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Katu Mirim. Foto - Divulgação/Xiaomi |
A cidade de São Paulo se caracterizou nos últimos anos por receber obras de diversos artistas, valorizando a arquitetura e história da capital. O tradicional projeto 'Giganto', assinado pela artista Raquel Brust e que tem a proposta de apresentar fotografias hiper dimensionadas para apreciação e reflexão do público em vias públicas, retorna ao centro da capital paulista com uma proposta diferente. A fotógrafa destacou as histórias de quatro mulheres empreendedoras e empoderadas que fizeram a diferença na vida de outras pessoas utilizando a tecnologia. O projeto é realizado em parceria com marca chinesa Xiaomi. A inauguração da obra ocorrerá em breve no Centro de São Paulo.
Sobre o projeto e a concepção
Idealizado por Raquel Brust, o projeto 'Giganto' nasceu em 2008. O trabalho consiste em utilizar a arquitetura da cidade como suporte para uma exposição fotográfica que reage à paisagem e interage com o público de forma conceitual. Para a definição desse novo projeto, a artista juntamente com sua equipe realizou pesquisas visando identificar mulheres que utilizaram a tecnologia para que pudessem se conectar ao mundo e transformar e ajudar as pessoas por meio de suas iniciativas.
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Maitê Schneider. Foto - Divulgação/Xiaomi |
“No momento em que não há muita conexão entre as pessoas por conta dos cuidados e zelo com a saúde, em virtude da pandemia, acredito que o 'Giganto' tenha um papel importante para que possa despertar mais empatia entre a sociedade, promovendo uma reflexão entre a obra e o espectador”, destaca Raquel.
Para a produção das fotos, Raquel utilizou o Mi 10T Pro, um dos principais smartphones da marca Xiaomi no Brasil, equipado com um conjunto de câmeras de até 108MP e sistema MIUI 12, que oferece todo o poder da fotografia computacional.
“As pessoas estão mais habituadas com as fotos via smartphone. A câmera profissional inibe mais o fotografado. O smartphone é mais amigável e o resultado pode ser melhor. O que muda principalmente é a abordagem. A relação entre o fotógrafo e o personagem. Esse laço social que se estabelece é importante para que tenhamos uma fotografia de qualidade”, ressalta a artista.
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Katu Mirim. Foto - Divulgação Xiaomi |
Para a composição da obra, foram escolhidas quatro mulheres residentes de São Paulo, com histórias surpreendentes e inspiradoras. Conheça um pouco da trajetória de cada uma:
As Trans ganham voz
Natural de Curitiba de família de classe média, Maitê Schneider tentou suicídio entre os 14 e os 16 anos por duas vezes, por não se sentir adequada. Trans e ciente de sua posição na sociedade, em 2013, juntamente com a advogada Márcia Rocha, a psicanalista Letícia Lanz e o cartunista Laerte Coutinho, criaram a plataforma Transempregos, que faz a inserção de pessoas trans no mercado de trabalho e com o maior banco de dados de profissionais transgêneros. A Transempregos já ajudou a empregar milhares de pessoas trans no mercado de trabalho formal e trabalha com 647 empresas parceiras nesse momento. Maitê é também a fundadora do casadamaite.com, o maior e mais antigo portal de diversidade no Brasil, que recebe mais de 30 mil visitantes por dia e coordenadora do Núcleo de Relações Arte e Educação do IBTE - Instituto Brasileiro Trans de Educação.
Flavia Rodrigues tem apenas 21 anos e criou o aplicativo 'Quero Trampo', que mapeia empregos para a comunidade de Paraisópolis, em São Paulo. A jovem foi escolhida para ingressar no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusett), uma conquista fantástica para o Brasil. Aos 16 anos, Flávia saiu da casa da mãe, onde morava com os outros 12 irmãos. Por conta de uma realidade difícil que a família enfrentava com problemas domésticos, a empreendedora decidiu seguir um caminho diferente. Por meio dos estudos, teve boas referências profissionais e pessoais e tornou-se voluntária no festival juvenil de Paraisópolis, para se envolver em outras iniciativas comunitárias e ampliar sua rede de referências e possibilidades. Hoje, Flávia faz marketing e pós-graduação em planejamento urbano. Coordena os Presidentes de Rua, que reúne 658 representantes de Paraisópolis, dos quais 85% são mulheres, participa da Associação de Mulheres e é educadora social da ONG União dos Moradores.
