O que seria um luto não legitimado?


A vida prática mostra que os lutos não são todos iguais e que há diferentes possibilidades de vivenciar as perdas, tanto aquelas que nos colocam diante da morte como as que dizem respeito à ruptura de vínculos envolvendo perdas simbólicas ou situações ambíguas. O livro '
Luto por perdas não legitimadas na atualidade', traz relatos de enlutados e de profissionais que lidam com essas vivências e peculiaridades que exigem cuidados específicos

O que têm em comum os lutos de cuidadores, de mulheres que tentam engravidar e não conseguem, de irmãos ou de quem abandona sua pátria? E o que os torna distintos? As maneiras de se lidar com as perdas e suas particularidades são o assunto tratado em 'Luto por perdas não legitimadas na atualidade, organizado por Gabriela Casellato com textos de profissionais da área e de pessoas que tiveram experiências particulares com o chamado luto não reconhecido.

O rompimento que, de diferentes formas, marca os profissionais de saúde e demais pessoas que lidam com o autismo, o câncer e a síndrome de Down tem aspectos relevantes que merecem atenção especial e única, assim como o luto masculino, o da comunidade LGBTQIA+, o dos religiosos e até o do paciente que perde seu terapeuta. E o que dizer das perdas pela pandemia da Covid-19?

Como experiência universal, todos já vivemos perdas significativas cuja elaboração não se encerra, vai se transformando. Desde a infância, os lutos são marcados pelo aprendizado de que a morte é irreversível, de que as pessoas que morrem não existem mais de forma presencial. E esse sentimento ocorre mesmo quando não há morte, em separações, mudanças de país, de cidade, de escola ou qualquer outra que provoque alterações significativas na vida.

Para abordar os temas da obra, Gabriela Casellato organizou-os em subtipos:

  • Lutos do ser
  • Lutos do estar
  • Lutos do cuidar
  • Engajamento social: do silêncio à ação
  • Os lutos de uma pandemia

Os autores de cada capítulo trazem experiências de escuta atenta e compassiva, em que julgamentos, avaliações, classificações e diagnósticos são suspensos a fim de se elaborarem as vivências.

“A vida do enlutado não é fácil, principalmente numa sociedade que exige eficiência, força, pragmatismo e felicidade a todo custo. O luto não elaborado pode gerar várias formas de adoecimento, desejo de morrer, comportamentos autodestrutivos e suicídio. O não reconhecimento desses movimentos psíquicos causa sofrimento adicional quando se exigem mudanças, superação e força. O processo de luto necessita de tempo, reclusão, introspecção; porém, a sociedade demanda rapidez e sentimentos positivos, forçando uma situação capaz de criar grandes conflitos, sobretudo no ambiente de trabalho”, diz a especialista em luto Maria Julia Kovács, professora livre-docente sênior do Instituto de Psicologia da USP, em um trecho do prefácio.

Kenneth J. Doka, PhD, referência em estudos sobre o luto e autor de Disenfranchised grief: new directions, challenges, and strategies for practice, afirma que o novo livro organizado por Gabriela Casellato é uma grande contribuição para o tema dos lutos não reconhecidos.

“O volume traz capítulos de psicólogos especializados no assunto e também textos escritos por pessoas que viveram essas perdas. Casellato não apenas expande as dimensões da perda simbólica/ambígua como aplica o conceito às especificidades da cultura brasileira, integrando teoria e intervenção. Obra obrigatória para psicólogos, educadores e todos aqueles que lidam com perdas sem o apoio e a validação de que precisam”, afirma.

Sobre a organizadora
Gabriela Casellato é psicóloga formada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC‐SP), com mestrado e doutorado em Psicologia Clínica pela mesma universidade. Cofundadora, professora e supervisora do 4 Estações Instituto de Psicologia. Cocoordenadora do curso de Especialização e Aprimoramento em Teoria, Pesquisa e Intervenção em Situações de Luto e do curso de Especialização e Aprimoramento em Intervenções Psicológicas Fundamentadas na Teoria do Apego no mesmo instituto. Organizadora do livro 'Dor silenciosa ou dor silenciada? - Perdas e lutos não reconhecidos por enlutados e sociedade' (Polo Books, 2013). Organizadora do livro 'O resgate da empatia: suporte psicológico ao luto não reconhecido' (Summus, 2015). Representante da International Attachment Network (IAN Brasil).

Ficha técnica
Luto por perdas não legitimadas na atualidade
Organizadora - Gabriela Casellato
Editora - Summus Editorial
Páginas - 264
Preço - R$ 39,99
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