Corpo em Quarentena - George Bataille e Hilda Hilst inspiram ensaio fotográfico de Priscila Prade

Foto - Priscila Prade

Exposição reúne 12 nus artísticos femininos e masculinos

No início da pandemia, morando sozinha e confinada já há alguns meses, a fotógrafa Priscila Prade leu e releu diversos livros e passou se fotografar como forma de passar o tempo e ocupar a mente. Envolvida fortemente por esse processo, teve a inspiração para a exposição e o livro Corpo em Quarentena. A mostra acontece de 04 a 10 de outubro, no Espaço Cultural Brica Braque, com entrada franca. Artesanal e de tiragem limitada, o livro de 90 páginas custa R$ 150,00. As fotos da exposição estarão à venda e o valor de cada obra vai variar conforme seu acabamento.

“Meses sozinha em casa, autoconhecimento, desejo, identidade e muita inquietação. Corpo em Quarentena surgiu de uma série de autorretratos que produzi durante o inicio do isolamento social (pandemia mundial da Covid-19). A partir dessa experiência, fui impulsionada a criar um grupo de estudos artísticos de fragmentos filosóficos e imagéticos sobre o erotismo. Propositalmente, o trabalho foi embasado na produção textual de autores renomados, de ambos os gêneros, para nortear o processo criativo do grupo, sob a ótica feminina e masculina. De um lado, Georges Battaile, o pensador do corpo. De outro lado, Hilda Hilst, em cuja obra o sexo surge como algo natural, explícito, sem tabu, como uma parte essencial do ser humano", ambos os autores são muito presentes na vida de Priscila.

Foto - Priscila Prade

“Battaile indaga o corpo de uma maneira mais direta e, de tal interrogação, propõe um modo de pensar a totalidade (paradoxalmente, afirmada como incompleta) da experiência e do espírito humanos. Hilda é transgressora na medida em que reflete um tempo ainda cheio de conservadorismo, preconceito, misoginia, homofobia, o que a torna ainda mais atual e necessária - é a voz de uma mulher, numa sociedade patriarcal e machista, a nos falar sobre assuntos muitas vezes proibidos. A literatura de Hilda trata desses temas de uma forma muito delicada, procurando a beleza no gozo, no prazer, na satisfação dos nossos impulsos animalescos, na fragilidade dos corpos humanos", completa.

Depois do estudo, as sessões de fotos

Foto - Priscila Prade

Priscila disparou pelas redes sociais um chamamento para interessados na inscrição em um grupo de estudos sobre autoconhecimento e o isolamento da pandemia. O retorno foi expressivo e imediato. Na manhã seguinte ao post, 96 interessados se apresentaram. Ela suspendeu as postagens e passou a telefonar a todos. Um a um, ligou para conversar, entender o motivo do interesse, explicar qual seria sua proposta e informar da disponibilidade de apenas 12 vagas. Priscila fez uma seleção de acordo com objetivos em comum e a aceitação de serem fotografados no final do processo.

"O grupo de 12 pessoas, selecionadas entre 96 inscritos, ocorreu durante oito meses de forma remota, por meio de encontros semanais virtuais e como resultado, produzimos em conjunto, 12 ensaios fotográficos, apresentados quase que como ‘versos; estrofes corporais’, ressignificando paixões, feridas e cicatrizes coletivas e individuais”, explica Priscila. Os encontros semanais, com duração de 120 minutos, não raro chegavam a ter quatro horas, durante esse tempo liam e debatiam trechos dos livros e ensaios prediletos da fotógrafa.

Foto - Priscila Prade

Os participantes traziam sugestões de textos também. “Do Bataille, lemos, principalmente, a obra O Erotismo e A História do Olho. De Hilda, passamos por praticamente toda sua obra poética, como também pelos clássicos A Obscena Senhora D e O Caderno Rosa de Lory Lamb. Após o término do estudo, as sessões de fotos aconteceram com base em ideias de cada um dos fotografados", completa.