Uma tribo de diversidade
Filha de uma negra e de um indígena, a rapper e bissexual Katu Mirim chama a atenção do público pela personalidade forte ao destacar em suas letras questões de demarcação, identidade, o indígena no contexto urbano, preconceitos contra a cultura indígena e a forma como o grupo LGBT é tratado no país. Katu foi doada pela mãe para uma família branca e evangélica. Foi por meio da ajuda dos vizinhos que ela descobriu a história da família biológica. Aos 13 anos conheceu o pai dela. Foi ele quem lhe contou as origens deles, da etnia Boe-Bororo, de Mato Grosso. A partir desse resgate às origens e entender a luta da classe LGBT, Katu criou o coletivo 'Tibira', a primeira mídia do Brasil totalmente dedicada à pauta indígena LGBT. Composto por jovens de diversas etnias, como Tuxá, Boe Bororo, Guajajara, Tupinikim e Terena, o Coletivo Tibira buscar dar visibilidade às narrativas de indígenas gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transgêneros.
Da descrença ao orgulho
Dra. Larissa Cassiano cresceu na periferia de Suzano, em São Paulo, acompanhando sua mãe trabalhando como auxiliar de enfermagem, despertando assim um carinho pela área. O desejo de ser médica sempre foi reprimido por pessoas que diziam que era um sonho impossível para uma pobre negra. Aos 15 anos, Larissa conheceu a primeira pessoa que havia cursado uma faculdade pública e passou a acreditar que também conseguiria. Com uma bolsa do Prouni, Larissa ingressou na faculdade para cursar medicina. Tornar-se a primeira pessoa com diploma universitário e a primeira médica da família a definiu como referência e apoio para todos. O celular da Dra. Larissa passou a ser popular e a médica atende e acalma cada pessoa que liga ou escreve para ela. Passou a dar algumas aulas online e foi convidada pelo portal UOL para ser colunista em parceria com Jairo Bauer e Dr. Dráuzio Varella, referências nacionais da área médica. Larissa trabalha em um consultório particular, porém frequenta o SUS, além de lecionar em um curso preparatório para a área de medicina. Até hoje, ela sofre com o preconceito de pacientes que se surpreendem por serem atendidos por uma médica negra.
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Maitê Schneider. Foto - Divulgação Xiaomi |
“Estamos trazendo uma força muito feminina nesse projeto. As personagens têm esse perfil de acolhimento muito forte, pessoas que realmente prestam auxílio para o melhor desenvolvimento humano. O ponto de partida para início da pesquisa foi a tecnologia como componente da transformação social e a pesquisa nos ofertou grandes histórias. É uma forma de empoderamento que ajuda realmente a conectar as pessoas em diferentes vertentes”, conclui Raquel.
Sobre a artista
Raquel Brust é jornalista formada pela PUC-RS, especializou-se em fotografia pela UFRGS e Unisinos e, atualmente, é pós-graduada em fotografia pela FAAP. A artista atua como profissional multimídia com foco em fotografia e documentário. Desenvolveu uma linguagem híbrida entre relato e ficção, fotografia e vídeo, retratos e intervenção. Seu ensaio 'Giganto' é um exemplo de destaque entre suas experimentações. O projeto já foi exposto no Photoespaña (2014), Sesc Bertioga (2013), Sesc Santana (2012), TED@São Paulo (2012), Festival Foto em Pauta (2012, Tiradentes), Festival Paraty em Foco (2011), Mostra Sesc de Artes (2010) e Galeria Emma Thomas (2009, São Paulo).
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