Réel (Suíça).
“É uma alegria ter estreado EDNA no festival internacional de Viña Del Mar, no Chile. Esse lugar tem uma importância histórica na formação e ebulição do Cinema Latino-Americano. Receber esse prêmio de melhor direção é um reconhecimento para essa equipe de criadores que inventou essa película comigo, em especial para a grande autora e poeta, Edna Rodrigues de Souza. Esse prêmio é para ela!”, celebra Eryk.
No ar no DMZ International Documentary Film Festival of South Korea (Coreia do Sul) e prestes a estrear no FICG Festival Internacional de Cine en Guadalajara in México, foi confirmado como o único representante brasileiro da competição de longas documentais do 30º Festival de Biarritz (França), que acontece a partir deste mês. Neste ano o filme já participou de dez festivais e deve anunciar novas seleções nos próximos meses. Entre eles, o renomado Telluride Film Festival, no Colorado - EUA, que habilita automaticamente o filme a se inscrever nas principais premiações estadunidenses, como o Cinema Eye Honors, Critics Choice Documentary Awards, IDA Docs e Film Independent Spirit Award.
"A estreia norte-americana de Edna no Festival de Telluride foi muito bonita e emocionante. Havia participado do festival há 10 anos atrás mostrando "Transeunte". E agora foi a primeira vez que assisti Edna em tela grande em comunhão com o público. Por conta da pandemia não pude viajar aos festivais anteriores. E o filme ganha muito impacto e potência na tela grande na experiência coletiva, emocional e sensorial da sala de cinema. Houveram três sessões do filme com debates e sinto que o público ficou muito comovido com a história e vida de Edna. As pessoas também ficaram instigadas e puderam conectar Edna com o atual contexto político brasileiro", diz o diretor.
Com olhar sensorial, poesia e política se fundem a partir do caderno de memórias e traduções de sentimentos “Histórias da Minha Vida” de Edna, a protagonista, que dá nome ao filme, carrega consigo a trajetória de luta e resistência pela terra, existência e dignidade humana. À beira da rodovia Transbrasiliana, vive essa mulher-memória guerrilheira que enfrentou a grilagem e aqueles que mandam nela na Guerra dos Perdidos (1976), inspirada pela grandiosa e devastadora Guerra do Araguaia (1967-1974). É por meio de sua prosa, que costura lembranças e dores dessa tragédia histórica no Brasil que perdura até hoje como ferida aberta e realidade diária de destruição, extinção e descaso político.
“Desde o início ficamos muito impressionados e cativados pela presença, pela voz e força do relato de Edna. Filmei esse primeiro encontro com a câmera acomodada nas pernas trêmulas. Ouvimos comovidos Edna dizer coisas tão fortes e com tanta doçura, e ao mesmo tempo com tanta dor e sofrimento. Essa conversa aconteceu em sua casa na beira da estrada na rodovia Transbrasiliana a poucos quilômetros do município de São Geraldo do Araguaia, fronteira entre Pará e Tocantins.”, conta o diretor Eryk Rocha, vencedor da Palma de Ouro de não-ficção em Cannes com o filme “Cinema Novo”.
Com argumento de Gabriela Carneiro da Cunha, que se une ao diretor e Renato Vallone na construção do roteiro, Eryk ainda reflete sobre a personagem e sua história: “Edna encarnava a terra, o corpo-terra, a luta pela terra. Imagem tão forte que permeia a história de sangue do Brasil. Ela trazia suas marcas, experiências que se entrelaçam com a tragédia histórica do Brasil que tão cruelmente tem a ver com o nosso presente. Presente de feridas abertas e questões cruciais que ainda não fomos capazes de resolver como povo. Nas palavras dela: “eu tenho medo, a guerra ainda não acabou”. Edna está certa, e o Brasil 2021 Bala-Boi-Bíblia é uma catástrofe”. O filme é uma produção da Aruac Filmes com o apoio de Cinebrasil TV e Rumos Itaú Cultural.
Sinopse
Vivendo à beira da rodovia Transbrasiliana, na Amazônia brasileira, Edna é testemunha de uma terra em ruínas construída sobre massacres. Criada apenas pela mãe, ela vivencia em seu corpo e no de seus descendentes as marcas de uma guerra que, segundo ela, nunca acabou. Por meio de seus relatos e escritos, o filme constrói uma narrativa híbrida que se move entre a realidade e o imaginário. Tudo é tecido a partir da memória de Edna e seu diário intitulado "História da Minha Vida". Uma vida de guerrilhas, desaparecimentos e desmatamentos, mas também a força das mulheres, rios e matas que insistem em sobreviver. Uma poeta transformada em olhos que apesar de verem não podem falar. Ela sonha sair dali para um lugar que não sabe aonde.
Assista ao trailer:
Ficha técnica
Edna
Brasil | 2021 | Documentário | 64 min.
Direção - Eryk Rocha
Argumento Original - Gabriela Carneiro da Cunha
Produção - Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha
Elenco - Edna Rodrigues de Souza e Antonio Maria Cabral (Carlos)
Roteiro - Gabriela Carneiro da Cunha, Eryk Rocha e Renato Vallone
Pesquisa - Paulo Fonteles Filho, Marcelo Zelic e Gabriela Carneiro da Cunha
Direção de Fotografia e Câmera - Eryk Rocha e Jorge Chechile
Montagem - Renato Vallone
Assistente de Direção - Gabriela Carneiro da Cunha
Desenho de Som - Waldir Xavier
Mixagem - Bernardo Adeodato
Som Direto - Bruno Carneiro da Cunha
Cantos e Vozes - Gabriela Carneiro da Cunha
Trilha Sonora Original - Guilherme Kastrup, Manoel Cordeiro e Ava Rocha
Correção de Cor e Finalização de Imagem - Alice Andrade Drummond
Coordenação de Pós-Produção e Masterização - Matheus Rufino
Produção Executiva - Alvarina Souza, Yana Chang, Joelma Oliveira Gonzaga e Luciano Salim
Produção de Set - Fernanda Haucke
Assistente de Produção e Motorista - Francisco Almeida de Farias
Coordenação de Pós-Produção - Margarida Serrano
Cartaz - João Marcos de Almeida e Matheus Rocha
Produção - Aruac Filmes
Produção Associada - Waldir Xavier
Apoio - Itaú Cultural e CineBrasil TV
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