![]() |
"Sem título" (final dos anos 1950) - Alfredo Volpi. Têmpera sobre tela. 69 x 103,2cm. |
Alfredo Volpi (Lucca, 14 de abril de 1896 - São Paulo, 28 de maio de 1988), um dos mais importantes pintores brasileiros, ganha enfim uma exposição retrospectiva no exterior.
O artista tem seu trabalho celebrado por Alfredo Volpi - La Poétique de la couleur (Alfredo Volpi - A poética da cor), exposição inédita que o Nouveau Musée National de Mônaco promove entre 09 de fevereiro e 20 de maio.
Trata-se da primeira individual do artista realizada em uma instituição pública fora do Brasil. Com curadoria de Cristiano Raimondi, e apoio do Instituto Alfredo Volpi de Arte Moderna e da Galeria Almeida e Dale, a mostra apresenta um conjunto cerca de 70 obras do pintor, cuja produção ainda não é devidamente reconhecida para além das fronteiras da América Latina.
“A iniciativa do Nouveau Musée National de Mônaco é educativa, bem como extremamente relevante para a preservação e divulgação da memória e produção do artista”, reforça Pedro Mastrobuono, diretor do Instituto Volpi. A colaboração entre os países também é elogiada pela diretora do museu, Marie-Claude Beaud. “A mostra não seria possível sem a contribuição do Instituto Volpi e dos inúmeros colecionadores que aceitaram nos emprestar seus trabalhos”, afirma.
A exposição traz desde paisagens rurais e urbanas dos anos 1940, até trabalhos das décadas de 1950, 60 e 70, nos quais predominam composições geométricas coloridas, como as faixadas de edifícios e suas famosas bandeirinhas.
Traçando esse amplo panorama de sua carreira, a mostra homenageia o pintor autodidata, nascido na cidade de Lucca, Itália, e que se mudou ainda criança para o Brasil. Com a família, instalou-se em São Paulo, no tradicional bairro do Cambuci, reduto paulistano da comunidade italiana.
Na juventude, Volpi foi marceneiro e entalhador, até começar a atuar como pintor decorativo de casas da alta burguesia paulistana. O ofício lhe proporcionou dinheiro suficiente para que desse vazão a seus desejos artísticos e desenvolvesse um estilo próprio. Nos anos 1930, quando começou a fazer sucesso, sua obra não podia ser enquadrada em nenhuma das vanguardas da época.
A curadoria, entretanto, reforça o impacto de grandes mestres europeus sobre a produção do pintor. Durante os anos 1940, o Brasil recebeu trabalhos de nomes como Giorgio Morandi, Henry Matisse e Paul Cezanne. O contato com esses artistas foi essencial para que Volpi remodelasse o espaço pictórico, produzindo trabalhos abstratos, numa rigorosa simplificação formal.
Essas modificações em sua obra se intensificam no ano de 1950, quando o artista viaja para a Itália. Em seu país de origem, se encanta com os afrescos em têmpera de Giotto na capela de Scrovegni, em Pádua. Na ocasião, também se interessa pelas obras dos pintores pré-renascentistas como Margheritone d'Arezzo e Cimabue. Três anos depois, recebe o prêmio de melhor pintura na segunda Bienal de São Paulo, consagrando-se como um dos grandes artistas do Brasil.
Apesar da vasta obra e de sua popularidade no País, Volpi nunca teve uma exposição individual na Europa. Seus trabalhos foram expostos na Bienal de Veneza, de 1962, e em algumas mostras em galerias. A retrospectiva em cartaz no Nouveau Musée National de Mônaco visa aproximar o grande público europeu da obra desse mestre brasileiro, que fazia questão de produzir uma arte popular e, não por isso, menos sofisticada.
O trabalho do artista também poderá ser conferido no catálogo da mostra, a ser lançado em abril. Co-publicado pela Capivara Editora (Brasil) e pela Mousse Publishing (Itália), o livro reunirá textos, em francês e inglês, do curador da exposição Cristiano Raimondi e dos críticos de arte Jacopo Crivelli Visconti e Lorenzo Mammi.
0 Comentários