A partir daí, a fotógrafa lançou mão de sua estética para abordar cada temática. Posaram para Priscila a diretora de arte Patida Mauad, o ator Clovys Torres, a atriz Érica Montanheiro, a cineasta Andrea Nero, o fotógrafo Ricardo Guzzo, a empresária Maria Eugênia, a estudante Vic Marcondes, o técnico de projeção Rafael Drodro, a artista plástica Tuca Ahlin, a produtora Patrícia Scotolo e a atriz Bia Borin, além da própria Priscila Prade.

Homens e mulheres de 20 a 62 anos

Foto - Priscila Prade

Priscila conta que os ensaios fotográficos, desenvolvidos e debatidos sempre em grupo, foram realizados em sua totalidade com pessoas de gêneros, idades e contextos diferentes (homens e mulheres de 20 a 62 anos), propondo uma reflexão sobre corpos, pudores, questionamentos e universos pessoais.

“Respeitando as orientações de saúde, as fotos foram agendadas e realizadas no meu estúdio de forma presencial, apenas com a minha presença e do fotografado, e cumprindo todos os protocolos de segurança, com distanciamento, higienização adequada e uso de álcool gel. Sobre a escolha do tema de cada ensaio e dos autores, temos uma série de estudos ligados ao erotismo colocados em pauta diante da pandemia. Ao longo da história humana, nas mais variadas civilizações, nas diversas expressões culturais e literárias ao longo dos séculos, o sexo, o desejo e o erotismo sempre estiveram presentes. Faz parte de nós, do que somos, vivemos e sonhamos. Neste momento de pandemia, o coletivo, forçadamente em quarentena, voltou-se para si. Mesmo que não quiséssemos, todos fomos obrigados a encarar a nossa singularidade, nos deparando com nossa individualidade, nossa sensualidade, ou nossa solidão em algum momento. A muitos restou apenas a si mesmos nesse período e seus próprios corpos e mentes. O questionamento então é o que fazer com esse corpo que somos?”, diz.

Priscila releva que fotografar nu é uma arte delicada. “A partir da estética escolhida, o corpo despido pode assumir diferentes imagens e acepções. Mas em todos os casos a pele crua é nada mais nada menos que a condição natural do ser humano. Ou deveria ser. Nos ensaios explorei de forma muito sensível e artística corpos nus masculinos e femininos. Corpos de todas as idades. Corpos, cheios de marcas e histórias. Corpos naturais. Me propus, por meio deste projeto, sublimar justamente esse sentimento frente ao erótico e ao nu, pois, se o nu artístico sofre alguma repressão social, ela se acentua quando a figura retratada é masculina. A nudez feminina sempre foi bastante explorada, mas o homem nu ainda é impactante para muitos. Por quê? Corpo Em Quarentena procura trazer à luz o inconsciente coletivo sobre essa diferenciação frente ao nu masculino e feminino, sobre o íntimo, sobre o proibido, e mais, sobre o tabu ou sobre o sagrado. Eu, dentro desse registro artístico, apresento minha visão de artista e de mulher, em Corpo Em Quarentena. Em uma abordagem diferente do erotismo, primeiro fotografei a mim mesma para depois, nos doze ensaios fotográficos posteriores, realizar exercícios visuais que exploram reflexões sobre o nosso trabalho. Nele, o corpo é a matéria-prima, pronto a ser recriado e exorcizado”, finaliza a fotógrafa.

Serviço
Corpo em Quarentena
Exposição Fotográfica e Lançamento de Livro
Período - de 04 a 10 de outubro
Horário - das 14h às 20h
Local - Espaço Cultural Brica Braque
Endereço - Rua Dr. Seabra, 900 - Vila Madalena - Madalena
Entrada gratuita
Reserva de horário pelo WhatsApp 11 96660-9120

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